Entrevista Paulo Garcia - Director Prova Monte da Lua em Sintra
( Foto : Manuel Antonio )
Por Tiago Portugal
No próximo sábado vai-se realizar a Quarta edição do Trail Monte da Lua em Sintra, na praia das Maçãs.Fomos entrevistar o director geral da Horizontes para saber mais detalhes sobre o evento e o que os atletas podem esperar para 2015.
A edição deste ano do Ultra Trail de Sintra Monte da Lua terá alguma novidade relativamente ao ano passado?
Tem. Não o conseguiremos sempre em futuras edições, mas a de 2015 ainda conseguimos introduzir algo de novo. A grande novidade este ano é a passagem por mais uma emblemática quinta em Sintra, a do Relógio. Isto para a distância maior. A mais pequena terá sempre as limitações da distância. Para conseguirmos ir mais longe, com 25/26 km teríamos de ter um percurso com inicio e fim em locais diferentes e isso não é nada fácil quando os apoios da Câmara se limitam à isenção das taxas de licenciamento.
Porque o nome Monte da Lua ?
Sempre desejámos um nome que nos transportasse para a história do local, e Sintra, na antiguidade, era conhecida por Promontorium Lunae ou Monte da Lua. Depois há todo aquele misticismo em volta de Sintra que não queríamos deixar de incluir na marca.
Qual a diferença entre esta prova e a outras que já existem ? O fato de ser perto de Lisboa é uma mais-valia ?
A grande diferença são os locais de passagem. Não conhecemos nenhuma prova em todo o mundo que comece na praia, que passe por vários monumentos históricos e património da Humanidade, no meio ainda visite o farol no extremo mais Ocidental da Europa, Cabo da Roca. É realmente único correr por locais com a História da Quinta da Regaleira ou Castelo dos Mouros (Este passamos uma tangente às muralhas, não vamos propriamente dentro do Castelo).
A aproximação a Lisboa, a grande metrópole portuguesa traz mais participações e faz o evento maior. Há outra festa e alegria quando muita gente saudável se junta para praticar o que gostam. Este pode ser o evento de Trail Running de referencia na chamada grande Lisboa. Este ano serão mais de 600 pessoas de todo o país e estrangeiro. Temos alguns estrangeiros, por exemplo da Finlândia, que vêm a Portugal de propósito para a corrida. Naturalmente que após a mesma farão outros roteiros. Este trabalho ainda não foi suficientemente valorizado pelo município e Turismo de Lisboa.
O que podem os atletas esperar desta prova ? Como é o percurso (altimetria, locais emblemáticos) ?
Podem esperar diversão, deslumbre, história e evasão. Os menos preparados terão à sua espera desespero e um desgaste físico enorme. As distâncias finais serão dadas em primeira mão, através do guia do participante, aos participantes. No entanto elas não são muito diferentes a 2014. Temos uma distância acima dos 52km e pouco mais de 2000D+, e a distância mais curta com um D+ de 1000 metros e 26,5km.
A Serra de Sintra é um local muito popular entre os amantes de trail. Existe algum momento da prova que se destaque ? E quais são as principais dificuldades desta prova ?
Bem, teremos momentos diferentes dependendo da forma como se vem para esta prova. Quem vier à procura de grandes subidas e trilhos mais técnicos terá o Parque das Merendas, alguns trilhos no interior da Serra e as Arribas, até e depois, do Cabo da Roca. Aqueles que trazem o espírito de "Maraturista" terão espaços únicos de passagem. O Poço iniciático, na belíssima Quinta da Regaleira, é um bom exemplo disso. Mas não se esgota aí, até porque as maravilhosas vistas das Arribas para a Praia da Ursa e Adraga são momentos únicos para os menos ligados a motivos mais místicos e históricos.
Para os 50 km o Parque das Merendas, logo à saída da Regaleira, alguns trilhos na floresta e as Arribas são grandes dificuldades. Para o K20 a zona das arribas. As arribas, até e depois, do Cabo da Roca exigem ainda cuidados especiais. O declive é acentuado e o piso escorregadio.
