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Correr na Cidade

GTA: “O” dia que afinal não foi “O” dia e o final feliz

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Na meta do terceiro dia. Felizes embora não tenha sido "O" dia. Foto: João Borges

Por Bo Irik:

 

Ontem falei-vos das primeiras duas etapas do Gerês Trail Adventure, uma prova de trail de quatro etapas que decorreu no passado fim-de-semana na Serra do Gerês. Enquanto continuo com um sorriso na cara de tanta satisfação que esta prova me deu e os pés ao alto por ter os tornozelos inchados e doridos, tentarei transcrever a minha vivência das duas últimas etapas da prova.

 

Já com 50km e 3000D+ nas pernas (e na cabeça) das duas etapas anteriores, nunca pensei que as duas últimas iriam correr “tão” bem. É claro que o “tão” é relativo, pois, a nossa classificação final não é famosa e nem conseguimos passar a barreira horária das 7 horas aos 30km da terceira etapa. No entanto, o que interessa é que EU acho que estivemos muito bem. Muito acima daquilo que sonhara que o meu corpo aguentaria. De facto, é incrível, e continuo pasmada com “poder” do nosso corpo quando realmente queremos. O Gerês mostrou-me que sou muito, mas muito, mais forte daquilo que alguma vez julgava e que em equipa e com vontade somos capazes de puxar os nossos limites mais e mais e mais.

 

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 “O” dia que afinal não foi “O” dia foi terminado em GRANDE. 

 

Stage 3 – sábado dia 2 de maio – 7h00 – 35km – 2200D+

 

Percurso / organização: Enquanto o site do evento anunciava 60km para esta etapa, no dia, ouvia-se falar em 65km, que afinal, devido às condições climatéricas adversas, foram reduzidos a 50km, que, por sua vez, no nosso caso, se reduziram a 35km. Num terceiro dia chuvoso, a Elisa Canário juntou-se à nossa equipa. Foram então oito pernas que estavam decididas a cruzar o corte aos 30km dentro do prazo de 7 horas para poder completar a prova toda e não ter que desviar e fazer “apenas” 35. Sete horas para 30km seria extremamente acessível, esquecendo que estaríamos no Gerês, abaixo de chuva intensa e já com algum cansaço dos dias anteriores. Mesmo não esquecendo esses desafios, acreditava sinceramente que iríamos conseguir. E acreditei, e a Elisa também, até chegarmos de facto ao abastecimento e o sonho desaparecer com um excesso de 20 minutos sobre as 7 horas permitidas.

 

Voltando ao percurso: nos primeiros 5km subimos 500m, algo que adoro (NOT!), principalmente às 7h da manhã (altimetria no meu Strava). Mas depois de uma subida destas apanhamos uns single tracks muito giros a descer. Abastecimentos bons com sopinha para aquecer. Depois desta descida maravilhosa de cerca de 5km, assustei-me, pois estávamos a descer muito. Descemos tanto que chegamos à fronteira de Braga com Vila Real (250m de altitude), sendo que a partir daí foi uma subida quase sem fim, de 9km, até atingirmos quase 2000m de altitude. Foram 9km muito duros (ilustrados na primeira foto do post anterior): muita pedra, poucos caminhos existentes. Era uma questão de seguir as fitas, sempre a subir e criar o nosso caminho.

 

No ponto mais alto, foi engraçado porque, embora ainda estivéssemos a cerca de 10km da fronteira com Espanha, o meu telemóvel já dava a mensagens de “Boa viagem”, que agradeci de bom grado, pois, a viagem ainda era longa :) Faltavam 10km até ao corte, nem queria olhar para o relógio, apenas queria correr. Fomos premiados com uma descida muito técnica e íngreme. Quem diz descida, diz espécie de cascata. No abastecimento depois desta descida praticamente não parámos (a Elisa e eu) porque depois viria uma valente subida e os rapazes logo nos apanhariam. Subimos um km e descemos cinco. Descemos pois, mas mais uma vez, um percurso sem caminho, só a seguir as fitas, muita pedra, muita água. Chegamos ao corte dos 30km e aí apercebemo-nos que de facto, afinal, aquele dia não foi “O” dia. Com um desvio direto para a aldeia do Gerês, uma descida muito bonita que terá sido deliciosa se tivesse tido pernas para corrê-la, terminámos esta etapa com cerca de 35km.

