Conheça as expetativas de Carlos Sá para a Marathon Des Sables (entrevista)
Este domingo o português Carlos Sá inicia a sua quinta participação na duríssima "Marathon Des Sables", o Correr na Cidade trocou por e-mail umas perguntas com este campeão português e que mesmo antes da ida para o deserto respondeu, contando-nos um pouco das suas expetativas para esta "Maratona do deserto" feita por etapas e autonomia total.
Quais as suas expetativas para esta edição?
Esta vai já ser a minha quinta participação, e é para como habitualmente dar o melhor e esperar que tudo corra dentro do normal. Há nesta provas de muitos dias, sobretudo em condições tão adversas como esta, factores imprevistos que podem deitar a perder toda a prova. Com as condições que nos deparamos ao longo de uma semana em pleno deserto, o que seria em Portugal numa prova de um dia uma simples bolha, lá pode infetar e aí tudo muda...
Alterou a preparação desta edição, relativamente ao que fez em edições anteriores?
Não, tento gerir o meu calendário anual com desafios diferentes em vez de estar apenas focado num ou dois desafios. O ano competitivo para mim começou logo em Janeiro, com a Arrowhead 135, a ultra maratona mais fria do mundo no estado do Minnesota (EUA)... Foi uma prova muito dura que me deixou exausto.
Todos sabemos que é uma prova de privações, em que o atleta tem de gerir os seus recursos. Quais são as privações que custam mais suportar numa prova deste calibre?
Descansar é algo muito complicado nesta prova. Chegamos exaustos duma etapa, e o que temos à nossa espera é o calor, o chão e aguardar o frio da noite...A alimentação é outra das nossas grandes privações. Ingerimos sempre menos calorias que as que são gastas diariamente. É normal perder-se cerca de 5 kg numa prova como esta. As condições de higiene são outra grande privação.... imaginem-se a viver em pleno deserto durante uma semana em autonomia.
O material que vai usar (ténis, mochila, calções, t-shirts) é o habitual, ou é especial para esta prova?
Sim, usarei o habitual com pequenas adaptações às características da prova.
Para um atleta amador que queira fazer a mesma prova, qual o conselho para se preparar para uma prova deste calibre em Portugal. O que aconselha? Que tipologia de treino?
Fazer o Peneda-Gerês Trail Adventure será uma boa forma de gerir esforços multi-dias. O treino com peso às costas (entre os 5 a 9kg) é também outra forma de preparação.
Quais os conselhos, a nível de equipamento para quem participa na prova pela primeira vez?
Usar o que usa habitualmente em montanha, nada de segredos.
Qual o episódio mais caricato que teve em outras edições que já participou? E a situação mais perigosa?
Levar com uma tempestade de areia e granizo em pleno deserto, foi inesquecível. Não tive nenhuma situação de perigo, felizmente.
Recentemente o atleta francês François D’Haene renunciou a participar em provas organizadas pela IAAF e ITRA. Qual a sua opinião sobre esta posição? E como deve ser a evolução do trail a nível mundial?
Terá as suas razões para o fazer, cada atleta é livre de tomar as atitudes que assim entender. Eu acho que o Trail está a evoluir e não podemos ter medo do futuro, antes pelo contrário, se todos derem as suas opiniões como fez D'Haene e outros, a discussão será vantajosa para que se encontre soluções de equilíbrio. O Trail continua a crescer de forma alucinante e já mais será tal como o conhecíamos há 5 ou 6 anos atrás.
Quantos quilos pesa a sua mochila para esta prova?
Cerca de 7,5kg no primeiro dia. Depois vai perdendo meio kg por dia da alimentação que entretanto foi consumida.
O Correr na Cidade deseja boa sorte a Carlos Sá e a todos os portugueses que participam nesta difícil prova.
Força Campeões!!
Força Campeões!!