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Correr na Cidade

A (breve) história do Correr na Cidade Running Crew - última parte

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Por Filipe Gil

 

A partir de janeiro tudo mudou na crew. Começamos a conhecermo-nos melhor, a maioria começou a “desmamar” da minha liderança, organizamo-nos, distribuímos de forma descontraída alguns pelouros para relacionamento com as marcas, provas e instituições e começamos a organizar treinos mensais. Os chamados “Treinos Abertos” nos quais quem quisesse correr ao nosso lado bastava aparecer.

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Os primeiros treinos foram na zona de Belém.

 

Delineamos, que esses treinos serviriam para ajudar a correr quem quisesse aparecer, que ninguém ficaria para trás e que seriam momentos sociais onde ajudaríamos ou a puxar  alguns para melhores ritmos ou a incentivar as pessoas a continuar a correr.

 

Acho que é este um dos nossos cartões-de-visita mais interessantes. Fazemo-lo por gosto, não há qualquer obrigação. Não há dinheiro envolvido, e isso nota-se. Temos muita consideração no “serviço ao cliente” que prestamos a quem se junta a nós. Temos uma grande paixão pela corrida, e isso nota-se igualmente, e somos muito “cool”. Não acham?

 

Por fevereiro fizemos o primeiro almoço da crew, que serviu para nos conhecermos ainda melhor, e começamos a planear as primeiras crew trips, por essa altura os novos elementos da crew começaram a treinar uns com os outros. As meninas treinaram muitas vezes juntas e os rapazes também. Sabíamos, no entanto, que uma vez por mês faríamos todos os esforços para estarmos juntos. A início na zona de Belém, mas depressa nos aborrecemos com a mesma tipologia de treino, no mesmo local, à mesma hora. Boring!
Não é coisa para nós. Somos criativos e gostamos de sair da nossa zona de conforto. Mas já lá irei.

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Nestes treinos conhecemos um corredor de boné. O João Filipe Figueiredo. Que nos descobriu na net em Dezembro quando procurava informação sobre corrida minimalista. Fã deste género de corrida, o João, começou a ser assíduo dos nossos treinos. Sentimos que estávamos, sem grande esforço, a chegar a anónimos e a incentivá-los na corrida. A generosidade e a humildade do João ficou-nos na cabeça. Como bom português, e portanto desconfiado, ainda pensei que ele seria de uma marca qualquer, que nos estava a testar para perceber melhor o nosso “Mojo” ou carisma, se preferirem. Mas não, ele só queria correr connosco...no bom sentido.

Voltando atrás, em meados de janeiro fomos desafiados por uma marca, a qual não vou revelar, a regressar aos Just Girls. Falámos internamente (sim, temos contacto diário, todos, uns com os outros) e decidimos avançar para o dia 8 de março, dia internacional da mulher. Sinceramente, não queria fazer nesta data porque ainda seria muito arriscado devido às condições atmosféricas, mas não só fazia sentido por ser Dia da Mulher como a marca ficou entusiasmada e achou muito boa a ideia.


O acordo era que as meninas da crew estivessem vestidas dos pés à cabeça dessa marca, sendo um “showroom ao vivo”. As “nossas” mulheres são simpáticas e giras que se fartam e qualquer marca gostaria, e gosta, de as vestir.

Contudo, duas semanas antes a marca indicou que, por razões de budget não iriam avançar. Fiquei chateado, claro, mas não muito, o Just Girls tem outro propósito, fazer o mesmo a outras mulheres do fez à minha mulher, Natália, passar-lhes o vício da corrida e mudar-lhes a vida. 

Mais chateado fiquei porque, passadas umas semanas, um projeto parecido com o Just Girls, mas em mau, surgiu por aí. Lembram-se do que ontem falei de não gostarmos de copiar projetos, de ser originais. Pois, não é para todos.

Neste Just Girls do Dia da Mulher, a que nos juntamos a outras crew em todo o mundo que celebraram com a corrida a data, conhecemos a Liliana Moreira. A Bo Irik acompanhou-a sempre nos 10K. Não sei se foi disto, mas a Liliana ficou-nos na retina. Gostámos da sua atitude de guerreira e de campeã. Não arranja desculpas para nada. A Liliana nunca mais nos abandonou e passou a acompanhar-nos nos vários treinos que organizamos.

