Correr é Liberdade (parte 1) - Aprender
Por : Tiago Portugal
A corrida é o desporto mais livre e democrático que conheço e já pratiquei.
Temos ao nosso dispor uma grande liberdade de escolhas e um leque variado de opções. Dos poucos desportos onde somos livres para escolher o que fazer, como, onde e com quem.
Depois do investimento inicial em material, que podemos considerar como a taxa de inscrição, a mensalidade é gratuita. Temos assim uma inscrição inicial, 60-70 euros de material em saldos já com alguma qualidade, que nos dá acesso a uma utilização total e livre, o investimento posterior fica para outras núpcias, e dependerá sempre dos nossos objetivos.
Se estou cansado saio e corro só 30-40m, se pelo contrário cheguei do trabalho "chateado" e preciso de descarregar vou correr 10km durante os quais despejo todo o stress, lançar um ou outro impropério silencioso a quem de direito, e "dou tudo o que tenho", até não ter energia para pensar mais no que me aborrecia.
Quando? Na altura que preferir, me apetecer ou puder. De madrugada, manhã, de tarde ou de noite, vou quando quero. Ainda tenho a vantagem de poder mudar o horário consoante a minha agenda.
Onde? Onde quiser, desde que não seja no meio da estrada. Se já não me apetece percorrer o paredão de cascais, não faz mal, vou dar uma volta a outro lado. Quero apanhar ar fresco? Tenho solução e sigo para a natureza, pego no carro, vou até Sintra e percorro os lindos trilhos da serra. Se preferir algo mais perto de casa ou do trabalho fico-me pelos trilhos de Monsanto.
Posso correr em qualquer lado: estrada, trilhos, relva, areia, neve e passadeira, tudo serve para dar uns passo e praticar um pouco.
Como? Não existem regras nesta seção, quase tudo é permitido. Calças, calções (justos ou alrgos), t'shirt, singlet, camisola, casaco, boné, buff, de qualquer cor ou feitio. Posso até ir correr de pijama, a única regra é não ir nú, para quem aprecia essa modalidade recomendo a légua nudista. Com sapatilhas, caras ou baratas e até mesmo descalço. Que saiba, só não posso correr despido de resto vale tudo desde que a pessoa se sinta bem e confortável, a imaginação não tem limites.
Na corrida a individualidade de cada um pode ser esplanada através da forma como a praticamos, até no mais simples dos adereços e pormenores.
Tenho total controlo sobre o que vou fazer e, melhor ainda, posso alterar os meus planos a qualquer momento. A corrida é um desporto muito flexível. Se me estou a sentir bem faço mais uns quilómetros, se estou cansado e dou o dia por terminado faço meia volta e volto para casa, até posso deixar de correr e ir a andar ou por outro meio de transporte.
Uma das coisas que mais aprecio neste desporto é que posso correr sozinho ou acompanhado. Existem alturas para as duas situações e felizmente temos muitos grupos onde nos podemos inserir e correr em companhia, às vezes em grupo fica mais fácil.
Já viajei e passei por locais em Portugal que seguramente não veria senão fosse pela corrida. É um desporto tão livre que até de férias o posso, e devo, praticar. Aliás, correr pode ser uma das melhoras formas de conhecer uma nova cidade.
As razões que descrevi foram só algumas das que inicialmente me fizeram gostar deste desporto.
Mas engane-se quem pense que correr é fácil. Para muitos, nos quais me incluo, começar a correr é penoso. Quando comecei arrastava-me literalmente pelos cerca de 3km do paredão de Cascais, pareciam intermináveis.
Foi preciso esforço, paciência e determinação para ultrapassar as dificuldades físicas inicias e, finalmente, conseguir correr o paredão todo sem parar. E tão feliz que fiquei.
A mesma alegria que senti quando terminei a minha primeira prova de 10k, o meu primeiro trail.
Aos poucos a corrida começou a fazer parte de um ritual que me permitiu ficar e manter mais saudável, mental e fisicamente.
Mas foram precisos quase 2 anos para começar verdadeiramente a retirar algum tipo de prazer deste desporto.
Mas hoje em dia posso afirmá-lo: gosto de correr, sou mais feliz quando o faço e adoro partilhar esses momentos com amigos.