A Felicidade na Corrida
Foram precisos um pouco mais de 30 anos para começar a perceber e mais uns oito para realmente entender. Antes de me tornar “corredor” não percebia e perguntava-me muitas vezes qual era exatamente a alegria em correr. Porque correr? Tanto esforço físico e mental, colocar o corpo sobre um tremendo stress sem ver resultados a curto prazo.
Claro que ao terminar um treino ou ao cruzar a linha de chegada sentia um alívio ou uma sensação de dever cumprido, mas que não durava muito, que não compensava todo o esforço realizado.
Então porque continuar? Porque insistir?
Todos os seres humanos procuram naturalmente a felicidade e detestam sofrimento e dor. O prazer e o sofrimento baseiam-se nas perceções sensoriais e na satisfação interior, e esta última caracteriza-se muito pela paz. Muito do nosso sofrimento vem do facto de termos demasiados pensamentos.
Fui percebendo ao longo destes últimos oito anos que a corrida me acalma e conforta. O prazer que tenho enquanto corro, o saber gerir a tensão, a dor e a inercia inicial dos primeiros passos para uma total paz interior à medida que os quilómetros passam e o meu cérebro desliga, para terminar num êxtase final de dever cumprido e objetivos realizados, ainda que só dure uns breves momentos. O desligar dos pensamentos diários.
Esta felicidade é especialmente maior quando corro na serra ou longas distâncias e me foco na realidade do que estou a fazer e nas várias horas em que estou dedicado a correr e me desligo de tudo para me centrar “só” mim e no que me rodeia.
Esta é a minha experiência, será seguramente diferente para todos, mas ainda bem não desisti à primeira contrariedade e insisti para finalmente descobrir a minha felicidade na corrida.