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Correr na Cidade

De volta às voltas de uma Meia Maratona

10354083_736671096414224_8255201606027799464_n.jpg Os crew members que foram à Meia dos Descobrimentos mais os nossos amigos.

 
Por Filipe Gil

 

E no passado domingo, menos frio do que parecia poder estar, acordei pronto para fazer a minha 5ª meia maratona de estrada. A primeira dos últimos 14 meses.Entretanto já fiz a distância várias vezes em treinos e sobretudo em provas de trail, mas desde Setembro de 2013 que, literalmente, não me fazia à estrada.

 

A manhã começou sem grandes expetativas. Apenas a indecisão naquilo que iria vestir (por causa do frio) e calçar (por causa de umas dores chatas que me têm andado a fustigar as plantas dos pés).

 

Ainda em casa, sentado no sofá a tentar acordar e a tentar dizer ao resto do meu corpo que fazia algum sentido deixar a casa, quente e confortável, pelo frio de correr na rua e em calções, quando recebo um SMS de uma das nossas crew members a perguntar-me pelo dorsal. Acordei logo, fiquei stressado. Ao que parece tinha havido uma confusão no levantamento dos dorsais, e uma das nossas meninas, que pagou pelo dorsal, estava sem ele. Saí de casa pronto a dar o meu . Não escrevo isto para pensarem: “Ai que fofinho, pronto a sacrificar-se pelos outros”; Não. A corredora em causa estava com muitas mais “ganas” de fazer a prova, e isso era razão suficiente para lhe dar o dorsal, sem problemas. Mas o engano foi prontamente resolvido e todos corremos, oficialmente, na 2ª edição da Meia Maratona dos Descobrimentos. 

 

Decidi que iria fazer a prova com o Nuno Malcata, que anda a bater-se com umas lesões chatas nos joelhos e ainda está a reganhar forma. Partimos juntos, e com o Nuno Espadinha. Na subida, logo a seguir aos Jerónimos, desafiei o Espadinha a descermos na Avenida Dom Vasco da Gama a “abrir”- "É um treino para as descidas de trail", disse-lhe. E lá fomos. Corpo inclinado para a frente, boa base de apoio na passada, mas quase em bicos dos pés, equilíbrio, q.b., e descemos aquela avenida a 4 minutos ao km. No final, cansado, disse ao Nuno para seguir que eu esperava pelo Nuno. E ele seguiu fazendo um excelente tempo.

10850062_736978049716862_4068966244883299694_n.jpg Uma das melhores provas na distância do Nuno Espadinha. Os treinos estão a dar resultado!
 

Abrandei, abrandei muito e lá vinha o Nuno no ritmo com que tinha decidido fazer a prova. E eu decidi fazer a prova com ele. Raramente o fazemos e já não corria ao lado dele desde o Louzan Trail. Corridas há muitas, e de estrada então…, assim decidi que seria mais giro estar com o meu amigo e fazermos a corrida nas calmas. Apesar disso, ia com a ideia de fazermos a prova em 2 horas, mais coisa, menos coisa.

Mais uma vez fiquei muito triste com o pouco apoio dado aos corredores. Cheguei mesmo a olhar para alguns espectadores e a pedir-lhes palmas de incentivo. Pensaram, certamente, que me estava a aquecer, pois ficaram inertes.  Para quando, mas para quando, uma corrida com palmas de quem assiste? Será inveja dos “magrinhos” que passam por eles? Será desprezo? A não ser um grupo animado de espanhóis, no Cais do Sodré, o apoio foi de uma pobreza franciscana. Acho que o Correr na Cidade qualquer dia tem de criar um workshop: “Como apoiar corredores de rua em dias de prova”.

 

Voltando à corrida, lá fomos nas calmas. Média religiosamente cumprida de 5:45 por km. A partir do Cais do Sodré começou a “festa” de vermos caras conhecidas já no caminho de regresso aos Jerónimos. É sempre giro apoiar e gritar pelas pessoas por quem passamos – ou neste caso, que passam por nós. Os mais concentrados, nem percebem. Mas não deixa de ser uma festa.

 

Nesta altura, na curva de regresso, poucos metros depois da Estação de Santa Apolónia, o Nuno Malcata começou a ficar um pouco mais atrasado e disse-me para eu seguir que estava mais "solto". Por acaso não estava, estava com os bolsos dos calções cheios de mel, do gel líquido e mais não sei o quê. Parecia que tinha ido às compras. Mas sim, fisicamente estava a sentir-me bem.