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Liliana Moreira e Bo Irik

 

Já março dá-se a primeira crew trip ao Trail do Piódão. Quase todos participaram, menos eu e a minha mulher que fomos passear a Londres, e onde privamos com o casal que publica a melhor revista de running do universo a “Like The Wind”.

Para mim, foi brutal ver ao longe a sinergia e amizade da crew no Piódão. Foi o primeiro momento em que senti que a crew não era minha nem do Bruno Andrade e que era de todos. Já podia meter férias que alguém tratava do assunto, e bem! Foi o que precisava para afastar as nuvens negras que me levavam a pensar abandonar este projeto.

 

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Antes disso a minha mulher, a Ana e a Joana fizeram a estreia na distância da Meia Maratona. Bem a Joana, semanas antes tinha feitos os 20K+1 de Cascais, por isso já sabia o que era enfrentar a distância. Mas a Ana e a Natália, em duas semanas passaram de 10K para 21K. Perderam unhas mas ganharam um grande amor-próprio. Eu e o Nuno Malcata vimos a prova de fora e estivemos a incentivá-las. E só não chorei de orgulho porque o meu filho mais velho estava comigo. Mas nunca mais vou esquecer esse dia.

Ah, de referir que o blog começava a ter mais conteúdos de mais gente e de blog pessoal, passou a ser um blogue de um coletivo, ou melhor, de uma crew. E, de um momento para o outro tornamo-nos o blogue de corrida em que as marcas mais confiam. Não vos vou dizer a quantidade de ténis que todos nós, na altura 13, mas agora 16, recebemos. Mas todos eles são testados com seriedade e independência dando um respetivo feedback às marcas.

Em abril a agência de viagens especializada no mercado da corrida, a Endeavor Travel, do simpático Gleen Martin, convidou-me para ir correr a Maratona de Londres, tudo oferecido, em troca de uns posts no blogue. Aceitei com gosto, mas indiquei logo que ainda não estava preparado para fazer os 42.195 em estrada e por isso daria ao Pedro Tomás Luiz. E lá foi ele, o Peter Louis, fazer a sua primeira maratona no estrangeiro com a tshirt da crew.

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Depois de um chá com a rainha o nosso "Peter Louis" deu uma corridinha.

 

Em segredo sem ele saber, na véspera, preparamos um vídeo com mensagens de boa sorte. Uma coisa nossa, que não partilhamos com ninguém. Todos participaram, inclusive a Carmo Moser que gravou um vídeo desde o alto do Nepal onde estava a passar férias…e a correr. E cada vez mais ficava cimentava aquilo que chamamos de #CREWLOVE.  

O próximo landmark (esta expressão é propositada e dedicada ao leitor que tanto nos crítica por usarmos expressões em inglês. Um big hug para ele!) foi a crewtrip ao Louzan Trail. Antes disso o Nuno Malcata, com um joelho ao peito, estreou-se na distância da Maratona em Sevilha, e também teve o tal #crewlove, tornando-se assim maratonista. Estou certo que o resto da crew também se sentiu.

Há aqui uns sentimentos “foleiros” entre nós que parecem aqueles gémeos que sentem a mesma coisa ao mesmo tempo, mesmo estando longe...confesso-vos que no final desse dia, sentia-me tão contente como se fosse eu a fazer a Maratona.

Na Louzan fomos para casa dos avós do Pedro Luiz. Fomos quase todos, e foi das experiências mais marcantes que tive. Foi o meu primeiro trail e corri a maior distância até aos dias em que escrevo estas linhas 33km. Nos dias seguintes ainda sonhei com a prova e na superação que fiz a mim próprio e como encontrei alegria a correr nos trilhos. Foi um #Run #Beer #Repeat.

 

Neste trail o Luís Moura juntou-se a nós. Esteve sempre connosco. Aliás, falámos entre nós e começámos a perceber que o Luis Moura era das presenças mais assíduas nos nossos treinos e nas corridas ondes estávamos. Pessoalmente fiz as contas e acho que desde que escrevi no facebook pela primeira vez: “bora lá treinar juntos, às 19h00 em Algés”, que o Luís apareceu nos treinos do Correr na Cidade.

