My Path to MIUT 2015 - Histórias de uma jornada
Por Pedro Tomás Luiz
Explicar porque decidi correr os 115km do Madeira Island Ultra Trail, é muito mais do que simplesmente explicar a minha relação com a corrida, é explicar a forma como este desporto mudou a minha forma estar, é explicar a forma como esta paixão molda todos os dias a minha vida.
É incontornável que ser filho de um pai corredor, daqueles que corre há 40 anos, que passou por uma época em que as corridas não eram pagas (sim isso era o normal), em que os atletas ganhavam medalhões e medalhas, em que os calções se queriam curtinhos e a meias bem brancas, onde o melhor relógio era um Casio, onde os atletas sabiam o seu ritmo apenas por puro feelling e onde quem corria ou era maluquinho ou ia apagar um fogo, moldou definitivamente a forma como encaro a corrida e tudo o gira à volta dela.
Em miúdo, as primeiras memórias que tenho da corrida, remetem para um jogo “parvo” que o Paulo, meu colega de carteira da escola primária, organizava. Este jogo consistia basicamente em correr em fila indiana, pelo recreio da escola, seguindo as pisadas do líder do grupo, que ia trocando à medida do que nos dava na vinheta.
Já no liceu, e com claramente pouca apetência para o único desporto leccionado e praticado na escola, o futebol (já em adulto descobri que até conseguia dar uns toques razoáveis, mais ou menos o suficiente para ajudar a equipa e não comprometer muito, mas uma bela sarrafada de um individuo, causou-me a pior e mais difícil lesão desportiva que tive até hoje, um belo de um entorse da articulação tíbio-tarcica, com direito a um mês de canadianas e 4 meses até deixar de sentir dores), optei sempre por participar nos inter-escolas de corta-mato e nas caminhadas organizadas pelas professora Tabita.
Mais ou menos por esta altura começo a ir com o meu pai algumas corridas de bairro. Naquele tempo, com excepção de umas poucas de provas como seja a Nazaré, Lampas ou as Fogueiras, a grande maioria eram provas de bairro organizadas pelas coletividades e grupos desportivos, onde apesar do amadorismo a competição era ferranha.
Poderia vir agora dizer que em criança, tinha sido um corredor brilhante com muitos pódios etc… e tal…, mas a verdade é que sempre fui grande e mais pesado que os outros miúdos, o que era, e ainda é um factor determinante. Lembro-me apenas de um honroso 3º lugar, que podia ser segundo se eu não tivesse tido a brilhante ideia de me por a olhar para trás, à procura do outro puto, o que me fez perder velocidade e ser ultrapassado.
Durante os anos seguintes a corrida e o desporto em geral, estiveram arredados totalmente da minha vida até ao dia 26 de fevereiro de 2012 o dia da Epifania.
Neste dia decidi acompanhar o meu pai no Grande Prémio do Atlântico, que para quem não conhece é uma corrida de 10km, organizada pelo Núcleo Sportinguista de Costa de Caparica, com um belo percurso, totalmente plano e brindado em quase toda a sua extensão pelo mar.
Dado o tiro de partida sucedem-se em catadupa a série de acontecimentos que tornaram este dia tão especial. O primeiro foi o meu pai, com 64 anos na altura, dizer-me que no final vai ficar à espera junto ao carro (terminou com 10 minutos de avanço), logo de seguida encontro uma senhora, que do alto do seus 70 e tal anos me pergunta “sabes porque é que eu vou a correr na estrada e tu vais na ciclovia?", eu encolhendo os ombros abanei a cabeça – "porque eu vou de mota e tu de bicicleta” e arranca sem que eu nunca mais a veja, e por último, a cereja no topo do bolo, foi eu fazer a prova com um senhor de 82 anos que simpaticamente se disponibilizou para “puxar” por mim.
Conclusão… 1:02:48, bofes de fora e muita coisa para pensar… nomeadamente que havia algo de muito errado em todo este cenário.
Desde aí muita coisa mudou… perdi peso (de uns simpáticos 102kg para os atuais 86kg), vi a minha capacidade de concentração melhorar significativamente assim como o meu rendimento no trabalho. Passei ter mais confiança em mim mesmo e naquilo que sou capaz de alcançar. Tornei-me mais metódico e organizado combatendo o meu elevado nível de procrastinação. Mas acima de tudo compreendi que correr é para mim um desafio, que me liberta, onde na procura de ir mais alto e mais longe sou levado a locais da minha mente nunca antes descobertos explorando os limites da minha resiliência física e mental.
Assim, encaro o MIUT com humbição (humildade + ambição), ou seja por um lado com a humildade de compreender que sou uma pequena formiga à beira dos 115km e dos 6800 D+, mas por outro com uma enorme vontade de superar este desafio gigante.
Dia 10 de abril, 00h, lá estarei, pronto a iniciar este desafio com o apoio do CnC e da Outpace.
Até lá acompanhem-me no meu caminho até ao MIUT 2015.