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Correr na Cidade

Review: Salomon S-LAB Wings SoftGround

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Dois meses e 206 km depois, aqui vai o que eu acho destas sapatilhas da Salomon.


Intro
Os Salomon S-Lab Wings são uma (RE)evolução completa da antiga linha SLAB XT Wings. Percorri serras e estradões perfazendo mais de 800 km com os SLAB XT 4 e 5, sendo que depois não fiz o salto para os 6 no início de 2015 pois pareciam mais do mesmo. As alteração eram ligeiras entre cada refresh de modelo, mantendo as características base muito semelhantes, sendo umas sapatilhas muito equilibradas para fazer km's, mostrando-se estáveis, duráveis (dentro do que a Salomon nos habituou), leves e muito protectoras em pisos mais agressivos. A concorrência era muito menos agressiva e elas reinavam como expoente máximo de corrida. Pena o preço e a parte superior do chassis que partia muito rápidamente.

Confesso que me senti bastante animado e ansioso quando vi a que Salomon decidiu alterar a filosofia da linha Wings, seguindo numa nova direcção daquela que vinha a fazer. É perfeitamente notório que o "velho" conceito e alma das SLAB XT estão presentes, mas com o objectivo de produzir umas sapatilhas mais leves e fáceis de usar, mas é visível o desvio de filosofia e incorporação do que é usado nas SENSE ULTRA. Isto é, sapatilhas de topo para corrida leves e rápidas, sem chegar ao extremo das SENSE ULTRA. Tão simples como isso. O melhor dos dois mundos.

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Chassi superior

Este modelo usa têxtil sintético super leve e respirável para construir a parte superior, que se adapta muito bem ao pé. Inclusive é de destacar que devido a este mesh usado, é possível usar meias finas ou até mesmo correr sem meias, como acontece com alguns atletas, devido à superior robustez e leveza do têxtil. Para fortalecer a estrutura e robustez da parte superior, o sapato usa a tecnologia Sensi-Fit, comum a outros modelos da gama SLAB, que através de segmentos vulcanizados, permite aumentar consideravelmente a robustez do conjunto contra impactos e mudanças de direção rápidas, permitindo manter o peso baixo. Dá uma estabilidade em andamentos rápidos e mudanças de direção fantástica.

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Na parte frontal encontramos um reforço grande que permite atacar tudo o que nos aparece pela frente sem medo de nos aleijarmos. Até à data protegeu-me o pé de todos os impactos com rocha e árvores nos encontros de primeiro grau que tive. A qualidade e o tamanho da proteção são muito bons.


Um pequeno detalhe que podem verificar nas fotos, é que a largura da sapatilha na parte mais frontal é ligeiramente mais reduzida do que o normal, o que pode provocar algum desconforto a quem gosta de correr com os pés mais soltos e não tão apertados.

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No meu caso em particular que costumo correr com Salomon nos modelos 42 2/3 ou 43 1/3, os 42 2/3 que recebi ficam um bocado apertados e isso sente-se. Ao percorrer a Internet apercebemos-nos que muita gente se está a queixar do mesmo e neste modelo convém usar meio número acima porque a forma está ligeiramente mais pequena.

Uma das novas features que este modelo trás face ao modelo anterior e que realmente aporta grandes benefícios, é o sistema ENDO-FIT, ou a pseudo meia-elástica que rodeia todo o pé na parte superior, logo debaixo do cordão atacador e que faz com que o pé se encaixe de uma maneira mais natural, segura e cómoda dentro da sapatilha. É quase como se a sapatilha passa-se a ser uma extensão do pé. Senti este benefício quando comecei a usar as SENSE ULTRA 3 e gostei bastante. Aqui não é diferente. Sente-se mesmo uma evolução enorme no conforto e segurança face aos anteriores Wings.

