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Correr na Cidade

Race Report: AX Trail 2015

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Por Bo Irik:

 

Sobre o AX Trail:

Em 2014 alguns elementos da crew do Correr na Cidade deslocaram-se à Serra da Lousã para correr nos seus belos trilhos numa prova organizada pelo AX Trail – Go Outdoor. Na altura, entrevistámos o diretor da prova para conhecer um pouco melhor do conceito do AX Trail.

 

Em 2014, adorámos a experiência, e por isso a Bo, este ano voltou a inscrever-se. Este ano, na quarta edição do UTAX (Ultra Trail das Aldeias do Xisto), a base de operações foi Miranda do Corvo, garantindo assim a continuidade do evento e o princípio da rotatividade entre os vários Municípios da Serra da Lousã. O programa incluiu três provas de carácter competivo - UTAX (112km), TSL (51km) e TX (22km) -, uma prova de iniciação ao Trail - o Mini Trail do Xisto (10km), uma caminhada, dois eventos de carácter social (AXtrail Kids e AXtrail da Inclusão) e ainda uma Feira de Equipamento Técnico, Artesanato e Produtos Regionais.

 

51km ou 22km?

O ano passado, participei no TSL que teve uma distância de 43km. Foi uma verdadeira viagem de superação. Adorei. Adorei a Serra e a organização da prova e não tinha dúvidas que voltaria no ano seguinte.

 

Assim, este ano inscrevi-me novamente na prova TSL, que seria de 52km, pois os cento-e-tal para mim estão fora de questão. Na sequência de um primeiro semestre de 2015 muito intenso em termos de provas de longa distância - em fevereiro a Maratona de Sevilla, em março o Ultra-Trail de Piódão, em abril o Gerês Trail Adventure e agora no final de maio o Azores Trail Run (ATR) -pareceu-me que em outubro poderia voltar a carregar nas distâncias.

 

Duas semanas antes da prova que decidi pedir à organização da mesma que alterassem a minha inscrição dos 51 para os 22km. Foi uma decisão nada fácil mas a mais acertada (também agora, olhando para trás). Na verdade, no final de junho despedi-me do meu trabalho estável e a tempo inteiro para me lançar numa aventura profissional no mundo das startups. Estou mega contente com esta decisão, sinto-me muito mais feliz, mas também trouxe consigo alguns desafios. Um dos maiores desafios é questão da gestão do tempo, pois, quando estamos a trabalhar num projeto nosso torna-se mais fácil tornarmo-nos “workaholics” e ao final do dia, em vez de ir treinar, continuar a trabalhar mais um pouco. Foi isso que aconteceu. Agora já consigo lidar melhor com isso mas houve meses em que, também devido às tentações do verão (copos e festas), treinava muito pouco. Assim, o tempo de treino para o AX Trail foi se encurtando e nada de treinos longos ou treinos de trilhos com um bom D+.

 

Deste modo, e uma vez que senti que com apenas treinos de 10km (embora vários por semana e também treinos no ginásio), não seria uma boa ideia jogar-me aos 52km. O meu corpo não merecia. Segui o conselho do Luís Moura e decidi mudar a inscrição para os 22km e assim desfrutar da Serra sem abusar do meu físico. Foi uma decisão difícil porque no ano passado, depois dos 43km na Serra, senti vontade que queria fazer mais e sabia que os 22km não satisfariam. Por outro lado, tinha combinado fazer a prova com a Rute, a minha amiga e companheira na aventura ao longo dos 53km do Piódão. Sabia que ela iria ficar desiludida comigo mas também que respeitaria a minha decisão.

 

E foi isso que que em vez de evoluir do TSL em 2014 para o UTAX em 2015, que para alguns seria uma evolução lógica, “retrocedi” e inscrevi-me no TX.

