A (des)propósito de uma lesão
Por Filipe Gil:
Há quase 15 dias que não escrevo no blogue. Precisamente desde os dias depois de me ter estreado na distância de Ultra Trail, no Ultra Trail do Piódão.
Na semana seguinte ao Ultra Trail foi visitar a Dr.ª Sara Dias, como já vos tinha contado. Fiquei melhor, mas durante os dois dias seguintes continuei a mal conseguir descer ou subir escadas. Comecei a ficar preocupado e em conversa com a Dr.ª Sara achámos melhor reavaliar e fazer uma ecografia ao joelho.
Marquei consulta com o Dr. Miguel Reis e Silva. Sim, exatamente, o mesmo Miguel Reis e Silva que é um dos elementos oficiais da equipa Salomon/Suunto Portugal. O atleta da Salomon verificou que apenas havia uma espécie de inflamação na banda iliotibial, o tal “runners knee”, levei uma injecção no joelho e passadas umas horas já conseguia subir escadas sem dores.
Contudo, achei que devia dar mais dias de descanso ao joelho e ao corpo. Confesso que andava com um misto de “não me apetece correr nem um metro” a “será que vou estar lesionado muito tempo? Apetece-me tanto correr...”. Deixei passar a Páscoa, tive algum cuidado com os bolos e a quantidade de comida e "guardei-me" para recomeçar a correr na passada quarta-feira, dia 8. Mas antes de falar sobre esse treino, queria partilhar convosco que, no meio da azáfama diária profissional consegui encontrar 30 minutos à hora de almoço para colocar a conversa em dia, que maioritariamente tem acontecido por e-mail, com o amigo das corridas Luís Barata da Rocha – um grande corredor do Porto que faz parte da equipa “Cães d'Avenida”.
Enquanto bebemos um café, falamos de vários assuntos de corrida. Das crews internacionais, do Correr na Cidade, dos Cães da Avenida. Falamos da evolução deste blogue, que, segundo me disse – e eu já sabia, o Luís é leitor assíduo desde que isto eram apenas as reflexões de um tipo novo nas andanças da corrida.
No final da conversa, o Luís ainda me presentou com uma fantástica t-shirt com os logótipos das mais importantes crew de corrida de todo o mundo. Ele bem sabe que o início do blogue e crew teve como inspiração esses grupos, ou melhor running crews. Lembro-me como se fosse ontem, que comecei a correr com o Bruno Andrade e o Nuno Espadinha e ao mesmo tempo não me saía da cabeça que a corrida devia ser mais “cool”, atraente a mais gente e não apenas a alguns.
Na altura estava a sair do projeto do Jornal Pedal e pensei que poderia pegar na onda hispter das bicicletas urbanas e transpô-la para a corrida. Foi por isso com grande emoção (disfarçada, claro, sou um ultra!) que recebi a tshirt (não técnica, mas que brilha no escuro). Os 30 minutos de conversa passaram a correr e ficou prometido uma corrida no dia 13 de maio, no final da tarde, pelo Porto, uma vez que lá vou estar em trabalho.
Mas, voltando à minha evolução nesse mesmo dia, ao final da tarde peguei nos meus novos Puma Ignite e fiz-me à estrada. Infelizmente não demorou cinco minutos a sentir algo no joelho. Não era a dor terrível que senti a correr o Piódão mas estava lá algo, algo que me incomodou.
Continuei a correr, depois passados uns 2 quilómetros alonguei um pouco e continuei o treino com algumas paragens pelo meio e o acréscimo de irritação. Este treino teve pouca mais história que seja digna de partilhar. Sei que no final, quando estava a cerca de 1 quilómetro da Estação de Algés, onde geralmente acabou os meus treinos, acelerei. Pensei cá para mim, “se rebentar, rebentou”.... Ainda fiz uma média de 4:30/km. O joelho continuou a não doer mas continuei com uma impressão estranha. Percebi que tinha de parar de correr mais uns dias, de voltar a alongar muito, de colocar quente por cima do joelho e mentalizei-me para apenas testar o dito no treino WoW com a Reebok e o Bruno Salgueiro que decorreu no sábado de manhã no Parque das Nações.
Nesse dia estava com muita ansiedade por causa do joelho, não só porque iria correr um pouco, muito pouco, mas porque iria fazer exercício para o qual o joelho teria que colaborar.
Na corrida, que por sinal foi bem rápida, correu bem, e não tive quaisquer dores. Quase estranhei. Nos exercícios, idem. Fiquei tão contente que à tarde decidi dar uma caminhada em conjunto com um dos meus filhos e um dos seus amigos mais próximos. Fomos de Algés ao Jamor, demos lá uma volta e regressamos. E nada de dor. Aqui e ali ainda fiz uma corridinha, mas levava demasiadas coisas na mão – quem é pai percebe o que quero dizer.
Fiquei tão animado que no dia seguinte, ontem, de manhã, domingo, decidi pegar nos meus novos Ultra Boost, que a Adidas me ofereceu e fui correr para o asfalto ao longo do rio, onde em paralelo algumas pessoas terminavam a prova da estafeta Cascais-Lisboa. E tudo correu bem. Com os ténis – em que coloquei umas palmilhas para pronador – e com o joelho. Sem quaisquer dores. Foram 5,5km a um ritmo interessante.
Estou confiante, parece que as coisas estão a entrar nos eixos. Estou a regressar aos poucos desta lesão chata que me acompanha há um mês, para regressar bem e daqui a umas semanas voltar aos trilhos.
Por ora, só estrada. Mas, trilho ou estrada, o que interessa mesmo é voltar a correr.