Terapia num trilho perto de si!
Por Filipe Gil:
Sempre fui uma pessoa muito urbana. Nasci e cresci no meio do rebuliço dos carros, autocarros e motas. Muitas vezes acordava de manhã não com o som agradável dos passarinhos mas com o apitar agudo dos semáforos quando verdes para os invisuais atravessarem a rua.
Portanto, o espaço do campo e da montanha sempre foi estranho para mim (a praia, não tanto). Mas, ao mesmo tempo, sempre houve um chamamento qualquer por esses locais. Deve ser, com certeza, da minha costela beirã de um sítio entre serras e dominado pela da Estrela.
Isto para vos dizer que, hoje em dia, e cada vez mais, tenho necessidade de me evadir e de ir para o verde, como forma de balançar o stress diário da vida urbana. Ora, e por isso o trail running tem ganho cada vez mais importância na minha vida. E, claro, não estou a falar de trail running à séria, porque desse ainda fiz muito pouco. Mas do que se pode fazer numa cidade como Lisboa. Monsanto, Jamor, Sintra e Arrábida são apenas alguns exemplos de locais fantásticos para “trailar”. Que sorte que temos, quem vive por aqui.
E por falar em trail, ontem foi dia de mais um treino INTO THE WILD em Monsanto, organizado pela crew do Correr na Cidade guiado e preparado pelo Luís Moura (foi a estreia dele como membro da crew). O meu treino começou um pouco antes, já que saí de casa e fui a correr para Monsanto - foram cerca 4 Km quase sempre a subir.
Confesso que às tantas perdi-me no caminho. Sabia para onde queria ir, mas não percebi que trilhos tinha que fazer para lá chegar. A certa altura começo a ouvir cães a ladrar – o que é um problema para mim – e sem pensar duas vezes atalhei caminho e fui pelo meio da vegetação, sem ver bem o que pisava. Quando percebi rasguei (ainda que só superficialmente) a pele das pernas – ambas. E fiquei cheio de “restos” de plantas agarrados aos pelos das pernas. Passei metade do treino a “catar” esses restos, de tal forma que chegado a casa as meias foram para o lixo.
O treino em Monsanto foi puxadinho, sobretudo para quem está fora de forma como eu. Muitas descidas, muitas subidas, single tracks, e ainda algumas partes para rolar. Um percurso excelentemente pensado que nos permitiu descansar de vez em quando, reunir com os mais lentos e ganhar folego para novas e boas subidas.. No total foram 11K. Começámos de dia e acabamos já noite serrada. Mais duas semanas e estou certo que faremos estes treinos sempre de frontal na cabeça. Os últimos dois kms foram penosos apenas com a luz do smartphone. Mas valeu a pena.
Mas o meu treino não acabou por ali. O Stefan deu-me boleia até ao às bombas de gasolina no alto do Restelo e fui a correr para casa o resto do caminho - ok, é sempre a descer, o que facilita. Às tantas vejo um tipo a subir a mesma avenida e pensei: “mais um maluco que gosta de fazer subidas”, só já muito perto percebi (percebemos ambos) que era o Nuno Espadinha, membro da crew CnC, que só conseguiu treinar àquela hora (estamos a falar de 21h30m). Trocamos algumas palavras, mostrei-lhe os meus arranhões num misto “sou um grande herói mas esta porra arde para caraças”. E depois fiz mais dois kms a “abrir”. Já era bem tarde e queria chegar a casa para estar com a família. No final, olhei para o Strava e tirando os 3kms de boleia do Stefan, fiz 17,5K. A brincar a brincar fiz mais que o Trail de Casaínhos.
Hoje, acordei mais bem disposto, mais leve, mas sem stress para o stress do dia de trabalho. Até deu para passar a hora de almoço a comer uma sanduíche enquanto escrevia esta crónica. Correr nos trilhos, faz milagres.
Mais fotos do treino de ontem aqui.