Race report: IV Trail Montes Saloios
Por Pedro Tomás Luiz:
Associar determinados tipos de treino a corridas são para mim uma das melhores maneiras de obter uma motivação extra para cumprir na íntegra os planos de treino. E assim foi, depois de ter falhado Bucelas, fruto de um acidente doméstico, quis tirar a barriga de misérias e ir correr uma prova numa paisagem que tão bem conheço.
O plano era realizar o treino longo da semana e desfrutar da companhia da crew. No entanto é preciso não confundir treino com jogging e treino com competição. Treino é treino e quando temos alguém a orientar-nos há que cumprir com o prescrito e refrear a adrenalina para não pagar mais tarde a fatura.
No que se refere à organização da prova, na minha opinião e do que vi, esteve irrepreensível. O percurso bem marcado, apresentando sinais de perigo nas zonas mais técnicas, abastecimentos no local correto e com variedade, pontos de assistência médica ao longo do percurso e no final uma sopinha fabulosa acompanhada da simpatia das gentes da terra. Até a única coisa que ao princípio me fez torcer o nariz (chip ser colocado no punho), o que obrigaria sempre a uma “paragem” correu muito fluidamente. Com esta qualidade rapidamente esqueci o tempo “perdido” no engarrafamento inicial do 2 quilómetros.
A paisagem da prova retrata na íntegra o que é a zona saloia, com pequenos montes verdejantes, salpicados com algumas rochas com o mar quase sempre no horizonte.
Em relação à minha “prova”, poderia dividi-la em 3 grandes partes, pautadas por sensações bem diferentes.
A primeira parte, +/- até ao 12 km, e tendo em conta que parti bem de trás, foi marcada por um belo afunilamento num ribeiro, com tempo mais do que suficiente para ver o Tiago Portugal a gozar comigo e a dizer-me adeus…. Saído do ribeiro, apertei para agarrar o Tiago e fazê-lo "pagar caro" pelo deboche anteriormente realizado... Cerca de 3km depois lá começava a vislumbrar aquela passada inconfundível - quem corre de saltos altos (aka Hoka One One) marca claramente a diferença!!! Chegado ao pé dele lá seguimos uns kms a bom ritmo até porque a descida a isso propiciava.
Depois, a 1ª subida digna desse nome, um asseiro que ia dos 5 ao 7,5km e eu, na minha brilhante inteligência, toca de apertar feito bruto por ali acima, heart rate no red line, mas as sensações eram boas e pensei que a carga da semana até tinha sido bem gerida (a fatura havia de ser paga mais tarde). Até aos 12km lá fui eu…
Passo o primeiro abastecimento, pouco trinquei e segui até o homem do martelo me dar com ele na cabeça e me lembrar que estava ali para treinar e não para competir. A segunda parte dos 12 até aos 19km foi feita numa luta com o meu psicológico, muito mais do que com o meu físico. Meti um ritmo confortável e fechei-me na minha bolha esperando que aquilo passa-se. O relógio não enganava a parte pior estava para vir, pois com 15km tínhamos feito um terço do desnível positivo referido (1200 D+).
Estas sensações mantiveram-se até ao abastecimento do 19km, em que decidi, parar, comer e conversar um pouco com as pessoas da organização, que sabiamente me informaram “a partir daqui é que vai doer… é sempre a trepar”.
Na terceira e última parte da “prova”, seja pela comida, seja pela adrenalina de saber que a meta já estava perto, voltei a mim. Novamente sensações fantásticas, que me ajudaram a enfrentar as duas paredes finais antes de chegar à meta, bem como as descidas bem técnicas que existiam pelo meio.
Resultado: A “prova” foi realizada em 3h horas e dentro do definido, mas a lição ficou aprendida: dormir 3 horas e sobrestimar o percurso são meio caminho para a asneirada.