 

A minha vivência do AX Trail 2015

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Este ano fui a única do Correr na Cidade a participar no AX Trail. Houve alguns elementos da crew que quereriam ir mas que por vários motivos não puderam. Felizmente a minha companheira dos trilhos, a Rute, ia e assim juntámo-nos a mais dois amigos e viemos juntos, de Lisboa a Miranda do Corvo, onde ficámos hospedados numa pensão.

 

A Joana Sofia que veio connosco aventurou-se, pela primeira vez, numa prova de três dígitos. Foi emocionante acompanhar toda a preparação pré-prova e a partida da Joana. A prova rainha do AX Trail, o UTAX de 112km partiu à meia-noite de sexta para sábado. Foi realmente um momento muito emocionante ver tantos amigos e amigas partirem para uma aventura tão grande pela Serra àquela hora e ainda por cima tendo em conta as condições atmosféricas que se previam. 

 

Na manhã de sábado, a Rute partiu para a prova dos 51km duas horas antes da minha, pelas 8h30 da manhã. Às 10h30 deu-se a partida do TX, parti entre caras conhecidas do mundo dos trilhos – a Romina, Kikas, Eugénia e Manuel – e reinava um ambiente de festa. Quando se deu o tiro da partida só pensei: meu deus, a Joana já vai com dez horas e meia de prova e correu pela noite fora.

 

Estava uma temperatura bastante agradável, algo abafado até, e nos primeiros quilómetros da prova tive algumas dificuldades em “entrar” no ritmo respiratório certo e também algumas dores nos gémeos. É comum ter um arranque algo enferrujado, mas também sei, que depois de 4 ou 5km, normalmente melhoro. Assim abrandei e fui ficando um pouco para trás. Foi bom, ia com calma, estava sol e desfrutei muito da paisagem, até fui tirando fotos e conhecendo pessoal ao longo do trilho.

 

Quando já me sentia melhor, senti vontade de acelerar um bocado. Infelizmente tal foi difícil, pois estávamos num single track maravilhoso, mas difícil para se ultrapassar e eu também não gosto nada de pedir licença para ultrapassar. Foi depois do primeiro abastecimento, onde estive muito pouco tempo, que consegui carregar no acelerador. Estávamos no ponto mais alto da prova e a partir daí seria mais a descer do que a subir.

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Foi aí, do km 10 ao 12, que tive o que tanto queria: “Eu e o trilho”. Até vai ao encontro do slogan da prova, “És tu e o trilho”. Sonhara em correr sozinha na linda Serra da Lousã, sem ver ninguém à minha frente nem atrás de mim. Soube tão bem. Chovia torrencialmente e estava muito vento, mas tal, apenas intensificou o momento de puro prazer. Trilhos estreitos lindos. Técnicos, mas que permitiam correr. Infelizmente o momento não durou muito. Ao km 13 encontrei um engarrafamento, pois, havia uma descida íngreme e difícil onde só passava uma pessoa de casa vez.

 

Foi daí até ao segundo abastecimento que fomos em fila indiana num ziguezague de trilhos extremamente técnicos e cheios de lama, com raízes e pedras a descer. Eu adoro esses trilhos assim. Ainda bem que tinha os bastões comigo. Ajudaram muito. Fiz esse troço com o senhor António de 64 anos e que já corre em trilhos há 40. Que conversa tão inspiradora. Ainda posso correr 40 anos nos trilhos, pelo menos! :D O último km antes do abastecimento foi ótimo para acelerar sem pensar, foi só seguir os passos do António.

 

A partir do segundo abastecimento, perdi o António, mas encontrei outras caras conhecidas. Abasteci rapidamente o soft flask (adorei a experiência com este tipo de depósitos, são mega eficientes e rápidos) e peguei nuns amendoins para não perder o ritmo e rapidamente continuar. Mais trilhos mágicos por pinhais e florestas de eucalipto seguiam. Apanhei a Romina e seguimos juntas até a meta. Puxámos uma pela outra e posso dizer que os últimos quilómetros foram feitos a um bom ritmo. Ultrapassámos algumas pessoas mas, em simultâneo, desfrutámos da natureza.

