Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Correr na Cidade

Correr à noite pelos trilhos do javali

foto de grupo

(a foto de grupo antes da partida) 

Depois da minha experiência na prova em dezembro, não podia faltar a este desafio. Especialmente porque, desta vez, era à noite! Já fazia algum tempo que não corria em trilhos à noite e posso dizer que é das melhores experiências que podemos ter. Mas vamos por partes.

 

A corrida antes da corrida

Depois duma semana cheia de trabalho e de ter de estar 7h sentada numa formação no dia da prova, tinha de arrancar de Lisboa a tempo de trocar de roupa numa bomba de gasolina e de chegar a Setúbal antes das 19h30. Se já sou daquelas pessoas que sofre de ansiedade antes duma prova, a minha adrenalina estava ao máximo antes do início desta aventura.

Um dos pontos onde fiz questão de apostar foi na alimentação: gerir a alimentação num dia fora de casa e com uma prova à noite, não é fácil; preferi  trazer de casa todas as minhas refeições e beber cerca de 1,5L ao longo do dia; neste dia não podia fazer experiências.

 

A prova

Depois de chegar a Setúbal, preparei todo o meu material e encontrei-me com a restante crew para nos reagruparmos junto à zona de partida. Como não gosto muito de correr de meias altas, já começava a sentir o frio a gelar as pernas e a ansiar que a corrida começasse.

antes da prova

 (um sorriso que disfarça o nervosismo antes da prova)

 

Quando arrancámos da zona de partida, comecei a correr mais rápido para ganhar balanço para as primeiras dezenas de metros a subir, mas não resultou. O coração começou a bater de maneira descontrolada e percebi que a falta de treino e a ansiedade estavam a tomar conta de mim. Lá abrandei, encostei-me à direita, deixei passar muita gente e controlei a respiração. Logo de seguida houve uma paragem por causa duma subida que, ainda hoje, não percebi muito bem porquê. E lá fomos  trilhos acima novamente. Esta prova estava bem recheada de trilhos a subir que, confesso, não são o meu forte.

 

Ao quilómetro 4, depois duma subida valente, ouvi a voz do Stefan Pequito que me deu um “Hi5” e me disse “está quase, Ana”. Não sei se ele estava a fazer confusão com a outra prova ou se anda a imitar o José Finuras que grita sempre essa frase quando me vê ainda na zona de partida duma prova.

 

Até ao abastecimento ao 8º quilómetro (mais coisa menos coisa) segui sempre atrás dum grupo que vinha bastante divertido e que me ajudou na iluminação do caminho (“candeia que vai à frente ilumina duas vezes”). Passei por vários elementos da organização que, no escuro da Serra da Arrábida e ao frio, indicavam o caminho em alguns trilhos que pudesse causar alguma confusão.

No abastecimento parei apenas o tempo suficiente de encher a minha “bexiga” de água e comer 3 pedaços de laranja que me souberam mesmo muito bem. E lá arranquei atrás do tal grupo que eu seguia anteriomente.
 

Pouco tempo depois, perto duma descida, avisto um senhor sentado no chão e agarrado às duas pernas. Parei para perguntar se estava bem, se se tinha aleijado e se precisava de alguma coisa. Habituei-me a trazer algum material na mochila que pudesse ajudar quem quer que seja, ou pelo menos tentar ajudar: gel tópico frio, gel bebível para dores agudas e comida a mais (gel, barra e shot energético).  O senhor achou muito estranho o facto de eu estar a dar palpites, mas expliquei ao senhor que era nutricionista e ele lá começou a ouvir-me com mais atenção.

Apesar de ele estar a dizer para eu seguir e continuar a prova, fazia-me confusão deixar o senhor ali sozinho e na escuridão. Estive cerca de 10 minutos com ele e ainda não ouvia ninguém a chegar. Depois de beber um gel que ele trazia e morder uma barra energética, o senhor lá se levantou e começou a andar. Como vi que ele já estava melhor e, com a indicação dele para seguir, comecei a correr. E aí sim, percebi que aquela paragem não me tinha feito muito bem às pernas, mas fez-me bem à cabeça.

 

Um pouco mais à frente avistei um membro da organização e avisei que o senhor que vinha atrás de mim podia precisar de alguma ajuda e lá segui novamente. Durante os restantes quilómetros até à meta fui sempre sozinha. Mas mesmo sozinha! O tal grupo levava um avanço de cerca de seis minutos em relação a mim, mas eu já não tinha pernas para os alcançar. Recordei alguns trilhos da prova passada mas na versão contrária e a explicação é simples: se algumas daquelas subidas fossem a descer e à noite, a prova teria sido bem mais difícil.

Ao longo do caminho encontrei vários membros da organização que me descansaram a dizer que eu não estava a correr sozinha. Outros ainda tentaram pregar-me um susto à entrada duma quinta, mas não conseguiram. Como não tenho relógio para me ajudar a orientar no tempo de prova, nem o telemóvel me ajudou, pois o Strava desorientou-se mais do que eu e cortou tempo e quilómetros à minha prova. Por isso andava desorientada por não saber quantos quilómetros faltavam para o final. Estava com algum receio de me perder porque também não tinha uma boa iluminação (mesmo com 2 frontais) e algumas marcações estavam longe umas das outras na parte final da prova.

 

Assim que cheguei a uma pequena povoação, falei com um membro do staff e segui caminho pela estrada romana que conhecia. Sabia que, a partir dali, seriam cerca de 2 km ou nem isso. Tentei puxar por mim, mas o cansaço era grande.

 

Ao avistar a curva para a meta ganhei impulso na descida e coragem para passar a meta a correr. Cheguei com o tempo de 2h49m. Um tempo fora do que eu tinha previsto, mas não importa. Esta prova foi divertida, cheia de aventura e com uma boa gestão do medo e da ansiedade.

dorsal

 (a prova final)

 

Pontos positivos:

- Organização simpática e divertida mesmo com o frio da serra (os meus parabéns aos voluntários corajosos que vi sozinhos na escuridão);

- Trilhos bem “desenhados” – um misto de subidas e descidas engraçado e com poucos estradões monótonos;

- A merenda final – apesar de não ter comido a minha sandes de choco frito (porque não consigo comer depois duma prova), ouvi dizer que estava muito boa.

- Os brindes de oferta – achei a ideia da toalha com o javali desenhado muito gira e a garrafa de vinho da zona vai certamente alegrar uma refeição lá em casa.

javali

 (uma das ofertas e que achei original - uma toalha com o javali bordado)

 

Pontos negativos e a melhorar:

- Marcação dos trilhos – apesar das fitas estarem bem visíveis nos primeiros 11km, a partir daí algumas fitas estavam mais escondidas e mais espaçadas. Se a prova fosse durante o dia, tudo bem, mas à noite torna-se mais confuso.

- Briefing – eu sei que houve um briefing antes da prova mas confesso que não ouvi nada, pois o som estava muito baixo.

 

Ah, esqueci-me de referir que o tal senhor que ajudei, encontrou-me no final da prova. Vi que ele terminou a prova, estava bem e agarrado à sua sandes de choco frito.

 

Boas corridas!