Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Correr na Cidade

0.jpg

 Por Liliana Moreira:

 

… e de Vingança! Foi mesmo em modo “venho aqui para a desforra” que me inscrevi nesta prova já que no ano passado não fui feliz, sobretudo devido ao frio e à minha incapacidade de gerir a corrida nessas condições.

Curiosamente achei a temperatura mais baixa nesta edição, mas a experiência ganha-se e isso também se fez sentir. Descobri a minutos da primeira partida do dia que tinha feito "borrada" com a minha inscrição. Mesmo com o email de confirmação da inscrição na caixa de correio desde Setembro não me apercebi que ao invés dos 21k tinha-me inscrito nos 10k…mas quem é que comete erros destes?! Eu! A despassarada de serviço. Mentalizei-me que não era desta que me vingava da Meia dos Descobrimentos e que iria fazer encarar os 10k como uma oportunidade de treino rápido (pelo menos para mim!), seguindo a sequência do que tenho insistido nos últimos tempos.

 

A minutos da partida a Bo, que tinha planeado acompanhar-me durante a prova para puxar por mim, decide que devido ao que tenho dedicado à corrida e face à sua condição de saúde actual que faria mais sentido trocarmos de dorsais… assim foi, sem antes de ela me dar o aviso prévio que tinha de honrar o seu dorsal e correr mais rápido... uma coisa era certa, eu ia tentar porque afinal de contas era esse o meu objectivo. Era ela que fazia anos nesse dia e mas quem recebeu a prenda fui eu!

Assim os três estarolas dos 10k , a Ana, Bo e o Malcata, alinharam na partida, enquanto eu, a Sara (que também queria a desforra dos 21k), João e o Luís ficámos de fora a apreciar a quantidade avultada de atletas que esta prova também angariou. Dada a partida o Luís foi aquecer e já só o voltei a ver no fim… é deixa-lo seguir o seu mojo de aquecimento e colocação estratégica no pelotão que eu vou à minha vidinha!! E como João era o repórter do dia, e após uma tentativa frustrada de ir ao WC, em que me apercebi que face à dimensão da fila iria ser impossível libertar a tempo a bexiga, segui com a Sara para o aquecimento mais que obrigatório para uma manhã tão nublada e fria.

Alinhamos na nossa partida no meio de um calorzinho humano e ao fim de 2 minutos de ter sido dado o apito, do qual nem nos apercebemos, lá passamos o pórtico. Os 2 primeiros km’s para mim servem logo para separar os homens dos meninos… em que a voltinha espectáculo inclui uma subidinha simpática para contornar o Mosteiros dos Jerónimos mas com o retorno a descer até Algés até por fim passarmos novamente junto à meta. Infelizmente no início dessa subida a praça estava em obras o que congestionou a passagem dos atletas… acho que foi a primeira vez que passei por esta situação que não fosse em trail! Pior que isso foi estarem alguns separadores de plástico no meio do caminho em que uma atleta chegou mesmo a tropeçar. Felizmente não se magoou e lá seguimos caminho.

A Sara com o objectivo de retirar melhores sensações nesta distância conseguiu manter um ritmo calmo, o meu, até ao km 5. Depois de aquecer dei-lhe carta branca para seguir à vontade! Estou mais que habituada a correr sozinha e se há coisa que me aflige é ter pessoas ao meu lado em que sinto que estou a empatar. Estrategicamente foi bom para ela aquecer a sério e para mim marcar o ritmo base que queria imprimir ao longo da prova.

A partir dai lembro-me de pouco a não ser repetir para mim mesma “2:15” “2:15” “2:15”... sim, era o tempo que eu queria fazer! E não, não é nada de especial… mas era o meu objectivo! Até aos 10k a coisa correu muito bem… sem música e pouca ou nenhuma distracção ao longo do percurso a coisa foi-se gerindo… dos km 10 até ao 15 quase morri de tédio… passamos por zonas muito mortas, sem qualquer estimulo ou público, exceptuando a zona da 24 de Julho com o pessoal que ainda está a sair das discotecas com um copito a mais ou os turistas na zona da Praça do Comércio que param para apoiar. É um ponto que tenho nitidamente de melhorar: treino mental para gerir melhor estas situações.

Pelo caminho os abastecimentos foram perfeitos, incluindo zonas de água a cada 5km e 2 zonas com gel energético ou cubos de marmelada. Desta vez até fiz algo que não costumo fazer, acreditar cegamente nos abastecimentos da organização e acabei por não levar rigorosamente nada comigo. Face a situações passadas de falta de abastecimento por fazer pertencer ao ultimo terço do pelotão, criei o hábito de não ir para prova de “mãos a abanar”. Mas desta confiei e não tenho nada a apontar de negativo, bem pelo contrário, porque não só não me faltou nada como todos os voluntários com que me cruzei foram super prestáveis!

Estava eu a caminhar pela primeira vez enquanto comia uma marmelada quando junto à placa dos 15km vislumbro a Bo. “Mas que raio faz ela aqui?!” Pois bem, vinha cumprir o que tínhamos combinado previamente… depois de puxar pela Ana o que a levou a bater um PBT pessoal aos 10k, voltou para trás para me apanhar. Não há dúvida que esta miúda é uma força da natureza!!! Por esta altura já tinha as pernas a “berrar” comigo... a verdade é que treinos acima dos 10k têm sido escassos, pois tenho estado focada em criar ritmo, e apenas por desencargo de consciência, tinha feito um treino de 16km do Parque das Nações até Belém 15 dias antes, num ritmo muito mais baixo do que o que estava a imprimir na prova. Portanto entre o cubo da marmelada e a alegria da Bo lá consegui arranjar energia para me manter numa postura digna mas forçada até ao final da prova. Deixei de repetir o mantra dos “2:15” e passei para “2:20” “2:20” “2:20”

 

 

O últimos 6 km’s de prova foram feitos a custo, sobretudo devido às dores musculares, mas ao contrário do que até então era normal, com bastante à vontade em termos cardio respiratórios. Os treinos e a natação estão finalmente a dar os primeiros frutos primaveris! O sol deu o ar de sua graça e já perto da meta recebi o boost final com o incentivos dos amigos que estavam à minha espera. Tentei acelerar um pouco mas parecia que tinha troncos ao invés de pernas. Passei a meta de mão dada com a Bo, feliz por a ter ali ao meu lado pois a sua companhia no último troço foi fulcral para converter o mantra idealizado num valor real de 2h23m de prova... para quem se questiona sobre a estampa nas costas da nossa t-shirt, é isto que designamos de #crewlove.

 

Apesar de não ter sido a prestação que desejava fui finalmente feliz na Meia dos Descobrimentos e hoje não já não sinto “medo” de lá voltar!