Race Report: A aventura de Trail pela Serra da Lousã
Por Ana Morais Guerra:
Trail? O que é isso? – era o que as pessoas me perguntavam cada vez que eu falava na minha nova aventura. E lá eu tentava explicar o que era e, depois, os meus amigos exclamavam: - Ahhh! Tu não tens juízo nenhum, pois não? Não!
Depois de uma semana cheia de trabalho e em vésperas de ir de férias, consegui fazer uma mala em tempo recorde e lá partimos à aventura cheios de força de vontade. A viagem foi sempre divertida, carregada de anedotas e histórias de aventuras contadas pelos nossos amigos mais experientes. À chegada esperava-nos a mãe do nosso amigo Pedro Tomás Luiz que nos deixou ficar na sua casa e nos prometeu uma bela Chanfana para depois da nossa aventura.
Depois de arranjar tudo para o dia seguinte, o sono tardava em chegar devido à ansiedade normal antes duma prova, mas esta não era uma prova qualquer. Só no dia seguinte, assim que acordei, reparei que aquela serra tinha muito para contar. Ao chegarmos ao local de partida/chegada reparámos no imenso alvoroço de malta bem-disposta e de reencontros de companheiros de aventura. Pessoalmente, não reconheci muita gente, mas também era a primeira vez que ia correr uma prova deste género. Regressámos aos carros para montarmos o restante equipamento e eu desatei a tirar fotografias à nossa Running Crew.
Foi com um enorme nervoso na barriga que vi partir os nossos amigos que iam fazer o percurso mais longo: 33 Km! Mas foi nessa altura que tomei consciência que ia correr 15 Km pela serra acima - no mapa indicava que seriam mais de 16). 15 Km?
E foi nesta altura que fiquei mais nervosa. Quando soou o tiro de partida lá arranco eu e as minhas amigas e companheiras de aventura (Natália Costa e Joana Malcata) pelo asfalto até à “entrada” para a serra.
Os primeiros 2km serviram para pôr os pés de molho nas seis ribeiras (eu contei mais que isto) que tivemos de atravessar. Quem me conhece sabe que não tenho jeito nenhum para saltar pedras e decidi não arriscar: meti os meus Asics Gel Trabucco logo dentro de água e lá fui eu. Como nos atrasámos um pouco, reparámos que tínhamos 2 moços atrás de nós e que, depois de uma apresentação meio à pressa (sim, tinha de ser à pressa senão ainda podíamos cair dentro de água) ficámos a saber que eram os responsáveis da organização que estavam a “fechar” o grupo dos 15Km.
De repente, vou eu lançada a subir uma pequena escadaria antes de chegar a uma aldeia lindíssima, olho para trás e recebo a indicação que a Joana iria subir mais devagarinho e para eu e a Natália seguirmos em frente. Logo nesse instante começa a cair uma chuva que, de tão gelada que estava, soube maravilhosamente bem (estava cheia de calor tal era o esforço a subir aquilo tudo sem parar).
Na chegada ao primeiro abastecimento tentámos fazer um enorme esforço para não apanharmos tanta chuva e abrigarmo-nos debaixo dum toldo que lá estava. Sinceramente, nunca tenho muita fome durante uma prova mas sabia que precisava de comer para continuar e antes que me faltasse a força para subir o que ainda me esperava. E lá segui eu e a Natália, serra acima e serra abaixo. Deu para correr, andar e pôr a conversa em dia. Quando chegámos ao segundo abastecimento, a chuva ainda não tinha parado. Estávamos nós a saborearmos uma bela fruta molhada pela chuva quando, de repente, avistámos três camaradas vestidos de negro: era a nossa Joana e os “anjos da guarda”. Ficámos contentes em saber que a Joana não tinha desistido. E continuámos pela serra fora, sempre a ver paisagens lindas desta bela serra. Digamos que o trail running é uma forma diferente de fazer turismo.
A caminho da meta, já no asfalto e com o sol a secar rapidamente a minha roupa, apercebo-me que já não tinha pernas para correr. Ao chegar à meta avisto o grande Stefan Pequito que eu pensava que tinha chegado muito antes por ter terminado a prova. Afinal, a prova não tinha corrido como ele esperava. Mas a vida é mesmo assim, não podemos ganhar sempre. Posso dizer-vos que foi das aventuras mais sofridas até hoje mas, também, a que me deu mais prazer de terminar.
Como remate final quero agradecer:
- a todos os meus amigos da crew que deram muita força às “meninas” para nunca desistirem e chegarem ao fim com um sorriso enorme, e especialmente ao Stefan que não arredou pé da meta à espera de toda a crew (e foram muitas horas, acreditem);
- a toda a organização Montanha Clube Trail Running pela bela prova que nos presentearam, desde a malta dos abastecimentos que foram uma grande simpatia até aos nossos “anjos” Sérgio Leal e Jorge Moita que nos acompanharam em grande estilo e nos desenrascaram várias vezes por entre aqueles trilhos;
- e aos pais do nosso Pedro Tomás Luiz que nos deram alojamento e uma bela ceia de chanfana que estava fabulosa.
Prometi a mim mesma regressar a esta prova, mas desta vez não serei a penúltima…espero eu.