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Correr na Cidade

Já ouviste falar na "Barkley Marathons"? Não? Então tens de ler isto!

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Já ouviram falar da “Barkley Marathons”? Não? Eu também não, até há alguns meses atrás, quando me deparei no Netflix com um documentário "The Barkley Marathons: The Race That Eats Its Young".

 

Sendo tema que nos interessa particularmente, resolvemos ver o documentário. Bem, se eu achava que “Mont Blanc” era o suprassumo das provas de trail, estava errada! Bem, continua a ser uma prova “chique” para participar, mas prova dura e crua de trail (que nem sei se se deve chamar de trail: talvez prova sobrevivência(?), trail adventure (?), "prova que tens tomates" (?)), encontrei aqui na Barkley Marathons!

 

A prova consiste em 5 loops de 20 milhas à volta do Frozen Head State Park (que todos os anos vai mudando e aumentando, mas continuam sempre a ter “oficialmente” 20 milhas), mais de 18.000m de acumulado+, e com apenas 2 pontos de água. Existem cutoffs: 12 horas por loop para as 100 milhas e 40 horas para a “fun run” de 60 milhas (3 loops).

 

A ultramaratona começa não com um tiro de partida, mas quando o Gary Cantrell, co-fundador da prova, sem hora marcada, acende um cigarro.

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Não se pode usar GPS’s (levam apenas o velhinho Casio, porque ali, só se pode utilizar mapa e bússola). Para provar que o participante completou cada loop corretamente, existem livros ao longo do percurso (entre 9 a 11), e se o seu dorsal é o 20, terá de arrancar a página 20 de cada um desses livros, e no final de cada loop entregar e comprovar que passou nos sítios corretos, porque não existe percurso marcado!

 

Não podes desistir a meio: terás de chegar à meta para declarares oficialmente que desistes, e ouvirás a corneta a tocar a musiquinha fúnebre:

 

 

Mas se conseguires chegar ao fim, juntar-te-ás há curta lista dos 17 finalistas que conseguiram concluir a prova dentro das 60 horas, desde 1986 (e em muitos nem finalistas existiram!).

 

É uma prova além de física, muito, mas muito mental. E ainda não houve uma única mulher a terminar as 100 milhas! Apregoam mesmo que não é uma prova para mulheres, que nós não conseguimos (alguma que nos esteja a ler que queira se candidatar?)

 

Como estojo de primeiros socorros, têm fita cola e vaselina: segundo os fundadores, tudo se pode curar com estes dois elementos!

 

E como nasceu esta prova?

Da fuga da prisão Brushy Mountain State, de James Earl Ray, o assassino de Martin Luther King Jr, prisão esta onde se encontra a “nata” dos piores criminosos, e que por ser cercada pelas montanhas de Tennessee, a torna quase à prova de fugas. Os locais chamam às montanhas "a terceira parede": se conseguires passar pelas duas primeiras paredes da prisão, não vais escapar da terceira. A fuga de Ray durou 54 horas, e encontraram-no a 8 milhas da prisão.

Os fundadores acharam que conseguiriam fazer muito mais naquelas 54 horas. E nasce aqui a prova, inicialmente com 55 milhas, e em 1989 passou para as 100.

 

Quando pesquisava sobre esta prova, encontrei a seguinte frase, que a descreve bem: “Most ultra-runs are designed to push participants to their limits. The Barkley is designed to make them fail.

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Processo de inscrição: $1,60 e ainda, se te inscreves pela primeira vez, terás de entregar uma placa da matricula da cidade/país de origem; para um repetente que tenha desistido no ano anterior, ou tenha sido cortado, terá de entregar um par de meias, camisas de flanela, depende do que os fundadores precisam no momento (não gostam muito de ir às compras!); para um repetente, mas que tenha concluído a prova em anos anteriores, um pack de cigarros de uma determinada marca.

 

Está limitada a 40 participantes, que no momento da sua inscrição, terão de escrever uma composição, demonstrando porque deverão ser eles os escolhidos e não outros. Imaginem-se numa entrevista de emprego. É a mesma coisa, mas versão trail.

Depois é basicamente uma questão de sorte: têm slots para diferentes tipos de candidatos, como estrangeiros, elite (corredores com CV substancial); “patronos” (corredores que contribuem com quantias significativas de dinheiro para poderem participar), e todos os restantes participantes inscritos, é uma questão de ponderações, e são escolhidos à sorte.

Depois de selecionados 50 participantes (porque contam que em média 10 não consigam participar na prova), estes recebem a carta de “condolências”, a informar que foram selecionados.

 

Prémio de finisher: o simples facto de pararem de correr!

 

Ficaram curiosos? É que existe tanto para contar, e tantos pormenores sórdidos e deliciosos sobre a prova, que vos aconselho a verem o documentário "The Barkley Marathons: The Race That Eats Its Young", ou a verem os relatos no youtube!

Incrível!

 

Não, não sou maluca o suficiente para participar, mas não me importava de viver o ambiente da prova!

 

Boas corridas!

 

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