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Chassi central


O meio da sapatilha foi onde se efectuaram as alterações mais radicais. Vem dai a maior redução de peso, ao trocar a antiga estrutura mais rígida e pesada para usar agora uma espuma consistente e leve, tal como nas SENSE. De acordo com a Salomon é responsável pela redução de 40% do peso e do aumento do conforto no geral. Também tornou a sapatilha mais flexível e menos rígida na torção, muito útil em grandes declives ou mudanças de direcção muito rápidas, como acontece em zonas técnicas, tornando a sapatilha mais confortável e ágil nessas situações.
O drop da sapatilha é de 9 mm, ligeiramente acima da tendência do mercado de se concentrar agora entre o 6 e 8 mm. Não senti qualquer problema com isso.


Desapareceu também a famosa curva da sola que caracterizava o modelo SLAB Wings na parte anterior e que muita gente não gostava, sendo agora muito mais directo.

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Sola


Foi completamente redesenhada em termos de materiais e desenho tridimensional das gomas de borracha.
Na versão que estou a testar (SoftGround) as gomas são maiores e mais profundas para garantir uma maior aderência em terrenos mais húmidos e/ou enlameados, mas também existe a versão "normal", onde as gomas são um pouco mais curtas, permitindo obter uma maior tracção em terrenos mais rápidos e técnicos, assim como uma ligeira redução no peso total.
É usado também a tecnologia PRO-FEEL na sola, uma proteção extra contra rochas ou outros objectos mais pontiagudos que se pode encontrar no terreno. É uma espécie de película que se demonstra flexível e muito resistente de maneira a absorver os impactos mais fortes que ás vezes acontece, principalmente a descer.


Conforto


Muitas pessoas sentem-se muito à vontade a usar Salomon. Outros, devido ao formato e forma como as sapatilhas encaixam nos seus pés, não se conseguem habituar à rigidez que elas evidenciam. Eu adoro Salomon, já vou no meu 6º par e consigo correr perfeitamente com elas em qualquer piso, dando-me um conforto acima da média e uma segurança para atacar as subidas e descidas sem medo. Sem medo não é desrespeitar a serra/montanha, mas sim enfrentar com confiança e saber até onde podemos ir quando puxamos por nós e pelo material.
Em termos de conforto geral, está muito acima dos modelos antigos das SLAB XT e um pouco acima das SENSE ULTRA. Evolução muito boa.


Um pormenor que já é comum a vários modelos da Salomon, é que é necessário alguns km's iniciais para nos habituarmos a este tipo de estrutura. Algumas pessoas tem dado um feedback negativo das "antigas" XT Wings precisamente por terem uma curva grande até nos sentirmos confortáveis nelas. Enquanto que por exemplo nas SENSE aos fim de 3 ou 4km já sentia que elas se encaixavam bem nos meus pés, as Wings anteriores demoravam uns 30/40km até termos essa sensação. Estas Wings por serem um pouco mais flexíveis e leves que as anteriores, ao fim do primeiro treino de 8km já me sentia extremamente confortável e moldada ao meu pé. Já estavam "partidas" :)

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Design/Construção


Em termos de design e construção, a Salomon está sempre na vanguarda da tecnologia e aparência. Tem uma equipa de desenvolvimento grande, polivalente e com muita experiencia e isso nota-se no desenho das mesmas. Neste modelo em particular, sendo na sua grande maioria em preto, quase não se consegue notar muitos dos pequenos detalhes, mas eles estão lá.


Em termos de qualidade de construção, são sem dúvida as melhores e mais robustas Salomon que já testei. A qualidade dos materiais está muito acima do que eles faziam. Parece-me que aqui houve uma necessidade de se (re)-afirmarem já que a concorrência vinha nos últimos tempos a colocar no mercado boas sapatilhas a preços mais acessíveis. E foi com este estrondo que a Salomon bateu o pé e afirmaram "ainda estamos aqui no topo da pirâmide"!



Estabilidade/Aderência


Estabilidade sempre foi um dos apanágios destes modelos e agora continua bem acima da média. Neste modelo especifico SG para lama e piso molhado, é impressionante a aderência que tenho tido em subidas e descidas ingremes onde maior parte das pessoas começa a fazer ski ou sku, e consigo manter uma aderência super elevada. As SENSE ULTRA 3 que tenho já tinham mostrado isso em piso seco e diversificado, mas estas conseguem-no fazer em todo o lado.


