Supinador, Neutro ou Pronador? Afinal não é treta!!
Por Filipe Gil:
Há uns meses escrevi neste texto o quão desconfiado estava sobre a “ditadura” da passada correta que algumas marcas de running indicavam aos corredores. Escrevi, com alguma indignação até, que esse jargão de supinador, neutro ou pronador não era mais que uma provável invenção e que os corredores devem, sim, seguir aquilo que o seu corpo dita.Hoje, apesar de manter a ideia de que o corredor deve conhecer o seu corpo e saber ouvi-lo, acho que exagerei na indignação no que respeita ao jargão da passada.
Andava eu tão entretido nas minhas correrias com ténis para a passada neutra – sem bolhas, sem queixas nos joelhos, etc, tudo maravilhoso – quando comecei a aumentar a distância. Corri duas meias maratonas em menos de15 dias, comecei a treinar distâncias maiores que 12K com regularidade e experimentei correr nos trilhos. Sempre com o mesmo tipo de passada: neutra.Ao aumentar quer o nível de treino quer as corridas em piso mais irregular os meus pés começaram a dar de si. E tudo acabou numa lesão que apesar de não ser muito grave é chata.
Já voltei às corridas mas continuo com algumas dores que vão atenuando muito lentamente de dia para dia.Como quase todos os “machos lusos” só em último recurso recorro a médicos, mas com as dores que estava e a ânsia de voltar a correr, teve mesmo de ser. Os testes completos que fiz indicaram isto, o mesmo, mas de forma mais completa, o que o teste da Nike e o teste da ASICS já tinham dito: sou pronador. Só que acrescentou um fator. Se num pé sou pronador suave, no outro sou “bastante” pronador. Ora se um pé funciona bem até com ténis neutros, o outro, que é quem assume as despesas de arcar com mais de 60% do meu peso, precisa MESMO de estabilidade e proteção. Isto se não quiser continuar a lesionar-me.
Das duas, uma. Ou mando fazer palmilhas adequadas aos meus pés ou, para corridas mais exigentes (acima dos 8K no asfalto, em qualquer distância no trilho) tenho que mudar para ténis com mais apoio, para pronador! Não há volta a dar. Não querendo estar a apontar para esta ou aquela marca, sobretudo para aquelas em que tenho utilizado ténis de passada neutra, tenho que reconhecer que, no meu caso, a questão do pronador/supinador/neutro tem mais importância do que aquela que lhe atribui. E, como espero no futuro fazer a Maratona e correr em Trails, é, no meu caso, tenho que obrigatoriamente ter ténis para pronador.Em suma, em primeiro lugar temos mesmo de ouvir e conhecer o nosso corpo. Em segundo, um teste da passada num clínica especializada é capaz de ser mais completo e revelador do tipo de biomecânica que temos e que pode ser essencial para evitar lesões. Mas, claro, cada corredor é diferente do outro. Há até quem consiga fazer uma Maratona descalço, mas aconselho poucos a fazê-lo. Porque, como todos os corredores, mais ou menos experientes sabem, estar lesionado é a coisa mais chata do mundo.
Teste biomecânico do pé (não, não é o meu)