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Aos poucos fomos apostando mais nos trilhos. De tal foram que ainda ponderámos mudar o nome da crew. Mas não fazia sentido. Somos meninos, e meninas, da cidade que gostam de correr no campo. Ponto!

 

Com esta aposta e com a organização de um piquenique da crew para debatermos o futuro – algo que fazemos com frequência - passámos a organizar treinos semanais mas em locais diferentes com tipologias de treinos diferente. Dá uma trabalheira organizarmos isso mas com umas discussões saudáveis pelo meio, conseguimos acertar um calendário.

 

Criamos treinos de trail em Monsanto, com convidados especiais (anónimos como nós, mas VIPS no mundo da corrida, como o Fernando Xavier e o “ultra” casal David Faustino e Isabel Moleiro). O primeiro teve 50 pessoas.

Lembro-me de estar a chegar ao treino, no carro com o Nuno Malcata, e comentarmos que mais alguém, de outro grupo, organizou um treino à mesma hora que o nosso, tal o número de pessoas. Mas não, era tudo para nós. Que responsabilidade! Foi divertido, mas como estamos ali para proporcionar um bom serviço ao cliente – gratuito, claro – estávamos tensos para que ninguém se aleijasse. Foi o primeiro de muitos. Estes treinos chamam-se INTO THE WILD e tem sido um grande sucesso.

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Por causa do Trail começamos a fazer treinos de City Trail. Um conceito de explorar as cidades como se exploram os trilhos. Em vez de correr em plano, vamos para as escadas e para as colinas de Lisboa, e por vezes até levamos o material de trail running. É muito bom. Nesta altura o João Campos lança dois projetos fantásticos, o Corredor do BUS e os treinos Escadinhas & Subidinhas. Este último entrava em “conflito” com os nossos treinos de City Trail.

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 Nos City Trail passamos por alguns dos locais mais típicos de Lisboa

Mas, ao invés de sermos mesquinhos, invejosos e nos fecharmos em quintinhas, começámos a apoiar-nos mutuamente em ambos os treinos. Já chegámos a alterar datas para que não houvesse canibalização de treinos. É assim que deve ser, não? O João é uma pessoa muito criativa e generosa e nós gostamos disso. É frequente estarmos nos treinos dele e vice-versa. E assim iremos continuar.

 

17345528_E1l0w.jpegIsto é um treino do João Campos. "Animadito", não? 

 

Em maio o Stefan faz os seus primeiros 100k no Ultra Trail de São Mamede. Lembro-me que andámos todos num corrupio a ver se tudo corria bem com um dos nossos melhores atletas. E correu! No final reunimos uns trocos e levou um presente de todos. #CREWLOVE mais uma vez.

 

Resumindo um pouco para que isto não fique a parecer uma Badwater, no início de setembro apresentámos os três novos elementos da running crew: o Luis Moura que passou a correr com as cores de quem corria, efetivamente, com ele; A Liliana Moreira e o João Filipe Figueiredo, o corredor do chapéu.

 

Desde essa altura tem sido uma agitação. Começámos a “época” com a Corrida do Tejo e com mais um episódio peculiar. A organização da Corrida do Tejo lançou-nos um desafio: o de levarmos o máximo de corredores com as nossas cores. Só que nós não somos uma crew aberta, e por isso, decidimos apresentar um projeto diferente e muito debatido no seio da crew: “ajudar os corredores a superarem-se na Corrida do Tejo”. Dividimo-nos por grupos, uns apoiaram os mais rápidos a baterem o seu record, outros a baixarem o tempo na distância e outros ajudaram corredores a fazerem, pela primeira vez a distância dos 10K.

 

Uma ideia original, muito debatida com a organização da Corrida do Tejo. Conseguimos levar a nossa avante, graças à compreensão do departamento de desporto da CM de Oeiras. E ficámos contentes com isso. Foi uma ideia tão boa, tão boa, que mais grupos nos copiaram e fizeram o mesmo. No hard feelings! As ideias copiam-se, mas a criatividade não.

 

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Nesta altura, logo depois do verão, andámos a apoiar o Tiago Portugal na sua aventura na Sierra Nevada. 87km em trilhos. Uma Ultra aventura, mesmo. Novamente, ficámos agarrados ao telemóvel e ao computador todo o fim-de-semana a seguir a prova do Tiago. Prova superada, mais um ultra maratonista na crew! Yes!

