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Correr na Cidade

Review: Salomon X-Scream - Cada km é um km a mais ou a menos?

Por Filipe Gil:

 

Sou uma pessoa que se considera pouco materialista. Tenho um comportamento estranho perante alguns objetos. Sou capaz de dar muito dinheiro por umas coisas que outros acham absurdas, como sou capaz de achar absurdo onde alguns investem os seus euros. Dou exemplos, prefiro ter um iPhone com três ou quatro anos do que um smartphone mais avançado tecnologicamente de outra marca. Sou incapaz de olhar para automóveis com olhar lascivo. Não ligo nada e cada euro gasto com um carro é para mim um desperdício, ou quase. Mas há certos objetos pelo qual ganho um apreço e quando os uso sinto que os estou a "gastar", o que é muito patético!

 

Mas nunca tinha tido um sentimento assim por uns ténis de corrida. Até que a Salomon me ofereceu um par do seu modelo Salomon X-Scream. E cada vez que os calço, sinto que os estou a gastar! É inevitável, por vezes, quando estou a correr pensar que os vou ter que os reformar quando chegarem aos 600/700 K de uso...

 

No entanto, não pensem que foi amor à primeira vista, a sua cor – amarelo gritante, talvez fazendo jus ao nome do modelo – são um pedaço berrantes demais para o meu gosto. E não, não gosto de ténis escuros, mas tão vibrantes como este modelo também acho um exagero.

 

Os ténis são enquadrados na filosofia de “City Trail” da Salomon, ou seja ténis para usar nas subidas e descidas das cidades e na exploração das urbes através da corrida, tal como se explora os trilhos da montanha, sem aquela coisa “chata” de correr em linha reta em cima de alcatrão.

Fazendo jus à sua filosofia, utilizei-os variadíssimas vezes nos treinos que o Correr na Cidade faz pelas colinas de Lisboa (o próximo é no dia 24 de julho), e onde se portaram muito bem. Aliás, devo dizer que são os ténis perfeitos para correr em cima das irritantes pedras da calçada de Lisboa. Será que os testers da Salomon andaram a correr por Lisboa para acertar o modelo e o tipo de sola? Parece que sim.

 

Mas, e apesar de gostar muito deles, não os poupei, e usei-os nos mais variados trilhos, menos citadinos, tanto no Jamor como em Monsanto. E aqui percebi que estes ténis têm algumas falhas para pisos mais “complicados”.

Não são ténis de trail, ponto! – e marca assume isso. Comportam-se muito bem em terra batida e em subidas de trilho a sua sola agarra muito, muito bem, especialmente se subirmos com as pontas dos pés – comme il faut! – mas têm limitações. Sobretudo nas descidas mais técnicas e em caminhos com pedras soltas.

 

Este modelo ainda é volumoso, apesar de leve, tornando-se mais difícil de controlar que outros modelos de trail que já experimentei. Para trilhos técnicos a Salomon tem outros modelos, fica o aviso.

 

De resto, são os ténis ideias para sair de casa, correr um pouco no alcatrão e enfiarmo-nos por um parque ou jardim pisando a relva sem escorregar, subir com mais velocidade num pedaço de terra batida, ou gravilha, ou ainda pisar pedras de uma forma relativamente confortável – atenção que este modelo não tem a placa anti pedras que outros modelos da Salomon têm. De qualquer forma nota-se que a marca deixou um pouco do seu DNA de especialista de trail neste modelo.

 

Para mim, os Salomon X-Scream têm o seu “q” de aspiracional, não o posso negar. Quando saio de casa com eles calçados “continuo” a sentir-me um corredor mais de trilhos do que de alcatrão.

 

Compramos a marcar X ou Y porque nos diz algo, porque ganhamos, nem que seja por poucas semanas, afinidades com ela. A não ser que sejamos  atletas patrocinados temos a liberdade de preferir as marcas que nos dizem algo e, ao mesmo tempo, temos a liberdade de as odiar. No meu caso a Salomon influência-me pela positiva. Inspira-me nos magníficos vídeos que fazem, por exemplo. As imagens,  o storytelling e a emoção que colocam no marketing da marca é, para mim, irresistível – mesmo sabendo, como sei, descodificar a mensagem.

 

Mas voltando os X-Scream, uso-os também muitas vezes quando vou a correr do trabalho para casa e onde passo pelos mais diferentes tipos de piso nos trilhos citadinos. Só para exemplificar, desde as escadinhas curtas típicas de Lisboa, ao empedrado gasto e quase escorregadio, aos trocos de árvores mal cortados, aos caminhos de bicicletas ou mesmo ao zigue-zague que se faz para evitar os dejetos dos cães (a cidade é mesmo um poderoso trilho urbano) e é aí que os Salomon X-Scream dominam. Ganhei afeição ao raio dos ténis, não há volta a dar.

 

Ah, Last but not least: são ténis neutros, o que pode condicionar a escolha de alguns corredores. Ou então façam como eu, pronador, juntem-lhe umas palmilhas para pronadores da Iron Man e os problemas resolvem-se. Como já notaram gostei, e gosto, muito dos ténis, mais ainda tenho discernimento para indicar os seguintes parâmetros de forma imparcial:

 

O positivo

O design do modelo
Conforto
Sola muito versátil
Sistema de atacadores

 

O negativo
Podiam ser um pouco mais minimalistas e menos volumosos
Sujam-se muito (pelo menos em amarelo)
Devia existir modelo para pronadores
Frustação por este modelo não aguentar trilhos mais à séria

 

A avaliação geral:

Se é corredor de trilhos e raramente usa o alcatrão para correr, esqueça este modelo. A marca tem outro modelo, também da série City Trail, que aguentam melhor os trilhos na natureza: os Sense Pro. Se é “rei do asfalto” e quer fazer provas rápidas, Meias ou mesmo Maratonas, há outros modelos mais indicados de outras marcas.

 

Agora, se gosta de explorar a sua cidade com o mesmo espírito com que explorar as serras e montanhas, se gosta de variar de piso durante os treinos, se gosta de correr em trilhos mas não corre  com medo de gastar a sola dos seus ténis de estrada, se gosta de explorar a sua cidade com conforto, se gosta de ir até ao parque da sua cidade ou mesmo para um mata ou serra menos técnica os Salomon X-Scream são os ténis ideais para o levar da cidade aos trilhos, e vice-versa. Mas não faça como eu, use-os sem medo de os gastar e sem pensar que cada km é um km a menos com estes X-Scream!


PVP: 120€

NOTA IMPORTANTE: No El Corte Inglés, de Lisboa, este modelo estava em saldo a custar cerca de 60€.