 

Desempenho: Gostei muito do facto de a Elisa se ter juntado à nossa equipa. Sabia que temos ritmos relativamente idênticos. Pode parecer estúpido, mas na equipa, com o Nuno e o Tiago, a Elisa seria o segundo elemento menos forte, juntamente comigo, o que, de certa forma, me deu força e motivação. Nem sei explicar bem, mas o que interessa é que fiquei muito feliz e motivada e estava confiante de que a nossa equipa, a oito pernas, iria conseguir passar a barreira da sete horas sem problemas. Essa confiança teve altos e baixos ao longo dos 30km, mas confesso que acreditei até ao último minuto e evitei olhar para o relógio e simplesmente dar o meu melhor ao longo dos kms.

 

A confiança teve logo um declínio na subida inicial. Foi dura, havia muita humidade, e o facto de a Elisa ter ficado ligeiramente para trás também não ajudou. As meninas estavam claramente com problemas de arranque enquanto os meninos subiram bem. Felizmente a descida já correu melhor às meninas também e a equipa foi coesa até ao km 10 que fizemos dentro das 2 horas. Tudo controlado.

 

A grande subida depois, embora as paisagens nos fascinavam e davam energia e um dos meus sonhos – o de ver cavalos selvagens – se concretizou, foi uma experiência intensa e longa. Foi algo esquisito. Cada um foi um pouco “na sua”, se bem que o Tiago de vez em quando vinha para trás para nos “empurrar”. Foram horas de introspeção. Falamos relativamente pouco. Consegui gerir bem a alimentação e lembrava-me da dica do João Campos – “enfoca-te” – e entrava num tipo de transe. Caminhava rápido, a olhar para o chão, sem pensar. Quando chegamos ao cimo da montanha, a pressão já era muita e descemos a voar. A Elisa e eu em frente e nem gastámos tempo no abastecimento, pois, continuávamos a acreditar que iriamos conseguir (a Liliana e o Luís estavam nesse abastecimento e até levei mais dois geles, que iria precisar para os 60km). Entretanto, o Tiago e o Nuno, muito mais racionais que nós (escrevo pela Elisa também mas nem sei se ela concorda hihi), já tinham cedido à ideia de não conseguirmos cumprir a barreira horária.

 

Convencemos os rapazes, pois poderia haver uma tolerância ou a barreira poderia ter sido antecipada, sei lá e corremos onde pudemos, saltamos pedras, poças, lama, ultrapassamos, caímos e lutámos até ao estúpido abastecimento onde o sonho de fazer o GTA na sua totalidade desapareceu. Foram 20minutos. Sim, foi por 20 minutos que não fizemos os 50km, mas sim fomos desviados para chegar à Vila em cerca de 5km.

 

Foi uma desilusão. Foi. Mas posso dizer que dei tudo, que lutei até ao fim, e que me senti forte, independentemente do resultado, pelo que nem fiquei muito triste. No dia seguinte haveria mais e para o ano hei-de conseguir. Penso que toda a equipa partilhou este sentimento. Mesmo assim, a descida até a Vila foi desmotivante. Já não nos apetecia correr e começou a doer tudo. Mais perto da meta e com alguma animação dos rapazes, os sorrisos voltaram e cruzámos a meta de mãos dadas, sem ter atingido o nosso objetivo mas de alma cheia e orgulhosos daquilo que conseguimos fazer.

 

Alimentação: Pre-Workout da Gold Nutrition, 1 gel Biotech, 1 gel Gold Nutrition, 1 barra de frutas da Aptonia, sopa, batatas fritas (muitas!), cajus, água, isotónico, Fast Recovery da Gold Nutrition e massa na Pasta Party.

 

Calçado / materialCalçado / material: Merrell AllOut Peak e mochila Raidlight Olmo pequena. Mais uma vez, não larguei os bastões.

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 "Sobe!!! Não pára!!!"

 

Stage 4 – domingo dia 3 de maio – 16km – 1100D+

 

Percurso / organização: Para fechar a prova em grande, foram 16km, basicamente com três “picos” em termos de altimetria. Quase 400D+ em 4km para aquecer, ao longo e cruzando a Nacional 308-1 em single tracks simpáticos. Descida até ao km 6 e entre o km 6 e 8 uma subida e descida ao longo de cascatas e paisagens com uma flora muito diversificada e caminhos muito giros. Do km 8, onde apanhamos o abastecimento, ao 10, prometeram-nos a última subida da prova, feita em single track e depois estradão. A partir do km 10, um planalto e depois descida mega técnica com pedra, lama e whatever, até a última meta, a meta da última etapa, no nosso caso, a meta dos 100km  em quatro dias. Foi um percurso, a meu ver, muito bem conseguido para fechar o programa de festas. Embora não parasse de chover, deu para apreciar as paisagens, os cheiros, a paz da Serra.

