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Correr na Cidade

Triatlo de Cascais - Race Report

 

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 Por Pedro Tomás Luiz

 

Embora esteja habituado a preparar logísticas de provas relativamente complexas, a preparação de um triatlo, apesar de mais simples do que preparar um MIUT, obriga na prática a preparar 3 provas distintas.

 

Assim e com medo que me tivesse esquecido de alguma coisa ou houvesse algum percalço, às 05:00 da manhã já palmilhava uma vila de Cascais completamente deserta.

 

Chegado ao parque de transição (local onde se fazem as transições entre os vários segmentos) havia que dispor todo o material no local que me estava destinado. Mas como o corpo é quem mais ordena, a primeira paragem foi mesmo no WC, arrumando logo com esta “logística” bem antes que grandes filas se formassem. Desenganem-se os que pensam que é apenas um mero detalhe a disposição do material, quem faz triatlo a “sério” treina as transições, como se de outra modalidade se trata-se e estuda a melhor forma de colocar o material até ao mais ínfimo detalhe por forma a gastar o menor tempo possível entre cada segmento.

20150927_070116.jpg (Parque de transição)

 

Como quem não sabe pergunta, questionei os juízes que por ali circulavam, quais as regras para o material. Basicamente só há uma apenas as sapatilhas de corrida podem ficar fora do cesto, tudo o resto ou fica na bicicleta ou dentro do cesto, o incumprimento desta regra dá direito a penalização.

 

Assim, posicionei o meu material na forma que para mim era a mais lógica, ou seja pela ordem que iria vestir as coisas, o que na prática resultou no seguinte: t-shirt, dorsal, óculos escuros, capacete, meias, comida (dentro dos sapatos de encaixe) e sapatos de encaixe.

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 (Material alinhado no parque de transição)

 

Tudo alinhadinho verifiquei a pressão dos pneus, vesti o fato isotérmico e entreguei a mochila ao meu amigo Luís que de propósito se tinha levantado aquela hora só para me vir ajudar. Ter a sorte de ter um alguém a servir de equipa de  suporte, não só minimiza os erros, como alivia a pressão de tudo o que seja relacionado com a envolvente de preparar a prova.

 

Pequeno percurso até à partida, feito na risota e a tirar umas fotos para aliviar os nervos.

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 (A minha cara felicidade diz tudo)

Aquecimento feito com umas braçadas na água (temperatura fantástica) o pessoal foi-se alinhando na praia para a partida.

 

Segmento de Natação (1,1km):

 

 

3, 2, 1 buzina!! Foi a debanda geral. Tinha-me posicionado na lateral para evitar nadar no meio do maralhal, mas foi basicamente impossível escapar da confusão… pernas, braços, pés e mais braços… parecia que tinha sido enfiado numa máquina de lavar a roupa na altura da centrifugação. Ali estava eu azamboado a nadar atabalhoadamente e a engolir pirolitos atrás de pirolitos, lembro-me de pensar “Isto não está fácil”. Com o coração a disparar tive de concentrar-me na técnica, não só para aliviar algum do pânico que estava a sentir mas também para imprimir algum ritmo e eficiência na minha natação.

 

Com o pelotão a alongar a pressão e o contacto físico entre os atletas foi aliviando ( excepto quando se contornava as bóias em que ai era confusão total) o que me permitiu imprimir uma cedência certinha (sempre levantando a cabeça para não perder o azimute).

 

Última bóia e já com a praia à vista decido era tempo de acelarar um bocadinho para tentar recuperar o tempo perdido na atrapalhação incial.

 

Mal os braços tocaram à areia levanto-me e desato a correr até à zona de transição. A natação estava feita!

 

Segmento concluído em 20:41 (116º melhor tempo), numa média de 3,2km/h (1:53 por cada 100m). 

 

Trasição Natação – Ciclismo

Esta transição foi um desastre completo. Primeiro andei às aranhas com o relógio, pois com as mão meias dormentes, carregar em botões estava a ser uma tarefa muito difícil, depois com a atrapalhação de ir a olhar para o relógio virei no corredor errado o que me obrigou a voltar para trás.

