Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Correr na Cidade

My Path to MIUT 2015 - Histórias de uma jornada - O MIUT (2ª Parte)

18094289_cJzzO.png

Por Pedro Tomás Luiz

 

Voltando ao início…

Como já aqui escrevi, esta jornada até ao MIUT primou por vários percalços e testes à minha resiliência… Desde queimaduras, a uma gastrite, sendo "a cobertura de chocolate" a varicela.

 

Sim… durante 20 dias penei com medo de ter apanhado varicela. O meu colega de escritório adoeceu, e como não sou imune, teria uma elevadíssima probabilidade de contrair a doença. A matemática não enganava, tendo em conta o período de incubação, o período de quarentena e o tempo que me levaria a restabelecer, se a doença aparecesse não tinha qualquer hipótese de ir ao MIUT.

 

Assim, até ao término do período de incubação (que foi no dia em que parti para a Madeira) vivi um misto de angustia e paranoia (AHHHH!! Uma borbulha!), sem nunca virar a cara à luta.

 

Mas quando se faz um bolo e se coloca a cobertura, fica a faltar a cereja… e essa foi colocada no dia da partida para a Madeira. Olho para o bilhete e diz - partida 09:20, olho para o placar e diz - partida 08:20… um chorrilho de impropérios e corri para o check-in. Tarde de mais já tinha sido cancelado logo já não podia viajar naquele voo.

 

A agência de viagens havia-me emitido um bilhete com a hora errada e mesmo com extremo profissionalismo da TAP, só podia voar às 15h, o que me poria uma manhã a “marinar” no aeroporto e arrebentaria com todos os planos para a tarde.

 

A quinta  e a sexta foram passadas a descansar e a preparar o material.

 

RacePRofile.png

 

Como havia referido o meu desafio teve duas etapas bem destintas: antes dos 90km e depois dos 90km...

 

Antes dos 90km

23:30 - 00:00 Porto Moniz

 

Com um ambiente fantástico, Porto Moniz fervilhava com a energia dos atletas.

GOPR1232_1429220739350_high.JPG

 

Pude observar de tudo, quem estivesse descontraído, quem procurasse estar recatado, quem estivesse entretido à conversa contando as façanhas de outras provas...

 

Da minha parte fiz o programado, ou seja wc, comer, fotografias da prache, uns dedos de conversa, que incluiu o Luis Fernandes (estava bem descontraído) e sentei-me numa escada a apreciar todo aquele movimento de cor e aguardando o controlo 0.

 

GOPR1234_1429220752239_high.JPG

 

 

00:00 - 06:43 Estanquinhos

Saindo de Porto Moniz, os primeiros 30 km foram pautados por duas grandes subidas e uma grande descida. Num ritmo vivo, mas sem apertar muito, pude observar a enorme serpente de luzes que subia a serra e conter-me para não ceder ao entusiamo daqueles primeiros km.

 

Assim, chego ao primeiro abastecimento quase em último lugar.

 

Este abastecimento bem organizado tinha de tudo um pouco bolo, pão, canja, figos secos, laranjas, bananas, marmelada etc…  ou seja bem recheado.

 

Como pouco e sigo. O frio fazia-se agora sentir intensamente e a descida até ao Chão da Ribeira, tida como uma das mais dificieis toda a prova tinha de ser feita de forma muito cautelosa. Com isto em mente, pude comprovar a dificuldade que é correr com um piso técnico muito escorregadio e encoberto pela noite escura. Mesmo com o frontal no máximo nem sempre era fácil distinguir o relevo do terreno e de vez em quanto lá havia uns tropeções.

 

Saindo imaculado desta descida começo a longa subida até estanquinhos, feita maioritáriamente por um corta-fogo e voltada para o vento de norte.

 

06:43 - 12:57 Curral da Freiras

 

Chego ao abastecimento de Estanquinhos e aqui acontece, na minha opinião, a grande e gigantesca falha da organização. O abastecimento parecia um cenário de guerra, com tudo virado do avesso, sem bebidas quentes, sem canja e com uns restos de coisas que lá andavam pela mesa. Questionei o responsável pelo posto que me respondeu “quem veio à frente comeu tudo..” o que foi uma meia verdade, dado que os atletas dos 85km, que partiam daquele local, tinham estado a tomar o "pequeno almoço" naquele abastecimento, o que de todo me pareceu uma aberração.

 

Solução? comer uma barra e seguir... Problema... as barras apesar de estarem amplamente testadas e de eu adorar, simplesmente não estavam a entrar. Não insisiti peguei numas gomas e agarrei-me a isso. (As barras que levei para a prova voltaram todas... aquele não era o dia de comer barras)

GOPR1240_1429220685316_high.JPG

Depois de Estanquinhos segue-se uma descida monumental até ao Rosário. Obviamente tendo saido do abastecimento pouco antes da partida dos 85km, iria rápidamente ser apanhado. O que não estava à espera é de literalmente ser engolido por uma multidão que desalmadamente descia o largo estradão. 

 

Assim que passamos a trilhos mais técnicos passou a ser dificil progredir porque os trilhos estavam totalmente entupidos.

 

O resto do caminho até à Encumeada não teve grande ciência, foi-se fazendo.

 

Se Estanquinhos, como abastecimento, tinha sido um desastre, a Encumeada era o seu oposto. Dentro de um Hotel, com mesas e bancos pude sossegadamente tomar o pequeno almoço e informar a familia que estava tudo bem.

 

Saído da Encumeada segue-se a longa subida até ao Curral das Freiras. Primeiro com uma escadaria monumental junto a um aquaduto, que quase não se via o final e depois com uma subida de pouca inclinação mas bastante longa. A paisagem valia cada passo que dava...

 

IMG_20150411_114619.jpg

Do outro lado da montanha, que podem ver na foto de cima começava a descida para o Curral.

 

Com o calor já fazer-se sentir e mesmo tendo enchido os dois flasks e o camel bag, a minha taxa de consumo de água estava elevadíssima o que me levou a arriscar beber um bocado da água da montanha... correu bem.

 

12:57 - 18:19 Pico do Areeiro

 

Depois de mais uma descida técnica mas nada do outro mundo chego finalmente ao Curral das Freiras. Almoço, faço um check-up aos pés e virilhas tudo Ok! ora de partir... esperava-me as subidas mais longas e difíceis. Teria de subir primeiro ao Pico Ruivo e depois ao Pico do Areeiro, sendo que por esta altura os 60km já se sentiam.

 

Mal começo a correr depois do abastecimento, sinto uma moinha no joelho esquerdo - mas que raio isto não estava aqui! esta dor suportável mas chata à brava iria-me acompanhar até ao Pico do Areeiro. Várias vezes amaldiçoei aquela dor e todas as vezes me lembrei do Filipe que fez o Piodão com meio joelho.

 

Esta parte da corrida foi talvez das mais dificeis porque passei, não só pela dor, como pelos degraus e inclinação do terreno. A paisagem era de tirar o folego, com passagens por túneis, penhascos vertiginosos e montanhas de perder de vista . Aqui valeu acima de tudo os amigos que encontrei... ir na conversa sempre ajuda a espairecer.

 

A revolta dos Pasteis estava prestes a começar...