Rumo ao Reccua Douro UT (Parte 1) - Porquê?
Por: João Gonçalves e Rui Pinto
O João e Rui estão cerca de a um mês de participarem no maior desafio desportivo das suas vidas, até à data. Para eles a necessidade de elevar a fasquia para uma ultramaratona de 80k fez todo sentido e escolheram o Reccua Douro Ultra Trail para o fazerem.
Dia 3 de Outubro, irão pôr-se à prova, física e mentalmente, nesta evento que percorre as belas paisagens do Douro e da Serra Marão. Mas enquanto esse dia não chega, iremos contar-vos em primeira mão, e na primeira pessoa, esta aventura.
Hoje é o primeiro capítulo que intitulamos de Porquê?
João Gonçalves
O que me leva fazer isto? O que me move para levantar da cama para ir treinar? O que me dá energia para chegar a casa depois de um dia de trabalho, calçar as sapatilhas e ir treinar? O que me faz querer elevar a fasquia e fazer a prova mais longa que fiz até hoje?
A resposta a todas estas perguntas não são fáceis. Nem sei se têm uma resposta que faça sentido, mas para mim a resposta mais simples e sincera e que consigo dar é “Porque não sei”, não sei se consigo acabar, não sei como o meu corpo se vai comportar com o esforço, não sei como a minha parte psicológica se vai aguentar, não sei… mas é este desconhecido que me faz ir, porque não sei, mas quero muito saber.
Ainda me lembro o dia em que fiz a minha inscrição para esta prova, estava em frente ao computador, como tantas outras noites a pesquisar artigos de sobre corrida, quando me aparece no meu ecrã uma partilha do vídeo promocional da primeira edição do DUT. Desde logo fiquei empolgado com a beleza das imagens que me passavam diante dos olhos e, aliado à frustração de tempos antes não ter conseguido participar na Meia Maratona do Douro Vinhateiro para conhecer a região, entrei no formulário de inscrição e comecei a digitar os meus dados.
15k, 45k ou 80k? Chegou a altura da decisão…
Dizem que só evoluímos fora da nossa zona de conforto e encarando os desafios de frente…
Acredito que sim, como acredito que fazer este tipo desporto, nestas distâncias já não se pode considerar que seja saudável, mas como diz o Tiago Portugal neste excelente artigo que reflete bem o espirito destes desafios que colocamos a nós próprios, a recompensa é maior do que o esforço, o cruzar a meta… Aqueles instantes em que estás com a meta a vista e pensas para ti mesmo: “Consegui”, valem todas as horas de sofrimento e dedicação para ali chegar. É nisto que penso quando o despertador toca de madrugada para ir treinar, ou chego a casa cansado e com vontade de me deitar no sofá e, ao invés disso, calço as sapatilhas para ir correr… É nesse “Consegui” que penso, é essa sensação desse misto de alegria, orgulho, cansaço e suor que quero sentir… Quero esse “Consegui” e quero muito…
Então respirei fundo e selecionei a opção mais dura da prova - 80k, cheio de receios, mas muita vontade de os fazer. Sinto que, para ter sucesso, uma pessoa necessita de ter desafios, algo que nos transcenda como pessoas; de uma certa forma, que a vontade e a força para ver esses desafios alcançados seja transportada para todas as vertentes das nossa vida - pessoal, profissional ou amorosa e fazem de nós pessoas mais fortes.
Tempos depois, um convívio da Crew e em conversa, fiz o desafio ao Rui, mas essa parte deixo para ele contar.
Rui Pinto
Por alturas da Corrida das Fogueiras, em Peniche, no final de Junho, já me tinha esquecido das agruras dos 53 km do Piódão, algures fixados num longínquo mês de Março. Então, só pensava que queria mais um desafio e estava com saudades de treinar afincadamente para uma tarefa super difícil. Precisava de algo por que penar nos treinos, que me empolgasse. Um desafio que me trouxesse de volta àquele entusiasmo de voltar a treinar para algo que não saberia se iria conseguir. Algo tão difícil que me tirasse o sono, de tanta excitação e incerteza.
Foi nessa altura, na praia de Supertubos, com a nossa crew, que eu e o João abalançámo-nos para o desconhecido e tomámos em mãos a empresa de corrermos o Réccua Douro Ultra Trail , em 3 de Outubro, que terá por pano de fundo a edílica paisagem do Douro Vinhateiro e da Serra do Marão.
Hoje, no mesmo dia em que me inscrevo nos 80 km do RDUT, confesso que tenho sérias dúvidas sobre se conseguirei cortar a sua linha de chegada. A vida é uma máquina de lavar roupa que te engole, te baralha os planos e te suga o tempo, a energia e o empenho para treinar afincadamente, e seguir, à risca, o plano de treino que traçaste para o objetivo em mente. Agigantam-se os receios de desiludir todos aqueles que acreditaram que serias capaz de o fazer e o peso nos ombros é real e palpável, nesta fase.
Hoje, reina um misto de emoções e sentimentos. E estou imensamente entusiasmado por ter (finalmente!) concretizado a minha inscrição, e ultrapassado o ponto de não retorno, e estou triste por ter a noção de não estar a cumprir, na totalidade, o meu plano de treino, como deveria. Tenho um mês – apenas um mês! - para tentar compor o ramalhete e voltar à rota - ou melhor, ao trilho - traçado. Tenho um mês para mudar o chip na minha cabeça e vencer o cansaço, a falta de energia, a inércia de levantar cedo para ir treinar, enquanto todos à minha volta ainda dormem. E repetir o processo, uma e outra vez. As vezes que forem necessárias. As vezes que o plano de treino estipula.
Hoje, no dia em que o facebook está inundado com as proezas dos ‘finishers’ portugueses no UMTB, em Chamonix – e que alimentam fantasias de semelhantes feitos, nas mentes e todos aqueles que amam o trail – e no preciso momento em escrevo estas linhas, eu estou mergulhado em dúvidas. ‘Será que vou conseguir vencer a altimetria do Douro e arredores?’. ‘Ainda não treinei com bastões...’. ‘Tenho de por mais desnível nos treinos diários…’. ‘Ainda não marquei alojamento…’. ‘Que ténis serão mais adequados ao percurso?’…
Dizem-me que estas são inquietações normais de quem corre ultras… E que todos passam por elas… Enfim, sei que, daqui a um mês e dois dias, todas estas dúvidas se terão dissipado e já saberemos o resultado final. Até lá, eu e o João Gonçalves vamos tentar dar-vos conta das nossas ansiedades, angustias e dúvidas, neste espaço, durante este mês de setembo, e até ao Reccua Douro.
Esperemos que nos acompanhem nesta aventura.