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Correr na Cidade

A minha primeira SwimRun - a primeira de muitas

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Espero que tenham lido o meu último post que serviu como uma espécie de introdução a este Race Report. Como o SwimRun é uma modalidade tão diferente da corrida em estrada e trilhos que aqui temos falado, achei que o tema merecesse um enquadramento.

 

Fiz portanto a prova Standard com o Nuno, em duplas, com o espírito de preferir desistir ou ser desqualificado por não cumprir o tempo limite da prova dos 25km do que fazer a prova dos 10km e cruzar a meta com a sensação de “quero mais”. 

 

Fomos levantar os dorsais no dia antes da prova e notou-se logo que o espírito é muito parecido ao das provas de trail. Na manhã da prova confirmou-se esse espírito: pouca gente e muita gente que já se conhecia. Um ambiente intimista e muito simpático. Estava bom tempo, solinho a algum vento e a temperatura da água rondava os 20 graus, que é ótimo.

  

No briefing fomos logo informados que a natação tinha ganho um peso um pouco maior na prova porque a barragem estava mais cheia do que o previsto. Além disso, o proprietário de um dos terrenos por onde era previsto passar não autorizou a nossa passagem e teríamos que percorrer um troço pelo alcatrão (felizmente viria a ser um troço lindo com paisagens alentejanas incríveis, de tal forma que nem nos importamos com o alcatrão).

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Depois do briefing estávamos então prontos para arrancar. O primeiro troço seria umas centenas de metros a correr antes de chegar à primeira natação. Comecei tão bem que nos primeiros 50 metros perdi a minha água. Levei um soft flask para poder hidratar entre abastecimentos. Tinha-o posto na bolsa de trás do tri-suit mas não funcionou. Então acabei por enfiá-lo no sutiã, nas costas, e aí sim, aguentou-se bem, durante as 6 horas de prova. Por ter ido apanhar o soft flask, ficamos logo nos últimos do grupo. Não me chateei com essa ideia porque também não estava com muita vontade de nadar no meio de tanta gente, algo que nunca tinha feito. Fomos então literalmente os últimos a entrar na água.

 

A primeira natação for estranha. Foi a primeira vez que nadava de ténis (desde os meus 6 anos, quando tirei o meu diploma de natação na Holanda) e com todo o equipamento. Até estava com medo de me afastar demasiado do Nuno e comecei a panicar um pouco. Felizmente o troço era curto e cheguei bem a outra margem.

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Depois foi um dos troços mais longos de corrida e com mais D+, onde iríamos subir quase até ao Castelo de Monsaraz. Os trilhos eram muito giros e o Nuno e eu estávamos contentes e bem dispostos. Ia puxando pelo Nuno nas subidas, onde ele, sensatamente dizia que preferia gerir esforço…

 

E pronto, entre paisagens lindas mesmo, típicas da região e com a natureza no seu esplendor no seio de uma primavera molhada, fomos alternando entre corrida em trilhos e natação na barragem. Houve até trilhos onde passamos no meio de rebanhos de cabras. E o Xiko e o Tiago até encontraram um javali no meio dos trilhos! Foi muito giro, e tal como nas provas de trilhos, adorei ter o privilégio de correr nalguns trilhos “sozinhos” sem gente à vista antes e depois de nós. Dá sempre uma sensação de paz e tranquilidade tão agradável!

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Houve três troços de natação que mais me marcaram:

  1. A travessia do Rio Guadiana, ao longo da ponte, numa extensão de cerca de 1300m - pela sua imensidão a reação quando vi esta travessia for literalmente: “OMG, isto é impossível!” . Curiosamente, correu super bem. Fui tranquila a curtir e a ponte servia de guia. Demoramos cerca de 40 minutos.
  2. A travessia “sem fim” em direção à bóia vermelha - havia algumas travessias de 800-1000m onde o maior desafio foi a questão da orientação. É difícil nadar e orientar-te por uma bóia que está tão longe, ainda por cima com a corrente e o vento que se fizeram sentir nalguns troços. Pessoalmente, sugiro à organização, nesses torços ter várias bóias a indicar o percurso e não apenas o final.
  3. A travessia “deliciosa” - sim, um um troço de natação onde me senti um verdadeiro peixinho na água. Curiosamente, já foi mais no final quando o cansaço já se fazia sentir. Consegui relaxar tão bem enquanto nadava que parecia que o universo estava em perfeita harmonia. Quase uma sensação holística e espiritual. Pode parecer estranho mas foi mesmo. Lembro-me tão bem das braçadas a tocarem a água que tinha a temperatura perfeito, dos raios de sol por debaixo da água e, como íamos junto à margem, tinha umas formações rochosas giras para nos entreter :)

 

Fizemos grande parte da prova com o vassoura, o Hélder. Foi giro ter um terceiro elemento da “dupla” e a parte mais engraçada é que ele conhecia o percurso mas ao mesmo tempo não conhecia porque já tinha sido tudo mudado! Ele foi uma ajuda preciosa, principalmente a poucos quilómetros do fim quando o Nuno estava quase, quase, quase a quebrar. Houve um troço de natação que, quando ele saiu da água, estava tão branco e dizia que não sentia as mãos, e pensei que ele iria querer desistir. Felizmente já cheirava à meta e um abracinho faz milagres e continuamos. Os últimos metros de corrida e natação foram emocionantes. Já com muito frio e exaustos, com 6 horas de prova, ouvir as vozes a na Praia Fluvial (onde estava a meta) a gritarem por nós, nunca me vou esquecer.

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Durante a prova tinha pensado que seria giro fazer um vídeo assim que chegasse sobre o material que tinha levado e fazer logo uma espécie de Race Report em vídeo. Só que não. Estava a tremer de frio e cansaço e o Nuno também e fomos logo ao carro aquecer e mudar de roupa. Mas sempre com um sorriso na cara, claro. A sensação de superação de uma prova com este nível de desafio é indescritível.

  

Tal como disse no post anterior, amei. SwimRun é “a minha” modalidade. Vou querer mais, muito mais. Não em termos de distância, acho que 30 km no total, chega e sobra, mas quero mais provas destas. Quero me sentir um anfíbio! Quero sentir a natureza por todos os lados!

 

Parabéns à organização. Sobretudo, obrigada à organização! Obrigada por terem levado esta modalidade a Portugal, um país com tanto potencial. Tenho a certeza que as próximas edições serão também um sucesso. Vem aí os Açores, Setúbal e Madeira. Infelizmente, por incompatibilidade de agendas, não poderei ir, mas recomendo vivamente. E… já estou a ver provas noutros países (quentinhos…).