Review: Ignite – Disruptivos mas conservadores
Por Filipe Gil:
Uma nova solução no material da sola que responde de forma reativa à nossa passada. Onde é que eu já li isto antes? Foi com essa ideia na cabeça que fiquei quando tive conhecimento que a Puma ia lançar uma nova sapatilha de corrida e que essas eram as suas características principais. Antes de ver alguma imagem – e confesso que devo ter sido dos primeiros em Portugal a conhecer e a usar este modelo – estava com medo que a marca alemã copiasse algo que já tinha sido feito, sobretudo no design. Mas não, foram disruptivos e inovaram. No fundo acho que fizeram um pouco como a Apple costuma fazer com os seus aparelhos: pegam no que já existe, melhoram, inovam em alguns pontos e tornam o produto mais sexy. Et voilá: temos os Ignite!
DESIGN
Gosto muito. Confesso que são os meus ténis de estrada mais bonitos neste momento. Gosto do jogo de cores, da forma como ninguém fica indiferente à sua passagem – quer gostem ou não. E da forma como sobressaem nos pés – sem meias ou com meias curtas ficam fantásticos. Estou, é claro, a escrever do modelo que vos apresento nas fotos. Sei que há outra versão, em preto e cinza e branco, para gostos mais "contidos". Mas estas cores, as mais electricas, foram muito bem trabalhadas. Aliás, um dos truques do design deste modelo é a sua forma esguia e que parecem mais leves do que realmente são. Este modelo (nas fotos) são daquelas sapatilhas que dividem opiniões, ou se ama ou se adora, por isso mesmo a marca tem outras cores à disposição (em Portugal não tem muitas, mas sei que a diversidade delas vai aumentar nas próximas coleções).
CONFORTO
São confortavéis. E para isso contribui muito a língua da sapatilha feita num material muito leve e que não desliza. O material, no geral, é muito bom e toda a sapatilha mostra uma excelente qualidade de construção. Dos vários treinos que fiz nada de bolhas, nada de mazelas provocadas pelo material, ou seja, isso responde a tudo. São ténis confortáveis, mas não existe a sensação que o pé está envolvido em espuma. Isso não acontece, são ténis mais duros. Se calhar por terem sido feitos com a influência do velocista da Puma, Usain Bolt, têm um perfil mais de sapatilha de velocidade do que de longa distância.
AMORTECIMENTO
Para aqueles que estão à espera de saltitar a cada passada, estas sapatilhas não são para vocês. O amortecimento está lá, percebe-se bem, mas não temos a sensação de estarmos a envolver o pé num almofada. Sente-se o chão, sente-se a passada com amortecimento q.b. Confesso que queria usar este modelo em corridas longas, mas o máximo que corri com elas foram 15kms seguidos, devido a lesão. Quanto mais se corre com elas mais se nota que a sola faz a diferença. Mas, mais uma vez, não têm a sensação "bouncing" que outras solas do mercado dão. Pessoalmente prefiro. O estranho neste modelo é que são tudo menos minimalistas (drop de quase 12mm) mas com o decorrer da distância parece que o "chassis" baixa e ficam mais minimalistas, contudo, ao correr com eles pela primeira vez fica a sensação, clara, que há sola a mais, sobretudo no calcanhar. Andei com eles em cima de terra batida e calçada portuguesa, mas o melhor deles consegue-se em estrada. É para isto que são feitos. E é na estrada, pura e dura que os vou utilizar. Contudo, deixa-se uma dica à marca. Baixem o drop.
ESTABILIDADE
São ténis para neutros. E, aqui que ninguém nos lê, apesar de ser pronador, experimentei correr com eles sem qualquer suporte extra de palmilhas para o efeito. E gostei. Sei que não posso abusar porque as minhas fascites podem surgir. Mas confesso que senti alguma estabilidade quando corri com o pé “nú”. O único senão desta sapatilha é o seu drop demasiado alto, cerca de quase 12 mm, o que me parece um pouco exagerado. Não sabia, sinceramente, que ainda se faziam sapatilhas com este tamanho drop. De qualquer forma a envolvência do upper faz com que o pé não balance muito. Contudo, espero que a marca pense na quantidade de corredores pronadores que existem por aí e lancem um modelo com mais estabilidade para os corredores "com defeito" na passada, como eu.
PREÇO
110€ tendo em conta a promessa de durabilidade e a excelência dos materiais, está num preço muito em conta. Sobretudo se a promessa da durabilidade for cumprida. Já os usei uma quantidade de vezes e parecem ainda novinhos. Porque em termos de design cumprem e são ténis para corredores vaidosos.
CONCLUSÃO:
Se são os melhores ténis de estrada que já experimentei, não são. São bons e são a imagem concreta de uma nova atitude da marca alemã para o setor do running. E presumo que daqui, e com esta nova abordagem, venham aí novas surpresas no futuro. A marca alemã acordou para a corrida, e fez muito bem. Falando entre estes Ignite e os Faas 500 da Puma fico um pouco na dúvida quais são os melhores. São diferentes, os Ignite. Os Faas 500 são mais tradicionais, os Ignite são mais disruptivos, quer em termos de tecnologia quer em termos visuais. Se tivesse que optar por um deles, os Ignite são os da minha preferência, porque não sou um corredor tradicional. Mas há muitos corredores que vão querer uma abordagem mais tradicional. Contudo, há aqui uma importante indicação: os Ignite são ténis mais tradicionais do que parecem. É essa a ideia com que fico.
CLASSIFICAÇÃO FINAL
DESIGN: 19
CONFORTO: 17
AMORTECIMENTO: 16
ESTABILIDADE: 17
PREÇO: 18
TOTAL: 87/100