Num aspecto menos positivo, mas não pode ser encarado como um ponto negativo devido à sua natureza, as gomas a serem mais altas e "moles" para ter grande aderência, fazem com que as passagens por alcatrão ou estradão mais duro seja um pouco menos confortável. Nunca chega a ser desconfortável, mas é um mal-menor para ter as características demonstradas no molhado.

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Amortecimento


Não são as sapatilhas mais confortáveis do mundo, nunca foram, pois foram feitas para serem rápidas e eficazes. Mas nota-se que neste momento com a troca do esqueleto antigo 3D em plástico por esta espuma EVA muito mais leve e fofa, ganhou-se um bocado no amortecimento geral da sapatilha. Já não é tão bruta a transmitir todos os detalhes do terreno, fazendo uma maior filtragem para o que passa para o pé.


Acho que está muito perto do ideal que encontrei nas SENSE ULTRA, onde o feedback que recebemos do terreno é quase perfeito, mas aqui com um pouco mais de conforto perde um pouco essa sensação, no entanto, ganha-se em conforto e permite fazer grandes extensões de prova seguidas. Daqui a 2 semanas tenho 50km e vamos ver como se comportam a levar pancada forte durante tanto tempo.

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Preço


Tal como outras características a que a Salomon já nos habituou, a etiqueta de topo de gama trás um grande peso que é transposto para o PVP. 170€ é um valor elevado para se pagar por umas sapatilhas mas desde 2015 que se observa uma competição feroz entre diversas empresas que comercializam sapatilhas e assim temos uma boa parte do ano em promoção. E é ai que aconselho sempre as pessoas as fazer as suas compras. Daqui a 1 ou 2 meses já deverão aparecer promoções que devem fazer descer o preço para os 110/120€, e aí penso que são de longe a melhor opção para se correr em trail hoje em dia.


Conclusão


Foram várias as introduções feitas nas SLAB Wings, fazendo com que a mini-revolução da sapatilha a torne diferente do que as pessoas estavam habituadas nas antigas SLAB XT Wings, e diferenciando-se das primas WINGS PRO que saíram em 2015.


De facto nota-se que existiu aqui um casamento entre as antigas SLAB XT Wings e as SENSE ULTRA. Parece que foram buscar o melhor dos dois mundo e saíram as SLAB WINGS.


Ficou com uma forma similar ás XT, mas com uma filosofica de peso e materiais muito mais aproximado das SENSE ULTRA. Quem ganha são os corredores, que agora tem uma sapatilha que é leve, ágil, com imensa tracção e duráveis (para os standards da Salomon). Neste momento ficam entre as SENSE ULTRA e as PRO a nivel de posicionamento de mercado.


Dentro de uns dias vou fazer a minha review das SENSE ULTRA 3 que tem quase 170km, mas como podem ver pelas fotos, estas Wings SG com 206km, na sua maioria em Sintra, tem um desgaste muito pouco notório. Diria que temos uma sapatilhas com algum volume e resistentes, com a filosofia peso light das SENSE. Dos 206km, maior parte foi em terrenos enlameados ou muito húmidos devido à altura do ano e as sapatilhas raramente perdem aderência, seja em que piso for, a subir ou descer.

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Resumo

Pontos positivos
- peso oficial de 290 gramas ( acima das 240gr das sense 4 ) mas bem abaixo dos 345gr das XT Wings PRO.
- durabilidade bastante melhorada.
- transmitem segurança e permitem andar rápido em todos os pisos.
- sistema de encaixe do pé com o sistema ENDOFIT é fantastico e funciona muito bem.
- sistema de quicklace para apertar o pé que a concorrência tenta imitar mas só a Salomon consegue fazer com que funcionem correctamente.

Ponto negativos
- palmilha muito fina e leve. tem tendência para sair ás vezes do sitio, principalmente quando estão ensopadas da passagem em rios.
- biqueira mais estreita que obriga a comprar numero acima do habitual na Salomon para manter conforto.
- preço elevado.


Conforto 18/20
Design/Construção 20/20
Estabilidade/Aderência 20/20
Amortecimento 19/20
Preço 16/20

Total 93/100

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Podem consultar o preview aqui. Bons treinos para todos :)