 

Os últimos 500m antes da meta foram percorridos numa ponte pedonal em madeira, muito gira, já em Miranda do Corvo. Passei a meta na companhia da Romina. Se foi emocionante? Foi. Se gostei? Sim. Mas preferia ter corrido mais uns quilómetros :)

 

Terminada a prova, fui ao hotel, que ficava a 10min a andar, tomar banho (se bem, que a chuva torrencial me tinha já deixado bem limpinha), para depois voltar à zona da meta para receber e apoiar os restantes atletas. A meta estava instalada numa zona muito simpática da vila, rodeada de cafés, tornando a “espera” mais agradável para quem esperava os atletas. Fiquei na zona da meta à espera da Rute. Estava preocupada, pois as condições atmosféricas na Serra estavam muito adversas. Quando a Rute chegou fizemos uma verdadeira festa. Que alívio e que orgulho! Este ano o TSL foi muito mais duro que o ano passado e a Rute está de parabéns. Durante a espera pela Rute fomos recebendo vários atletas dos 50 e 100km. Foi ótimo apoiar estes campeões nos seus últimos metros e dar-lhes os parabéns.

 

Material usado:

- mochila: colete Raidlight Gilet (Adorei. Acho que finalmente encontrei “a” mochila para mim - review em breve);

- bastões: Karimor

- calçadoMerrell All Out Peak

 

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Pontos positivos:

  • Partida / Meta: muito bem preparado logisticamente, com cafés e esplanadas, casas de banho, feira de artesanato e material técnico. O evento contou com um comentador que animava as partidas e parabenizava os “finishers”.
  • Excelente organização e comunicação (secretariado).
  • Senha para uma refeição num dos três restaurantes aderentes com um menu completos válido durante o sábado e domingo.
  • Na prova Trail do Xisto, o percurso foi muito bem desenhado, passando por muitos single tracks e poucos estradões e ainda menos asfalto (mas ouvi dizer que o UTAX passou por mais estradões).

 

Pontos a melhorar:

  • Abastecimentos: embora muito completos, em termos de comida e bebida (havia vários com sopas e sandes), tendo em conta as condições extremamente adversas, poderia ter havido mais abastecimentos. Nas provas TSL e UTAX houve espaços com mais de 15km entre abastecimentos que tendo em conta as condições do tempo e dificuldade do trilho, a meu ver, é demasiado. Na prova TX, dois abastecimentos foi o suficiente.
  • Suporte: mais uma vez, devido às condições climatéricas extremas, penso que poderia ter havido mais suporte (bombeiros ou voluntários) nos troços mais perigosos das provas.
  • Dificuldade extrema no troço final do TSL e UTAX: foram vários atletas que participaram nestas provas que demonstraram alguma insatisfação no que toca ao nível extremos de dificuldade nos últimos 10km de prova. De facto, este troço era comum às três provas, sendo que a maioria dos atletas, passaram neste troço quando este já tinha sido “desbravado” por centenas de atletas que por aí já tinham passado, piorando o seu estado. Havia muita lama.
  • Prémio de finisher: havia prémios para os finishers das provas TSL e UTAX mas não para a prova TX enquanto esta é igualmente considerada "competitiva" no regulamento da prova. No entanto, acho um ponto positivo os prémios serem vestuário (t-shirt técnicas e camisola) e não medalhas.

 

Em suma, sou fã da Serra da Lousã e sou fã do AX Trail. Em 2016, pelo terceiro ano consecutivo, conto voltar. Mas antes disso, gostaria de voltar à minha Serra preferida. Abutres, a prova pequena, talvez, ou então em junho no Louzan Trail.

 

Nota: a primeira foto é da autoria do Miro Cerqueira e as duas últimas fotos são da autoria do Narciso Neves.

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