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Entretanto, fizemos mais provas, de trail sobretudo,  e decidimos repetir, com mais gente, a experiência de Casainhos. Fomos todos menos a Carmo Moser que ainda hoje se debate com uma recuperação difícil de uma lesão chata. Mas está quase. Força Carmo, a nossa ultra maratonista!

 

Umas semanas antes tivemos a abordagem da Reebok para nos apoiar.

 

Eu e o Nuno Malcata tivemos uma reunião sincera a indicar que não abdicávamos do nosso bem mais precioso: a liberdade! E a marca percebeu. Assim, ficou acordado que até finais de 2014 iriamos aparecer em algumas provas e treinos de equipamentos Reebok. Não há dinheiro envolvido, só equipamentos.

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Eles dão-nos alguma visibilidade, nós testamos os materiais em primeira mão. A ligação a outras marcas continua. Estamos a testar marcas novas que estão a entrar em Portugal, alguns de nós vão ter desafios apoiados (em material, exclusivamente) por outras marcas concorrentes da Reebok. E, se visitarem o nosso blogue, veem que os conteúdos continuam independentes e diversificados.  

 

Entretanto a Bo e o Nuno Malcata vão ao UTAX, à prova de 45K. E apesar do esforço, tornaram-se ultra maratonistas. Mais dois ultras que se juntam ao Stefan, Pedro, Tiago, Carmo e Luís.

 

Falando no blogue, extensão mediática da crew, este continua a crescer diariamente. Alguns de nós têm uma envolvência com os assuntos da crew que é digna de um segundo emprego. E sem haver dinheiro nenhum envolvido. Todos corremos, todos amamos correr. Mas publicamos os posts com organização e planeamento, como se um site de informação sobre corrida se trata-se Aliás, fomos nós que fizemos a primeira entrevista à ultra maratonistas Anna Frost, a par da TSF Runners. Podem reler aqui.

 

E estamos, cada vez mais a apostar em sermos media partners de provas, sobretudo de trail running, e estamos a crescer em termos de visibilidade. Mas continuamos a manter a génese de uma crew indie que foi fundada por amigos apenas com o propósito de se divertirem e correrem, muito. Contudo, temos mais preocupações, somos exemplos verdadeiros de superação, de vidas saudáveis, com boa alimentação (ajuda termos duas nutricionistas na crew), e com respeito pelo próximo. De uma brincadeira, passamos a ser figuras semi-públicas na área da corrida, e não só, e queremos ser bons exemplos quer na família ou no emprego.

 

Apesar da organização de tudo o que fazemos ser sempre imaculada, continuamos a ser muito amadores, no sentido em que fazemos o que amamos.

 

E, cada vez mais temos mais amigos, amigos do peito que partilhamos, para além do núcleo dos 16, a paixão pela corrida. Por isso, ontem, sexta-feira comemoramos os nossos 2 anos de existência de crew com os amigos mais próximos num jantar em Lisboa. O mais engraçado é que nem eu nem o Bruno Andrade conhecíamos todas as pessoas que foram ao jantar. Pessoas que não são da crew, que até correm com outros grupos, mas que gostam de nós, que vão aos nossos treinos e que partilham provas connosco.

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E temos tido, cada vez mais, pedidos de pessoas que querem correr com a nossa t-shirt. Algo que estamos a ponderar, mas, mais uma vez a avançar será feito de forma original. A génese da crew é para manter e nos próximos meses dificilmente o número de membros irá aumentar. Somos muito amigos uns dos outros, já partilhamos a nossa vida para lá das corridas e somos muito cuidadosos com os nossos valores. Por isso, somos uma crew fechada.

 

Mas iremos evoluir, naturalmente, mas isso não passa por sermos um projeto de massas. Somos diferentes. Quem nos vê de longe deve achar que somos uma cambada de snobs. Apareçam nos nossos treinos e tirem as vossas conclusões. Eu acho que é carisma, mas posso estar a exagerar…

 

Entretanto, desde 15 de novembro de 2012, passaram dois anos a correr. Muita coisa se passou mas parece-me que ainda estamos naquela fase em que o corredor desperta os músculos das pernas antes da partida para correr uma ultra maratona.

 

Quem diria, Bruno Andrade, quem diria…

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