Nos últimos tempos temos assistido a um aumento da oferta de provas de trail. O mercado já está saturado ou ainda pode crescer mais ?
O mercado de corredores já estagnou. Só que estagnou em alta. O mercado de organização de provas continua a crescer de forma desmesurada sem perceber que não existem tantos corredores para essa oferta. Este ano já nos apercebemos das dificuldades de algumas organizações em juntarem um leque de participantes que justifique os custos de produção. Anúncios a alargar os prazos de registo, o baixar preços das inscrições, provas anuladas são sinais evidentes de que o mercado não está a crescer. Quando o mercado cresce são as organizações que procuram os patrocínios, quando começa a entrar em retrocesso são as marcas que procuram as organizações. Isso é um facto e que constatamos desde 2005 com o grande boom do BTT.
Como explicam a adesão a este tipo de provas por parte dos portugueses ?
Esta é uma tendência mundial. As grandes marcas de artigos desportivos de há uns 10/15 anos para cá focaram-se no grande publico. Trabalhar só com atletas de elite deixou de ser rentável e não vendia por si só. Precisaram de encontrar novos mercados. É aí que aparece a aposta no grande palco desportivo: a natureza.
O único local onde a prática desportiva tem custos muito baixos e está aberto a todos. Em Portugal estamos na onda. Aconteceu com o BTT desde finais dos anos 90 até 2007/8, está a acontecer com o trail e de seguida vem o triatlo e as corridas de aventura. Serão sempre em menor numero os praticantes mas é para aí que caminham.
Como organizadores de várias provas quais as maiores dificuldades que enfrentam ?
As regras da concorrência entre empresas e associações. Temos uma diferença enorme de custos entre um estatuto e outro: 23% IVA. Uns são isentos, nós não. Este é apenas uma das dificuldades, existem muitos outras.
A outra é não sermos vistos, os promotores de eventos, ainda como enormes máquinas de produtos turísticos para o mercado interno e externo.
Estes eventos podem ajudar a economia local ? Será que poderemos pensar em conjugar a corrida e o desporto ao crescimento económico de uma região ?
Somos, falo em nome de todos os organizadores, sem qualquer exclusão, dos maiores promotores das economias locais. Temos eventos que num só dia levam mais pessoas a determinados locais que num ano inteiro. Temos um projecto que nos primeiro quatro meses do ano, inverno portanto, levou mais de 1000 pessoas ao interior centro de Portugal.
A corrida, o desporto, podem e devem, ser alavancas para o crescimento económico da região. Não podem, as corridas e o desporto, dissociarem-se da história, património e cultura de uma região. Se não tiverem isso não têm graça nenhuma. O desporto é cada vez mais turismo. Ou o turismo é cada vez mais desporto. Nós somos Horizontes, Turismo desportivo e "Maraturismo".
Quantos participantes esperam receber na Serra de Sintra para o Monte da Lua ? E se esta prova provoca algum impacto ambiental na serra ?
600 participantes é o nosso máximo. Não podemos receber mais exactamente pelo impacto que trazem ao Parque Natural de Sintra Cascais. Este é o nosso compromisso com eles.Qualquer passagem tem impacto. Por isso pedimos consciência aos corredores para evitarem deixar o que quer que seja no trajecto até final da prova.
Que conselhos dão aos participantes, para todas as distâncias ? (Calçado, tipo de material obrigatório, roupa)
O grande concelho é que não tenham pressa de chegar ao fim. Desfrutem do espaço ao máximo. Corram quando puderem, andem quando não conseguirem correr, não desesperem nas dificuldades e sejam sensatos na análise dos perigos. Oiçam, cheirem e toquem no que vos rodeia. Escutem e observem os sinais do vosso corpo. Tudo isto "bem feitinho" e têm um dia fantástico.
Boa prova a todos e divirtam-se :)