Race Review: III Trail de Bucelas
Por Ana Morais:
Quando estava a decidir o calendário de participação em provas para o primeiro trimestre deste ano, a ideia de me inscrever nesta prova era um pouco assustadora, mas eu sabia que me ia testar para o Piódão em Março. Questionei alguns membros da crew que já tinham participado na prova (especialmente a Carmo Moser que ficou em 2º lugar do escalão e em 5º na geral em 2014) e que me disseram que seria uma prova fácil, mas que ia ter muita lama. E tinham razão!
Infelizmente, tenho o péssimo hábito de não estudar o percurso antes da prova, mas isto é algo que preciso de mudar, especialmente porque não tenho relógio para me orientar. A única coisa que vi no percurso foi que, após o 15º quilómetro, ia ter uma grande subida e que tinha de reservar alguma energia extra para a fazer. Mal eu sabia que ia custar muito mais do que pensava.
Uns dias antes da prova começo a ficar mais nervosa porque, por motivos profissionais, não tive muito tempo para treinar: os treinos em trilhos não têm ultrapassado os 7km; os treinos de estrada são raros e só chegam aos 10km; apenas tenho reforçado os alongamentos e exercícios estilo crossfit em casa. O que me deixava descansada era o facto de saber que não ia estar sozinha nesta aventura. O Nuno Malcata ia ser o meu coach em prova e isso deu-me muita confiança e força (ele ameaçou-me dar-me com um bastão caso eu não corresse ehehe).
Eis que chega o dia da prova! Os nervos duplicaram, a noite foi curta demais e eu estava super ansiosa (facto que se notou bem na minha respiração nos primeiros quilómetros da prova). O ambiente à chegada a Bucelas era fantástico!
Engraçado que estamos sempre a rever algumas caras conhecidas de outras provas. Em direção à partida procurava um amigo que ia fazer a sua primeira aventura em trail e que partiu muito antes de mim e nunca mais o vi. No final, soube que cumpriu o seu objetivo e isso deixou-me feliz.
Ainda no troço da partida, oiço o meu nome em altos berros. Era o José Finuras que conheci na prova de Trail em Casaínhos e que me fez companhia durante grande parte da prova. Ele e a restante equipa MultiRunners são muito animados, muito divertidos e que fazem vídeos fantásticos das provas.
Antes da partida
Após o tiro de partida, lá fomos nós. Deixar rolar, tentar respirar bem, seguir caminho. Durante todo o percurso ia recebendo indicações do Malcata sobre respiração, água, comida, como subir, como descer…podemos dizer que foi um mini curso de corrida em trail.
Aos primeiros minutos de prova, começo a despir o casaco que trazia. O calor é um dos meus maiores inimigos nos treinos e nas provas. O restante caminho foi feito sempre em manga curta, mesmo com o frio e a chuva.
Primeira paragem forçada: a espera “idiota” para passar um rio. Continuo sem perceber porque perdi ali 20 minutos de prova para fazer uma passagem fácil sobre umas pedras e agarrada a uma corda. Ao pé de mim estava, também, a Natália Costa que ia fazer os 15km e, depois, surge a Joana que vinha a bom ritmo e que parou na mesma fila que nós. Depois da passagem, lá continuámos a nossa odisseia.
O dia estava fresco e o sol espreitava de vez em quando. Mas, quando estávamos a subir um troço estreito e cheio de lama, começa a chover imenso e o piso cada vez mais escorregadio. Em vários pontos cheguei a passar agarrada a arbustos e de mãos no chão.
Após o último abastecimento, começa a minha verdadeira aventura: as quedas. Algo porque nunca tinha passado numa prova e que me fez desacelerar um pouco com medo de cair e de me aleijar a sério. De vez em quando lá ouvia: Ó Ana! Está quase! (famosa frase do José Finuras em todas as provas onde participo). O ambiente foi sempre fantástico!
Em determinado ponto, avistámos a estrada que dá acesso a Bucelas e a ideia de que estávamos perto era, no mínimo, ilusória. Nesta altura já tinha caído duas vezes. Já tinha usado a ajuda dos bastões do Malcata para descer umas rampas. Passámos a estrada, ouvimos uns aplausos e começa a parte mais difícil da prova para mim: trilhos estreitos, muita lama, chuviscos, o cansaço de mais de 20km percorridos. Atrás de nós lá vinha o grupo dos MultiRunners, sempre na paródia e a chamar por mim. Tenho a ideia que subia, subia e nunca mais descia. E, como não há duas sem três, ao avistar o 26ºkm a descer, grito: 26! Ao dizer isto, escorrego na lama e caio de frente. Levanto-me e desato a rir. Felizmente não me aleijei muito, apenas fiquei com umas nódoas negras.
Assim que deixámos os trilhos, entrámos no alcatrão e o Malcata diz para corrermos mais rápido em direção à meta. E força para isso? As pernas pareciam blocos de cimento, recusando-se a andar quanto mais a correr.
Mas avisto, novamente o Finuras, de câmara em punho. E assim entrou eu em Bucelas: 2 câmaras a apontar para mim, os espectadores junto aos cafés a baterem palmas, a Bo aos pulos, o João Figueiredo a filmar os últimos metros, a Joana Malcata a gritar por mim…e assim chego à meta! Não consegui conter as lágrimas da alegria por ter alcançado este objetivo pessoal e ter o apoio de tantos amigos.
Eu e meu "coach" de trail
Quero agradecer toda a crew pelo apoio, por terem esperado por mim, por me apoiarem nesta aventura. Mas um especial agradecimento ao Nuno Malcata, que teve uma paciência enorme para me aturar nos últimos quilómetros, por ter esperado por mim e por me ter emprestado um bastão nas últimas subidas e descidas. Sem ele, não sei se teria chegado ao fim. Um obrigado ao José Finuras pelo apoio em prova e por ter voltado atrás depois de passar a meta para filmar a minha chegada.
Hoje, um dia a seguir à prova, não tenho dores, apenas umas nódoas negras e uns arranhões. Mas uma sensação de felicidade enorme por ter participado nesta aventura. Lá estarei no Piódão em Março!