 

Já ao pé da bicicleta consegui despir o fato com muita facilidade, mas uma tarefa  que seria à priori muito básica e rápida revelou-se um quebra cabeças. Com o corpo molhado a t-shirt, não só não deslizava como se enrolou por completo nas costas, o que após algumas insistências me obrigou ao processo de despir, secar o corpo e voltar a vestir a t-shirt. O resto do processo foi bastante simples e rápido, mas tudo isto tornou uma transição estimada para durar no máximo uns dois minutos nuns longos e penosos 4 minutos e 16 segundos…

 

Segmento de Ciclismo (46km)

Ainda a recuperar da natação, mas com as pernas a responder muito bem, comecei o segmento por comer e hidratar-me enquanto procurava aumentar o ritmo.

 

O percurso em termos técnicos era composto por duas voltas de 23 km, plano, havendo apenas uma pequena subida a meio de cada volta. Sendo totalmente junto ao mar era de esperar um forte vento de norte que iria dificultar a vida aos atletas. A juntar a isto nesta prova é ilegal fazer drafting (andar na roda de alguém) dando direito a desclassificação que for apanhado a fazer.

 

Sorte de principiante ou cunha ao S. Pedro e o dia estava perfeito, o vento mal se fazia sentir, o céu estava azul, temperatura amena ou seja tudo exactamente como gosto.

 

Primeira volta e meia foi apertar o mais que pude, com a minha Triban a portar-se à altura de bicicletas 10 vezes mais caras, consegui imprimir uma boa cadência e uma boa média, recuperando assim muitos lugares. Segunda metade da segunda volta, fui mais conservador e baixei o ritmo, para poupar as pernas, com medo que me faltassem na corrida.

 

Ainda houve tempo para ver passar o Bruno Pais e o meu conterrâneo José Estrangeiro (1º e 2º classificado da prova longa) nas suas máquinas, que fizeram ter a sensação que os meus 35km/h (velocidade a que rolava na altura) eram o mesmo que estar parado.

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 (José Estrangeiro - 2º Classificado da Prova Longa)

 

Segmento concluído em 01:29:28 (85º melhor tempo), numa média de 30,4km/h, o que me deixou bastante satisfeito dado o facto da minha Triban ter limitações e de não levar extensores.

 

Transição Ciclismo – Corrida

Escaldado da outra transição foquei-me ao máximo para não cometer erros estúpidos. O resultado foi despachar esta transição em 00:01:37, o que não é brilhante mas relativamente aceitável.

 

Segmento de Corrida (10,5km)

Aqui sabia que estava na minha praia, a incógnita era como iriam reagir os músculos das pernas depois de 46km de bicicleta.

 

O percurso era constituído por 2 voltas de 5,250km, com ligeiras subidas e descidas  Enquadrado no perímetro urbano da vila de Cascais, possibilitava houvesse publico durante todo o percurso a apoiar os atletas, o que aumentava a motivação e quebrava por completo a monotonia normalmente associada aos percursos de corrida de estrada.

 

Assim, mal saí do parque fiz um abastecimento de gel e água e comecei a correr direcção ao forte. Como a sensação que estava a ter era que ia muito lento, quase não acreditei quando o mostrador do relógio apresentava um ritmo de 4m/km (o que era absurdamente rápido). Ainda com a sensação de tartaruga, optei por ignorar as minhas sensações e confiar na tecnologia baixando o ritmo para os bem mais exequíveis 4:30m/km.

 

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 (Passagem pelo António Pedro das Salamandras que me deu o seu apoio)

Com a quinta engrenada e com óptimas sensações a percorrem o corpo, fui gozando aquele momento e aquele ambiente espectacular.

 

Segmento concluído em 00:47:22 (34º melhor tempo), numa média de 4:31m/km.

 

O resultado final foi um tempo de 02:43:26 e um fantástico 67º lugar na geral (200 finishers), numa prova disputada num cenário maravilhoso, com uma organização que efectivamente está de parabéns. Fica o bichinho a moer cá dentro... Para o ano há mais e agora é tempo de mudar o chip para o próximo desafio.

 

Por último uma coisa que trouxe desta prova foi a preocupação ambiental, sabiam que quem fosse apanhado a atirar lixo para o chão era automaticamente desclassificado? que tal replicar isto noutros eventos.

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 (Final da Prova com o Diretor da Prova Jorge Paulo Pereira)