Ode ao Azores Triangle Adventure
Paisagens, pessoas e trilhos. Esta é a tríade que faz dos Açores um dos melhores locais do mundo para correr. E o Azores Triangle Adventure é o expoente máximo.
Vão chegando a conta gotas, uns vindo diretamente de Lisboa, outros da Terceira ou de São Miguel. Ao longo de quinta-feira as mais de 130 pessoas que participam vão-se encontrando na cidade da Horta. Tiram as primeiras fotos, sorridentes e nervosos, e partilham experiências, objetivos e dúvidas. São muitas as caras conhecidas o que nos faz sentir um pouco mais em casa e por momentos esquecer que estamos numa ilha longe de casa.
Dorsal levantado, briefing ouvido, hora de jantar e preparar o material para o começo da aventura, afinal ainda há muito por fazer e algumas arestas por limar, uma prova por etapas tem sempre algumas nuances. Arrumar e escolher o material a levar foi em si um desafio.
Primeira etapa da prova, Pico. O desafio é alcançar o topo da montanha que imponente se mostra a quem ousa desafia-la. O sol brilhava intensamente, demasiado, e depois de 10km sempre a rolar a bom ritmo começamos a subir, subir, subir até ao nosso destino final. A primeira parte da subida de Criação Velha até à Casa da Montanha foi o momento mais penoso dos 3 dias. A subida por um caminho estreito e sinuoso foi frustrante e durolosa. Valeu-me a vontade do meu colega de aventura, Ulisses, que me incentivou e deu ânimo para continuar com força. Chegados à casa da Montanha foi altura de recuperar forças e recordar amigos e memórias. Os cerca de 3km até à meta são espetaculares e os mais de 40 pontos de sinalização marcam o caminho até ao ponto mais alto de Portugal. Correr, o termo mais correto será andar, acima das nuvens tem algo de mágico e desperta-nos para o nosso lado mais sonhador.
Alcançada a meta é hora de festejar, gritar e descansar. A parte mais dura ainda estava para vir, o regresso até à casa da montanha que marca o verdadeiro final da primeira etapa. É preciso ter cuidado na descida e guardar energia e água para esse efeito. Mas antes de descer ainda me faltava subir mais um pouco, afinal o pico do pico estava já ali à mão de semear e era uma oportunidade única que não podia desperdiçar.
Depois da primeira conquista, hora de regressar para descansar, recuperar e preparar a etapa seguinte. Ainda havia muito para correr. Entre as viagens de barco e autocarro cada espaço serve para dormir, recuperar e acima de tudo conviver e partilhar. Muita conversa, troca de ideias e experiências.
Segunda etapa, São Jorge. Depois de uma longa viagem de autocarro é hora de chegar ao ponto de partida, São Tomé. Até ao abastecimento da Fajã dos Bodes são 12km com 1200D- e 750D+, um verdadeiro carrossel de sobe e desce com muita humidade, calor e o sol a brilhar com força. Começamos a etapa com uma descida vertiginosa para momentos depois sermos confrontados com uma subida íngreme sempre expostos ao sol. Primeiro teste à nossa resistência, é hora de cerrar os dentes e avançar metro a metro, com as t’shirts e calções colados ao corpo do suor.
Até à Serra do Topo ainda temos que enfrentar mais uma subida e os seus muitos degraus, dentro de uma verdadeira floresta fechada, tendo tido nos bastões o meu maior aliado, não os larguei desde o início, quer seja a subir ou a descer.
A descida até à Fajã de Santo Cristo foi o ponto alto dos 3 dias. Deixei-me ir e corri sem pensar com um sorriso nos lábios a contemplar a paisagem. Chegados a este ponto só restava correr paralelos ao oceano até à meta. Em São Jorge encontramos a verdadeira hospitalidade Açoriana e a maioria dos corredores é convidada a tomar banho na casa de uma senhora, que entre conversa, café e cerveja nos oferece um revigorante banho.
Esta foi a prova que mais gostei, talvez por ter boas memórias de São Jorge ou já ter percorrido a grande maioria da prova, mas a beleza da ilha, os trilhos junto ao mar e as descidas com paisagens fantásticas fizeram desta prova a minha preferida.
Segunda etapa concluída, já só faltam 42km para a meta.
Terceira etapa, Faial. Chegados ao vulcão dos Capelinhos para o ponto de partida desta última etapa não podemos não reparar nas estacas que assinalam o percurso, subir é a palavra de ordem. Mas poderia ser de outra forma? Depois de um começo plano no Pico, outro a descer em São Jorge, no Faial só poderíamos começar a subir. Até à Caldeira seriam cerca de 15km com 1500D+. Talvez por ser a última etapa senti-me cheio de força e assim que foi dado o tiro de partida arranquei a todo o gás. Ao fim do primeiro quilómetro parei, falei com o meu companheiro de aventura que tinha ficado mais para trás. Dois dedos de conversa e ordem para avançar que nesta etapa iriámos ter ritmos diferentes.
Após o primeiro abastecimento entramos nas levadas, momento espetacular da prova, trilhos lindos com muitos pontos de água e perfeitos para rolar. Percorri a maioria das levadas sozinho e é um momento que adoro. Acabado este maravilhoso trilho é hora de subir rumo à caldeira. Chegados até aqui podemos respirar de álivio, o pior já tinha passado. Tinha agora metade da distância por percorrer mas quase sempre a descer ou em plano, ainda deu para rolar alguns quilómetros abaixo de 5m/km.
A Horta estava à vista e com ela a tão ambicionada chegada à meta, o culminar de 3 etapas e 100km percorridos nos trilhos açorianos. O Triangle Adventure tinha sido conquistado.
Fantástico. Desde os trilhos, sempre bem marcados, às paisagens diferentes e únicas, ao povo açoriano que tão bem recebeu os participantes.
Uma palavra de apreço para a equipa do Azores Trail Run que está de parabéns pelo trabalho fantástico na organização da prova, sempre bem-dispostos e disponíveis para ajudar.
Gosta de trail? Quer conhecer os Açores? Quer participar numa prova por etapas? O Azores Triangle Adventure deve estar no topo da sua lista.