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Correr na Cidade

Esta malta maluca que corre!

Pedimos à Marta Moncacha, autora do blog Dolce Fare Niente e co-autora do livro "As Mulheres não Sabem Estar Caladas" que escrevesse sobre o Correr na Cidade e a forma como lhe temos "roubado" o marido aos domingos de manhã...

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Vi o Filipe Gil pela primeira vez num encontro de bloggers, há coisa de um ano e tal. Na altura já tinha começado a correr, mas estava longe da realidade dos blogues de corrida e,menos ainda, das running crews. 

 

Correr era vestir-me a preceito  e nunca com vontade, e pespegar-me em Belém com uma amiga, as duas sozinhas e em absoluto silêncio {não fosse a conversa roubar-nos o fôlego}, e desatar a correr cinco quilómetros a passo de caracol. Eu, pelo menos.

 

Não sabia que havia malta a fazê-lo em conjunto, nem que a corrida podia ser o mote para amizades à prova de bala. Na altura, ainda não sabia. Descobrir o Filipe no dito encontro foi uma feliz coincidência, já que na altura eu assinava a rubrica "blog{in}" no Roteiro 30 Dias, e andava sempre à procura de bloggers que morassem no Concelho de Oeiras e que tivessem coisas giras para dizer. 

 

O Filipe cumpria todos os requisitos, porque para além de ser cá da terra, escrevia um blogue de corrida chamado Correr na Cidade, mobilizava marcas como quem come gelados de morango no Santini e tinha criado, há pouco tempo, uma running crew.

 

Escrevi sobre ele e, soube depois, que esse foi um dos textos mais lidos daquela rubrica. A corrida estava a democratizar-se e já não era preciso ser-se uma Jéssica Augusto para correr. O comum dos mortais podia fazê-lo. As mães e avós de família, o vizinho do lado, o papagaio. Já ninguém reparava nas gordurinhas a dar a dar de quem não era do mundo da corrida, nem nos tempos e distâncias dos outros. Toda a gente podia correr e ponto final.


Depois disso, cheguei a juntar-me a um treino Just Girls, em Belém. Fui, literalmente, o carro de arrasto do treino só para meninas, promovido pelo Correr na Cidade, e percebi que estava a anos luz de todas as participantes. Ainda assim, serviu para constatar que a corrida era também um assunto de mulheres. E que as marcas finalmente percebiam isso, tornando os ténis e a roupa de corrida cada vez mais "girly", graças a Deus.  Ao longe, éramos uma nuvem colorida de mulheres giras e sem vergonha de assumirmos a nossa feminilidade, ao contrário da visão tenebrosa {pelo menos para mim}, de mulheres enfiadas em "t-shirts saco de batata", claramente desenhadas para homem.

 

Em Setembro passado, a crew do Correr na Cidade foi convidada pela Câmara Municipal de Oeiras a participar na Corrida do Tejo e o meu homem, pertencendo à organização da prova, conheceu finalmente o Filipe. 

Daí até hoje, passaram a treinar juntos e, gradualmente, percebo que os meus fins-de-semana vão sendo cada vez mais próximos desta malta maluca da corrida e dos trails. Desta crew de gente porreira, que acolhe quem gosta genuinamente de correr, como numa tribo. 

 

Malta que fala chinês. Hydration packs, softflasks, buffs, altimetrias, fartlek e afins. Malta cujos olhos brilham quando relatam uma meta ultrapassada, um desafio superado, uma lesão curada. Malta solidária à séria, que espera por quem precisa, que motiva quem está para desistir, que se chega a lesionar por correr mais devagar, quando a palavra de ordem é acompanhar quem o faz noutro ritmo. E mesmo que não se goste de correr {o que, claramente, já deixou de ser o meu caso},  é impossível ficar-se indiferente a este grupo de gente boa. Que contagia porque faz o que gosta. 

Uma pérola nos dias que correm.

Marta Moncacha