 

Sou “apanhado” pela Patrícia Mar que tinha em mente baixar o seu tempo na distância, e passo a passo, lá foi ela em busca do seu PBT. E conseguiu. Nunca mais a vi. Ainda tentei puxar pelo Nuno, mas confesso que não sou o melhor pessoa para o fazer enquanto corro. Acho que só lhe disse: “Vamos lá, faz de conta que estamos nos 50K do Piódão e estamos a 7 km do próximo abastecimento”. Mas quem é que fica motivado com isto?

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A Patrícia Mar com os seus passos ligeirissímos deu um verdadeiro "bigode" a muita gente 

 

Este mesmo pensamento fez-me sentir saudades de correr nos trilhos. E por causa disso, ali pelos 15/16km comecei a ficar farto da prova. Culpa minha. Há dias assim. Comecei a pensar na minha prova de 50K em março, e que esta Meia seria o início da minha preparação, e que apenas serviria para colocar quilómetros nas pernas.

 

Nesta altura começo a analisar os ténis com os quais corri, os Reebok One Guide 2.0, e chegou à conclusão que para estas distâncias necessitam de um pouco mais de apoio e de uma construção estrutural um pouco diferente – mas disso falarei na review final que irei publicar em breve. Comecei também a pensar também que tinha sido boa escolha ter-me “despido” de roupa supérflua e ter corrido apenas de t-shirt (e calções, claro). Compensou! E o boné Trucker Hat também ajudou. É um tipo de boné muito usado pelos trail runners norte-americanos. Na crew decidimos fazer uns quantos e parece que fizeram sucesso. 

 

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Gosto tanto do meu "trucker hat" que até pareço um trail runner norte-americano quando está parado (lol!) 

 

Já ali perto dos jardins do Palácio de Belém, farto, fartinho da prova, tenho um final boost. Vejo a minha mulher e o meu filho mais velho a darem-me apoio. Yes! Como ele tinha de passar a manhã a preparar-se para os primeiros testes da primária, pensei que ambos tinham ficado em casa a estudar. Mas não, foram ali dar um apoio. ( e estudámos à tarde!)

 

A partir dali comecei a correr mais a sério. Parece estúpido, mas acho que, dos 21km que fiz, e tirando a descida inicial, só entrei na prova a cerca de 1,5km do final. Ridículo, muito. Mas aí lembrei-me que seria giro fazer a prova abaixo das 2horas. E comecei a correr. Por via das dúvidas, nem olhei para o relógio, para não perder a “pica” dada pela mulher e filho mais velho. E continuei a correr, finalmente, e quase 2 horas depois.

 

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O Nuno Malcata fez a prova nas calmas. A recuperação de lesões fazem-se assim.

Na meta vi o relógio, dizia 2h02, qualquer coisa assim. Talvez, não, de certeza o meu pior tempo de sempre numa meia maratona. Parece parva a atitude com quem fiz a prova, parece uma falta de respeito pelos corredores que não a puderam fazer por uma razão ou outra, mas ao invés de estar aqui a mentir e a dizer aquelas frase tontas de motivação e superação, sou honesto e digo-vos ue esta foi uma prova em que fiz sem grande motivação, apenas pelo prazer de rodar e de encará-la como a minha ultima prova “a brincar” - porque a partir daqui todos os treinos e todas as (poucas) provas em que irei participar só têm um objetivo: os 50 km do Piódão, em finais de março.

No final ficamos um pouco em amena conversa e a apoiar o esforço dos atletas menos rápidos. Estou certo que o nosso incentivo em palavras e palmas foram ouro para os metros finais deles.

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A Bo tem um fétiche pela hora e 51 minutos. Ainda esta semana explica-vos porque, aqui no blog 

 

Duas notas finais:

  1. Foi a minha estreia nesta prova. E gostei muito. Não tanto do percurso, que é conhecido de provas mais antigas, mas pela organização que esteve irrepreensível. Nos abastecimentos, nas águas, no apoio aos atletas, no que foi dado no final. Se tivesse de avaliar a organização da prova de 0 a 10, dava um 10, claramente. Até tiveram sorte com a meteorologia.

  2. Uma palavra final para três mulheres: a minha, porque ao invés de ter um domingo descansado no quente do lar, apressou o filho mais velho e foi, ao frio, aplaudir o marido. À Ana Morais Guerra, que também podia ter ficado no quente do lar e vestiu o hoodie da Crew e foi tirar fotos, muitas, que podem ver aqui. E à Joana Malcata que fechou a prova dos 21K quando, simplesmente, podia ter desisitido. Nós corredores somos mesmo diferentes, não somos?

10847878_736982859716381_4955858481221904642_n.jpgMetros finais da prova da Joana Malcata acompanha por alguns membros da crew. Ninguém fica para trás!