 

Desempenho: Quem dira que depois de 85km em três dias, estaria na partida com tanta pica, sem dores musculares, apenas nos tornozelos (sobrecarga, dizem :p ). A pica rapidamente desapareceu quando começamos a subir em alcatrão mas lá consegui manter a cabeça erguida e o sorriso voltou assim que apanhamos terra nas solas dos sapatos. Subidas muito íngremes onde os bastões foram, para mim, indispensáveis. Normalmente, tenho imensa dificuldade neste tipo de subidas e tenho a mania de parar para recuperar o fôlego, mas tenho vindo a aprender a não parar e sim, a abrandar para recuperar, ou então, simplesmente insistir até lá em cima : ) Assim foi. Pareciam degraus entre raízes e pedras, gostei. A segunda descida soube muita bem e o Chefe Malcata foi a abrir caminho pela montanha abaixo. Ignoramos as dores, corremos e ultrapassamos. Enfiamos umas batatas fritas na boca no abastecimento para enfrentar a última subida, a última das últimas. Custou-me horrores. A paisagem era bonita. Apreciei o silêncio da Serra (andei os dias todos com phones na mochila, mas nunca cheguei a “precisar”). Mas estava cansada. Não queria subir mais. Os rapazes foram se afastando de mim e a desmotivação foi me invadindo. De repente vejo o Tiago sentado no chão. Sim, sentado, a gozar comigo com a GoPro na mão, e recuperei alguma motivação. A partir daí o Tiago não me largou mais e puxou muito por mim. “Dá tudo”. “Estamos quase”. “É agora ou nunca”. Queria e tentei mas a subida deu cabo de mim. Não conseguia respirar devidamente. Começou-me a doer a cabeça. Aí o Tiago “deixou-me” parar um pouco, beber, respirar com calma. Recuperei.

 

Quando chegamos lá em cima, a festa começou. Basicamente uma força invadiu-nos, aos três, e arrancamos a fugir como se não houvesse amanhã. Deixámos as dores lá em cima e voamos Serra abaixo em direção à Vila. Fomos a um ritmos de 8 a 9 min / km mas no momento parecíamos super heróis. Foi ótimo ouvir o Tiago dizer que estava orgulhoso de nós, de mim e do Malcata, por termos “perdido o medo”. Segundo ele, estávamos a correr sem pensar. Just go. E é assim que se deve correr. Soube tão bem!

 

Quando chegamos ao alcatrão, ia em frente, com dores nas canelas, e nem conseguia parar de correr com medo de depois não conseguir arrancar novamente. Abrandei, os meninos apanharam-me e, pelo quarto dia consecutivo, cruzámos a meta de mãos dadas e sorriso na cara (um pouco coxa e com algumas expressões que poderiam transparecer dor, mas orgulhosa e satisfeita)!

 

Alimentação: Pre-Workout da Gold Nutrition, 1 gel Biotech, batatas fritas (muitas!), água, isotónico, Fast Recovery da Gold Nutrition e uma bela bifana e sopa e cervejaaaa na Festa Final da prova.

 

Calçado / materialCalçado / material: Merrell AllOut Peak e mochila Raidlight Olmo pequena. Mais uma vez, não larguei os bastões.

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Uma das muitas excelentes fotos de Peh Siong San

 

Ufaaaa. Consegui. Terminei. Tenho muitas mais coisas que gostaria de partilhar convosco. Tenho muita gente que gostaria de agradecer. Mas fico por aqui.

 

Hoje, 5ª feira, após uma massagem desportiva na 2ª feira, não tenho dores musculares e ontem já me apetecia correr, mas vou ouvir o corpo e descansar um pouco mais porque continuo com alguma dor e inchaço nos tornozelos. Há-de passar rápido.

 

Em relação ao GTA15, amanhã ainda partilharemos umas considerações gerais da prova e claro, o nosso vídeo, está quase a sair do forno.

 

Para já posso dizer que já marquei as datas do GTA16 na agenda. Será uma prova prioritária perante todas as outras. É a mais desafiante, a mais dura, a mais bela, a mais unida e a com mais amizade. É a melhor.

 

Obrigada.

Bo

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