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Correr na Cidade

“Recorda-te de onde vens e saberás para onde vais.”

Por Liliana Moreira:

 

O início

Confesso que não sei a data exacta de quando comecei a correr… sei apenas que foi a consequência natural de ter uma ciclovia a passar à porta de casa e de ficar aborrecida de tanto caminhar e parecer que não saia do mesmo lugar.

Em ambos os casos tive sempre a questão do excesso peso como alavanca para me levantar do sofá. Há já quase uma década que andava de costas voltadas com o espelho e decidi que não me ia dar por vencida.

 

Foram alguns anos disto, sempre sozinha em caminhadas rápidas que eu heroicamente chamava de corridas… sem paciência para ginásios, no verão a ciclovia era minha… no inverno hibernava (e engordava!) com medo da chuva e do frio e de me constipar e… todas as desculpas e mais algumas que conseguisse arranjar!

 

 

Tentada a inverter a sazonalidade da minha única actividade desportiva no momento lá me decidi fazer o meu primeiro grande investimento na corrida...um par de sapatilhas Nike Lunarglide 3… um miminho em tons de preto e rosa que ainda hoje guardo como recordação. Tipo de passada? Drop?! Eu lá sabia o que isso era, nunca tinha ouvido falar de tal coisa… simplesmente eram giros e pareciam ter uma sola suficientemente alta para suportar os meus então 103kg!

 

Depois das sapatilhas vieram as APP’s para registar os treinos no telemóvel e isso fez-me querer melhorar os meus indicadores a cada treino… é verdade que deixei de ter medo da chuva, mas os meus treinos resumiam-se no aumento progressivo da distância a ritmos realmente muito baixos (e muitas vezes a caminhar!), não só porque o meu peso não o permitia mas também porque sozinha não conseguia ter a disciplina necessária para melhorar.

 

Primeira corrida

Foi nesse contexto que me auto convencia de que era uma runner que me desafiaram a participar num passatempo em que o prémio era uma inscrição para a Corrida do Tejo 2012. Não pensei duas vezes e inscrevi-me, até porque não estava à espera de ganhar coisa alguma pois isso só acontece nos filmes… mas ganhei!

 

 

Está a fazer dois anos em que fiz a minha primeira prova oficial… sem preparação e sem a minima noção para o que ia! Ao longo da prova recordo-me inúmeras vezes que queria desistir, estava a ser um autentico inferno todo aquele percurso, toda aquela multidão, todo aquele esforço… apercebi-me logo na partida que a grande maioria das pessoas estava mais bem preparada que eu e confesso que isso mexeu com o meu ego! Acho que foi só por isso que consegui literalmente arrastar-me até ao final. Mas para grande surpresa minha ao passar a meta todo aquele calvário passou e foi completamente substituído pela alegria da linha de chegada. Foi algo completamente novo e inexplicável… eu consegui, caramba!!

 

Corrida do Tejo 2012 a minha primeira prova oficial, os meus primeiros 10km feitos em 1h28m

 

Foi tão estranho e maravilhoso aquele sentimento que umas semanas depois me inscrevi na S. Silvestre de Lisboa’12!  :)

 

Metas e motivação

2013 foi portanto o ano das medalhas.

Inconscientemente utilizava as provas como incentivo ao treino e teria sido um bom plano se de facto o tivesse seguido. Fazia treinos muito intermitentes, comparecia nas provas sem preparação e depois surpreendia-me porque não melhorava os tempos! E num derradeiro rasgo de genialidade (ou não!) achei que o que precisava mesmo era de voltar a sentir a alegria que tinha sentido em Oeiras um ano antes… e que isso só poderia ser possível através de um novo desafio! Foi assim que no inicio de Novembro’13 me inscrevi na Meia Maratona da Ponte 25 de Abril que iria acontecer a 16 de Março’14. Achei que tinha mais do que tempo suficiente para me preparar e comecei a fazer o que ainda não tinha conseguido… ser consistente nos treinos!

 

 

Foi nesta fase mais focada que a vida me trocou as voltas e no espaço de 4 dias apenas... perdi os meus avós maternos.

Parei de correr, parei tudo e parei mesmo. Foram 4 meses!

 

Não houve ninguém que não me tivesse dito para voltar, que só me ia fazer sentir bem e bla, bla, bla, wiskas saquetas... Foi até curioso ver as pessoas que não corriam a reconhecerem as qualidades terapêuticas da corrida! :) Cheguei ao ponto de me equipar totalmente mas na hora “H” não ter coragem para sequer abrir a porta de casa.

 

A verdade é que pensava muitas vezes na corrida, mas sem saber muito bem o porquê sentia-me sem força ou animo para me fazer ao caminho. Como acabava por não ir a lado nenhum aproveitei para aprender o que conseguisse, então tudo o que era redes sociais sobre corrida lá estava eu a absorver como uma esponja.

 

O regresso

Foi assim que conheci o blog Correr na Cidade. Gostei do espírito despretensioso com que abordavam os temas, numa linguagem clara, objectiva e jovem. Correndo o risco de me chamarem bajuladora, posso dizer que li o blog de ponta a ponta e numa dessas incursões  apercebo-me da abertura das inscrições para o primeiro treino Just Girls do ano 2014, calhando no Dia da Mulher. Pensei que esta era a oportunidade perfeita para regressar aos treinos, porque pelo facto de ser um treino só para raparigas seria menor a probabilidade de me sentir deslocada e que eventualmente iria conhecer outras raparigas com as mesmas dificuldades que eu. Impulsiva, lembrei-me da Meia Maratona que estava quase à porta, e que eu até julgava já estar terminada antes mesmo de começar, e inscrevi-me no treino Just Girls na vertente dos 10km.

 

Nunca tinha participado num treino social desta natureza… a minha experiência de corrida tinha sido quase sempre sozinha ou no meio de uma multidão desconhecida, tipicamente surda pela música aos berros nas orelhas e sem a menor percepção das pessoas que me rodeavam. Guardo este treino com um carinho imenso por varias razões, mas a principal foi o espirito de entre ajuda que senti na pele… sem me conhecerem de lado nenhum acreditaram que era capaz e acompanharam-me do início ao fim, na primeira vez em que fiz 10km sem parar uma única vez.

 

Ainda hoje não sei como consegui mas sei que a culpa por este meu pequeno grande sucesso foi de toda a equipa que compõe o Correr na Cidade, que naquele dia em específico foi personificada pela Bo Irik. :)

 

Fui a última a chegar do treino Just Girls mas, não só vinha acompanhada, como vinha realmente feliz!

 

 

 

Sei hoje que o sentimento vivido neste treino foi um ponto de viragem. Passei a conhecer mais pessoas, a partilhar as minhas frustrações e sucessos, a conhecer as diferentes visões do mundo da corrida, a deixar de ter vergonha por não ser uma atleta eximia e agradecer por todas as mãos estendidas de apoio e motivação que vou tendo no meu caminho. Aprendi a valorizar o sentimento de resiliência que, de uma forma ou de outra, consegui ir mantendo e que hoje intensifico a cada treino.

 

Para terminar, depois deste dia, os treinos intermitentes passaram a ser um mito. Fui à minha primeira Meia Maratona da Ponte 25 de Abril tal como me tinha proposto, terminando com um “glorioso” tempo de 2h48m do qual me orgulho imenso! :)


Hoje faço parte da mesma equipa que me acarinhou há seis meses atrás. Desafio-vos a também fazerem parte desta minha estória. A Corrida do Tejo 2014 é já no próximo domingo e o Correr na Cidade estará lá para vos ajudar a superarem-se!

 

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