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Correr na Cidade

Ultra Sierra Nevada: entrevista a Miguel Angél Torres


Por Tiago Portugal:

 

Já estou em modo de preparação para o dia 13 de Setembro de 2014, data em que irei participar na minha maior aventura desportiva até à data, a ascensão ao teto da Península Ibérica. Além de ser a minha estreia numa prova internacional vou poder visitar uma região que ainda não conheço.

 

Estou a falar da 1º edição do Ultra Sierra Nevada, 83 km de subida contínua, com começo na cidade de Granada, passando pelo pico Veleta, 3290 metros de altitude e finalizando na estação de esqui de Pradollano. Esta prova, conta com um desnível positivo acumulado de 5.628 metros, sendo o tempo limite para a conclusão da prova de 21 horas.  

 

O Correr Na Cidade quis saber mais e entrevistou o director desportivo da prova, Miguel Angél Torres, um dos maiores especialistas de trail em Espanha, tendo inclusive sido capitão da equipa Salomon Santiveri Outdoor Team. 

 

Esta é a 1ª edição do Ultra Sierra Nevada (USN). Porque decidiram criar esta prova?

A Serra Nevada é a maior cordilheira da Europa depois dos Alpes. É um local excepcional para desfrutar da montanha e da natureza, com um clima excepcional a maior parte do ano. Entendemos que nos encontrávamos no sítio perfeito para criar uma prova de montanha única, em que a paisagem e envolvência fantásticas e a exigência física poderiam converter este evento numa referência para o trail running europeu. 

 

Qual a diferença estre esta prova e a outras que já existem na Serra Nevada?

Esta prova é única pela distância e pelo desnível positivo, além do mais os últimos 20 km são percorridos acima dos 2.000m de altitude o que torna esta prova distinta e especial. O corredor também tem a oportunidade de iniciar a prova no centro de uma cidade histórica e maravilhosa como Granada e subir ao segundo pico mais alto da Península Ibérica. O 1º Km é corrido num espaço monumental, Alhambra, fazendo com que esta prova tenha uma união perfeita de desafio desportivo e experiência cultural.

 

O que podem os participantes Portugueses esperar da USN?

Uma paisagem espetacular, uma aventura desportiva e a oportunidade de participar num evento de alto nível, além de compartilhar com os ultrarunners espanhóis de momentos inesquecíveis.

A Serra Nevada é um local fantástico, existe algum momento da prova que se destaque?

Todo o percurso percorrido tem o seu encanto. A prova foi desenhada de maneira a que em 80% do percurso vemos o pico Veleta. É difícil destacar alguma zona em especial; cada corredor dependendo das suas características, gostos e estado de forma irá preferir uma parte a outra. 

 

Quais são as principais dificuldades desta prova?

Diria que os 83Km e o desnível. Existem poucas zonas planas o que vai obrigar os corredores a estarem constantemente concentrados. Embora a distribuição dos postos de abastecimento seja muito bom, os corredores não podem negligenciar a sua hidratação, especialmente devido à exigência de altitude na última parte da corrida.

 

O percurso da USN tem mais de 20km acima dos 2.000 metros de altitude e vai até aos 3.300 metros; tem algum conselho para correr a essa altitude? Como podemos treinar e estar preparados para esse desafio?

Essa característica vai trazer um pouco mais de dureza á prova. Existem poucos percursos com estes números. Sem dúvida que o atleta que não se prepare pode sofrer. Quando os corredores chegarem aos 2.000 m já terão percorrido 65km. Nesta altura é quando se decidem as posições finais e quem irá terminar, ser um finisher. A USN vai-se tornar um evento de prestígio, sendo que os atletas que a terminem podem estar orgulhosos. Quem quiser participar deverá levar em conta, e efectuar algum treino específico, a altitude. Este verão iremos realizar campos de treino específicos para ajudar a preparar esta parte do percurso. 

 

Que recomendações pode dar aos atletas que irão participar na USN.

Que treinem muito, tanto a parte física como a parte mental. Estudem o traçado da prova e preparem bem os momentos de hidratação e alimentação. Subir desde Granada até ao Pradollano pasando por Veleta é uma grande aventura. Se alguém quiser um verdadeiro desafio à altura das melhores corridas da Europa, não hesite em participar.

 

Em relação ao equipamento o que considera essencial para esta prova?

Como em qualquer ultra é uma questão fundamental que não deve deixá-lo ao acaso. O uso de um bom corta-vento em caso de intempéries e a utilização dos bastões para atacar a ultima subida podem ser importantes. E, como em todas as corridas, uma boa escolha de calçado.

 

Esta corrida está ao alcance de todos os corredores?

Existem distâncias para todos, 30, 65 e 83Km, assim que todos podem participar. Claro para os 83km da USN é necessário alguma experiencia neste tipo de provas, no entanto, graças ao desenho das diversas provas qualquer corredor com o mínimo de preparação pode correr a USN. 

 

 

O trail running está a crescer na Europa, porque pensa que isso está a acontecer?

A necessidade de se reaproximar da natureza e de voltar às origens. A cultura do esforço, da busca de desafios e aventuras estão a contribuir para aumentar o número de praticantes nestes eventos. E o aparecimento de pessoas como Kilian Jornet faz com que o trail seja visto como uma forma de vida e um exemplo a seguir.

 

O USN está limitado a mil atletas, visto que é perto de Portugal, está à espera de muitos participantes portugueses?

Claro que sim. Esperamos ter uma boa aceitação no nosso país vizinho. É uma boa oportunidade para participar numa competição desta envergadura. Além do mais estabelecemos uma parceria entre a USN e a OMD – Ultra Serra da Estrela, as duas provas que se desenrolam nas montanhas mais altas de Espanha e Portugal.

 

Já correu em Portugal? E conhece algum corredor Português?

Nos meus tempos de aventureiro corri bastantes raids e provas de orientação em Portugal, onde aprendi bastante dado as características muito específicas e divertidas das provas. Pessoalmente conheço o Carlos Sá. Partilhámos uma casa no meu último ano como corredor da Salomon, na 1º edição de Cavals del Vents.

 

Que conselhos podem dar a quem esta agora a iniciar-se no mundo do trail?

É uma experiência maravilhosa quem começa não quer voltar atrás. É um vício do qual não se vai querer curar. Não percam nenhuma oportunidade de viajar e ver as montanhas que existem pelo mundo. E enfrentar desafios que irão ajudá-los a crescer como pessoas e atletas.

 

Uma frase de incentivo aos atletas.

Tem que arriscar e superar os limites, porque não estamos realmente cientes de quão longe podemos ir.Não vai ser fácil, mas vai valer a pena.