Foto de Pedro Lizardo por Astrodeck Studio
Por Liliana Moreira:
A Corrida do Tejo já vai na sua 35ª edição a encher a marginal de Algés a Oeiras numa corrente densa de gente mesmo juntinho ao rio. Foi a 4ª vez consecutiva em que participei nesta prova, aquela que foi a minha estreia em provas de 10km. Chegamos cedo a Algés, o receio de não termos lugar para o carro ditou a saída da margem sul por volta das 8h00, e rapidamente percebemos que foi a melhor coisa que fizemos. De um momento para o outro as ruas encheram-se de atletas que queriam alinhar na partida no melhor lugar possível. Este ano previa-se uma massa humana de vermelho-alaranjado (ou laranja-avermelhado?!) tudo por causa das t-shirts técnicas da New Balance, que foram de longe as mais giras das edições em que participei. Imagem simples focando o logo do CdT nas costas, cor apelativa, disponível em corte cintado para as meninas e têxtil técnico que aparenta ser bastante confortável. Não deverá ser a razão para se participar obviamente, mas é uma boa peça para se ter na “coleção”.
Juntem-se a nós
O Correr na Cidade fez o convite de se encontrarem connosco e a malta amiga apareceu, uns só para dar um “olá”, outros para se alinharem connosco na partida. Dividimo-nos em 2 grupos, os que quiseram usufruir da pulseira VIP que a organização simpaticamente nos disponibilizou, alinhando junto ao pórtico para evitar o “trânsito” da marginal, e os que mais moderadamente queriam fazer a sua prova, seja a puxar pelos amigos ou simplesmente apreciar a viagem sem grandes objectivos de tempo.
Fui no de trás, naturalmente! Ainda não é este ano que tento aqui a marca de sub60, regressada de uma lesão no joelho direito contraída em Junho passado, não me sinto disponível para forçar essa marca para já. Portanto, terminado o aquecimento pela animada equipa da FHIT.UNIT foi dado o tiro de partida… era tanta gente que levei quase 3 minutos para chegar ao pórtico. Mais de 7mil participantes! Até lá chegar foi pular, dançar e desejar boa prova a todos.
Let’s GO!
Nos primeiros 2 km’s consegui manter-me no encalço do Nuno Malcata e da Sara Dias que tinham planeado fazer a prova juntos. Diz o Malcata que está a regressar de uma lesão… pois sim, imagino se não estivesse! :D Por esta altura já não conseguia ver as 3 mosqueteiras Bo, Inês e Natália que iam em modo foguete atrás da marca sub60. Não as via mas conseguia ouvir a Bo a meter-se com as velhotas à janela que nos viam passar! Já a Ana e a Marta formaram equipa e seguiam juntas a correr um pouco mais atrás.
Fiquei por isso isolada e a pensar para com os meus botões, que se continuasse neste ritmo provavelmente iria rebentar a meio da prova. Abrandei e comecei a apreciar a vista para as praias e o maravilhoso cheiro a mar. Reparei também na avioneta que nos sobrevoava constantemente com a mensagem “Betão no Jamor NÃO! salvarjamor.net”. Levei uns quantos encontrões dos atletas mais rápidos, tropecei em outros tantos caminhantes que lado a lado permaneciam no meio do caminho. Para provas com esta dimensão sem dúvida que há que vir com algum espírito descontraído e mente aberta, mas continuo a não perceber estes dois fenómenos em prova.
A partir do 3km o pelotão começou a esticar e a haver mais espaço entre os participantes. Também é neste ponto que começam as oscilações de altimetria. Uma subida mais comprida para acabar o aquecimento em grande e logo uma descida para esticar as pernas, com a brisa marítima a acalmar o calor da manhã. O percurso sem dúvida que tem algum desafio e é muito interessante olhar para os participantes e ver o esforço que fazem para superar as dificuldades espelhado na sua postura, na sua passada. Nota-se perfeitamente quem anda a faltar aos treinos!
Foto de Corrida do Tejo
Meteorologia bipolar
E não foi só a altimetria que oscilou. S. Pedro pregou-nos uma partida. Se saímos de Algés numa manhã solarenga em que só a brisa do mar nos safava do calor, quanto mais nos aproximávamos de Oeiras mais parecia que tínhamos chegado ao inverno, com cara de chuva e temperatura substancialmente mais baixa. Confesso que esta mudança brusca de temperatura deixou-me algo desconfortável e a partir do km 5 baixei o rendimento. Apesar do fresco que já se sentia nesta fase da prova soube-me pela vida passar pelo mega chuveiro que a organização disponibilizou, como já tem vindo a ser recorrente nas últimas edições. Era aqui que estava o nosso Rui Pinto a dar uma palavra de ânimo e força a quem passava enquanto apreciava o culminar do fruto do seu trabalho nas últimas semanas na organização desta prova. Achei que estava com ar nervoso, provavelmente desejoso de saber se tudo tinha corrido bem ou então era a ansiedade de ver a sua cara metade. <3
A prova teve 2 pontos de abastecimento intermédios que aconteceram ao km 4,5 e 7 aproximadamente. O primeiro abastecimento dispensei e fugi para o lado contrário à entrega das águas para evitar as paragens bruscas dos atletas, tão tradicionais nestas ocasiões. Já no abastecimento seguinte preferi apanhar a água na última secção das entregas para evitar esbarrar em alguém mais sedento. Tendo em conta o cenário de guerra ali instalado decidi parar para molhar os lábios porque para além do tradicional chão encharcado, do tapete feito de tampas de garrafa e dos caixotes de lixo que todos decidem ignorar, também haviam muitos plásticos das paletes das águas no meio da estrada. Para mim este é o único ponto de melhoria a apontar à organização, pois tem a responsabilidade de instruir os voluntários na melhor forma de agir nestas tarefas.
Último esforço
Esta paragem também foi algo estratégica, estava a ficar com os meus níveis energéticos muito em baixo e sabia que a subida que mais me custaria estava prestes a aparecer. A experiência também disse que depois de a ultrapassar era um tirinho até à meta. Passamos por bandas a atuar ao vivo que se desdobravam a dar highfives aos participantes, também tivemos direito a animadores Ultra Runners que puxaram por nós nesta secção do pelotão que já ia nitidamente a queimar os últimos cartuchos.
O raio da subida este ano pareceu-me mais comprida! Mas a meta era “jáli” e num ímpeto de esforço dei tudo o que tinha naquele último 1,5km. Lembro-me vagamente de ouvir o meu nome algumas vezes nesta reta, provavelmente elementos da crew que já tinham chegado. Consegui fazer o retorno na rotunda de S. Julião a custo, que a sacaninha é um bocado inclinada para fora, e vi a meta ao longe. 1h10 marcava o cronómetro quando passei o pórtico “com cara de poucos amigos”. Estava feita! Pela 4ª vez e com um resultado pessoal muito mais positivo que nos anos anteriores ainda que longe de ser perfeito.
Tenho a dizer que não sou particularmente fã de provas muito populosas, sou até da opinião que há provas com o número de inscrições muito acima daquilo que é suportável logisticamente pelas organizações, gerando uma referência negativa e impessoal junto do atleta. No entanto não acho que seja o caso da Corrida do Tejo.
Apesar de ser uma experiência de corrida efectivamente massificada o ambiente de festa que ali se vive, o percurso diversificado, a forma profissional com que todos os pormenores são tratados e a clara aprendizagem e correcção dos pontos de melhoria das várias edições anteriores, deixa vontade de regressar para o ano seguinte.
Eu pelo menos farei por isso!