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Correr na Cidade

A Crew no Meo Urban Trail 2014

 

Por João Figueiredo

 

A Meo Urban Trail Lisboa (MUT) é uma corrida de produção bastante elaborada e complexa. É uma prova nocturna no coração de Lisboa com milhares de participantes (8 mil) que se propõem correr 12km ou caminhar 6km. Os 120 voluntários e os 120 agentes da PSP envolvidos nesta organização demonstram bem a dimensão e o impacto urbano que esta corrida provoca na zona histórica da cidade.

 

A MUT é uma corrida que se auto-promove – é impressionante o número de pessoas que corre pelos mais variados sítios, ao longo de todo o ano, com a camisola amarela fluorescente da MEO. É uma camisola bem idealizada em termos de segurança e vaidade para o runner. Toda a gente quer ter uma.

No sábado, 20 de Setembro de 2014, participei na minha 2ª MUT com o Correr na Cidade e com amigos das corridas. Já tinha participado na MUT o ano passado, mas de forma individual e sem estar envolvido nisto das running crews.

 

Fomos chegando ao ponto de encontro, na praça do Comercio, e o entusiasmo ia aumentado com o aproximar da hora da partida. Reencontrámos, com orgulho, o nosso Tiago Portugal que fez o ultra trail da Serra Nevada há duas semanas (ele depois vai contar aqui como foi) e juntámos no nosso grupo antigos e novos amigos para partirmos juntos nesta prova.

 

Marcaram presença: o Filipe Gil, o João Gonçalves, o Rui Alves, eu, o Tiago Portugal, a Liliana Moreira, o Luís Moura, o Telmo, o Nuno Espadinha, a Natália Costa, a Ana Morais, a Bo Irik, a Nazli Turan, a Andreia Fernandes e a Patrícia Mar. A boa disposição era enorme e enquanto alinhavamos para a partida as brincadeiras eram constantes.

 

Pouco depois das 21:00 soou o tiro de partida e os milhares de corredores invadiram Lisboa numa imensa onda de energia positiva e bom humor – há uma nova vertente artística que se chama running comedians, trata-se de pessoal com um imenso sentido de humor que dispara piadas em passo de corrida, é a galhofa total.


Este ano optei por correr sem olhar para o cronómetro. Optei pelo prazer de correr na minha cidade, com a sua típica calçada, optei por saborear cada passada com as minhas sapatilhas fivefingers, optei pelo altruísmo de dar força a todos os conhecidos que ia encontrando pelo caminho e tive a simpática companhia da Andreia - que começou a correr connosco no treino Just Girls de Julho e tem-se superado… de dia para dia!!

 

Saindo da praça do Comércio fomos em direcção ao miradouro de Stª Catarina, pelo elevador da Bica – a primeira subidinha para “aquecer”. Ao contrário do que eu estava à espera, e do que aconteceu no ano passado, não houve quebras de ritmo nem entupimentos provocados por abrandamentos de corredores. Muito bem, os treinos andam a resultar!

 

Entrámos no Bairro Alto e percorremos quase a totalidade da mítica Rua da Rosa, depois virámos à direita e fomos em direcção ao elevador da Glória. A descida da calçada da Glória não é fácil, é muito inclinada e os carris do elevador não são de grande confiança no que concerne à aderência – não me estendi ao comprido por pouco.

 

Atravessámos a praça dos Restauradores pelo interior do metro e subimos o elevador do Lavra até ao Jardim do Torel– aqui já começou a doer e os turistas que nos viam, faziam uma festa enorme como acto de misericórdia.

 

Descemos até ao Martim Moniz, onde fomos recebidos por muitas crianças chinesas e indianas em total festa e gritaria. Depois passámos pelo renovado Largo do Intendente e subimos (MUITO) até ao miradouro da Srª do Monte – vale a pena o esforço para, na minha opinião, desfrutar da melhor vista da cidade de Lisboa. Descemos a calçada do Monte, entrámos na rua dos Lagares e depois subimos a épica escadaria do caracol da Graça. Aqui cheguei a ouvir «mas é possível alguém fazer isto tudo a correr?»


É, os treinos do João Campos «Escadinhas & Subidinhas» são todas as semanas e ele chama a isto “aperitivo-para-o-jantar”.

 

Depois passámos pelo Castelo de S.Jorge, que é a parte mais desafiante para quem abraçou o minimalismo… Os voluntários dizem-nos «Cuidado com a pedra!!» “A”? “A PEDRA”? Meus amigos, aquilo são montes de calhaus dispostos a fazerem-nos a vida negra, neste caso os pés…

 

Passámos pelo Panteão e descemos por Alfama. Aqui foi a zona onde fomos mais “abraçados” por palavras de encorajamento.Os turistas, os residentes locais, as crianças,… foi extraordinária a recepção que aquelas pessoas nos fizeram, sentimo-nos uns verdadeiros heróis.


E por fim chegámos à Meta na Praça do Comércio onde a crew e amigos nos esperavam para nos felicitar efusivamente. Deram-nos pêras (muito boas) e maçãs para repor alguma energia e a vital garrafinha de água.

A MUT, devido ao grau de interesse que tem entre muitas pessoas, devia melhorar alguns aspectos:


-deviam oferecer uma medalha aos corredores que terminam. A oferta de uma camisola parece-me manifestamente pouco;


-os voluntários que indicavam as curvas ou onde devíamos virar, deviam fazê-lo posicionados com alguns metros de antecedência;


-os agentes da PSP nem sempre garantiram a rua livre para nós passarmos. Assisti mesmo a um arranca-rabo entre corredores e taxistas porque estes queriam à força andar com o carro enquanto nós corríamos;


-havia carros estacionados em frente a escadinhas que tínhamos de subir, tivemos de fazer alguns abrandamentos por causa disto, o que vale é que houve sempre muito bom comportamento entre os corredores. A organização devia impedir, de véspera, o estacionamento em zonas cruciais para o normal desenvolvimento da corrida;


-a organização anunciou um percurso de 12km, mas o percurso real foi de 10.6km. Houve quem fizesse gestão de esforço para a distância anunciada e no fim ficou com um sentimento de … WTF!?

 

Concluindo, embora esta corrida tenha sido mais dura que a do ano passado, eu sorri muito mais vezes este ano, porque correr nem sempre implica atingir um fim. Tal como tudo o resto de que gostamos – tudo aquilo a que chamamos sentimentalmente as nossas “paixões” e os nossos “desejos”- correr trata-se de uma necessidade ancestral codificada nos nossos genes e, deve ser feita naturalmente: em comunidade.