Crónica IX - Um puto a correr entre os duros
Por Filipe Gil:
Na minha preparação para o Ultra do Piódão sempre me senti como o "puto" que vai tentar ser como os "grandes". Porque já aqui afirmei que tanto a nível profissional como pessoal os últimos meses têm sido muito exigentes, o que me tira tempo para treinar. Mas não disposição.
Por isso, sei de princípio que enquanto os meus companheiro de crew treinam, e bem, várias vezes por semana, eu não o consigo fazer. E acreditem que não estou a ser preguiçoso. Claro que podia acordar às 5 da manhã e depois ir treinar uma horas, mas saberia que iria estar a roubar essa preciosas horas de sono o que me iria prejudicar em todos os campos. Se calhar falta-me algum espírito de sacrífico, talvez...
Mas não estejam já a pensar que estou já a desculpar-me para ter alibis no caso das coisas correrem mal no Piódão, ou estar aqui a armar-me em vítima. Antes pelo contário, o nível de exigência que estou a meter neste desafio é dos maiores que já coloquei em qualquer coisa na minha vida. Só não dou mais porque não posso. Embora não esteja a ser perfeito na minha preparação.
E claro, há algo que não me deixa o pensamento: porque não descobri o trail running mais cedo. Com quase 41 anos de idade às vezes senti-me num estádio tardio para entrar nestas brincadeiras. Enfim....
No passado sábado, o puto (eu) foi treinar com os "grandes". E foi bom, muito bom. Foram quase 30 kms com desnível positivo de 1300 metros (ou seja, para quem não sabe, subimos, no conjunto de todas as subidas, cerca de 1300 metros). Este treino, que apelidámos de "Treino dos Duros" resultou numa aventura de quase cinco horas - com algumas pausas pelo meio.
Em primeiro lugar, há que agradecer àqueles que em vez de irem treinar a sério, quebraram os seus ciclos e vieram juntar-se a quem se está a preparar para o seu primeiro ultra. O esforço que dedicaram neste sábado a ajudar-me, a aconselhar-me é precioso. É neles também que irei pensar quando as coisas no Ultra do Piódão começarem a apertar. E está quase, faltam 16 dias....
O treino foi bom por diversas razões:
A parte psicológica: esteve bem, muito bem mesmo. Estive sempre a comparar o que estava a fazer com o que irei fazer no Piódão. Não fossem compromissos pessoais muito importantes e estaria apto a correr mais outras tantas horas como aquelas que fizemos das 8h15 até perto das 13h. A mente queria mais. Fiquei contente.
A parte fisíca: Aqui foi o que correu menos bem. Perto do final do quilómetro 28 comecei a ter dores fortes no lado de fora do joelho, sempre que descia. Cada passada a descer era um sacríficio. Daqueles verdadeiros. Algo que já me tinha acontecido no km 32 no Louzan Trail,o ano passado. Mas quando subia ou corria em terreno plano era como se nada tivesse no corpo.
Na segunda-feira passada fui treinar novamente e quando me meti em subidas, doeu. Deixou de doer a descer, passou a doer a subir. Por isso mesmo, já marquei consulta com a Dr.ª Sara Dias para me ajudar com este joelho. Pelo sim, pelo não, vou levar anti-inflamatórios para o que acontecer no Piódão. Já tenho mais esta preocupação. De resto, fisicamente, tudo bem. Nada de cansaço nas pernas, nada de fascites. Tudo impecável.
Equipamentos: Estão escolhidas sapatilhas que me vão acompanhar na minha Ultra. São os Puma, claro, mas a v2 dos Faas 500 TR. Num modelo que em termos de design me satisfaz muito. A diferença para este e para o modelo anterior é minima e cinge-se ao upper do sapato. A sola está quase na mesma, e ainda bem que uma sola daqueles é um garante para muitos terrenos, para além de ser cómoda. De resto, os meus amigos "Ultras" dizem-me que estava demasiado vestido, mas tenho algum receio de apanhar frio, por isso irei levar uma tshirt térmica interior. A única dúvida que persiste é se levo meias altas (está fora de hipótese levar de compressão) ou se levo meias curtas. Não quero ir overdressed.
Nutrição & Hidratação: Este foi outro dos campos onde dou graças que este treino tenho decorrido. Talvez porque estava muito calor e porque andamos por locais inóspitos, às tantas vi-me sem líquidos.Nada de isotónico, nada de água, nada. Levo sempre dois bidões de 500 ml comigo, mas nesse dia não foi suficiente. O que vale é que pude beber água que outros ainda tinham, mas fez-me muita confusão não ter líquido.
Quando finalmente pude restabelecer os líquidos, senti-me como novo. Claro que há a hipotese de levar água na mochila, mas é algo que vou tentar não o fazer. Detesto sentir a água nas costas. Prefiro levar uma soft flask e encher num ponto de abastecimento se vir que a temperatura no Piódão estiver elevada.
E, apesar de já o termos colocamos na nossa página de facebook, mas voltamos a publicar aqui um pequeno vídeo do treino de sábado, nas poucas alturas em que tivemos parados e a descansar. Ora vejam:
De resto, sinto que está quase. Ainda vou ter duas semanas que vou apertar uma pouco com o nível dos treinos e depois é descontrair até ao grande dia. Os nervos começam a invadir o meu pensamento. Estou confiante que consigo e só mesmo algum imprevisto estupido me irá deixar de realizar um das alíneas da minha bucket list.
E vocês, também querem fazer um Ultra alguma vez?