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Correr na Cidade

A travessia do deserto: não correr!

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Por Filipe Gil:

 

“Não dá mais! Tenho de ficar por aqui. Não vale a pena insistir. Acabou, desta vez é para parar mesmo!”. Foram estas as palavras que ecoaram na minha cabeça no final da tarde do passado domingo e que me obrigaram a agir.

 

Uma semana depois da Marginal à Noite (8Km) feita sem dores e apenas com umas dores no pós corrida, que no dia seguinte já não se faziam sentir, e com 3 sessões de fisioterapia e uma sessão com a Dr.ª Sara Dias (que agora também dá consultas na Estrada de Benfica, em Lisboa, aqui), depois de vários exercícios caseiros recomendados pela fisioterapeuta, depois de algumas sessões de fortalecimento muscular no ginásio, apenas uma  corrida ligeira de 4,5km deixou-me cheio de dores. No joelho e na alma.

 

Para ser completamente honesto, tenho que dizer que umas horas antes corri cerca de 15 minutos, se calhar nem tanto, na praia, com um amigo que se está a iniciar nestas coisas da corrida. Devagar, como manda a “lei das lesões”. E no final, nada de dores.

 

Depois da praia decidi ir “experimentar" e avaliar a lesão. Se já tinha corrido 8km sem dores tinha curiosidade como ficaria depois de mais 8 ou 10km, uma semana depois. Mas nem foi preciso tanto. Saí de casa, andei um bom pedaço para aquecer. Fiz movimentos de aquecimento dos joelhos, dos tornozelos, e lá fui. Devagar, devagarinho. E, tal como já disse, no fim de 4,5km, tive de parar. Respeitando as ordens da fisioterapeuta: “Há mínima dor, é para parar!”. Depois fiz os restantes 4,5 km de regresso a casa a andar. Ainda tentei esboçar uma corrida, mas mais do que 4 passadas e tinha que parar, tal era a dor.

 

Quando me sentei em casa, já sem dores, pensei para mim: “isto é daquelas coisas que vão e vêm. Se calhar amanhã, já estou bom”. Mas refreei os pensamentos. Não dá para continuar assim. Já chega! Estou mesmo farto. Ainda tive ânimo para ir fazer alongamentos com o foam roller. E não doeu mais nem menos que nas outras vezes.

 

E se me deitei com a sensação de que “se calhar foi pela água fria do mar (que não estava fria), ou da corrida na areia descalço (15 minutos?)”, acordei já com outra sensação: a de moínha no joelho. Contínua. Sempre presente. E ao descer escadas e subir as dores voltaram. Por motivos profissionais desci, na manhã de segunda-feira, a rua que vai das Amoreiras ao Marquês de Pombal, e tive de parar de andar pelo menos uma vez tal eram as dores no joelho. Parecia o dia a seguir ao Ultra do Piódão. Ridículo, não?

 

Uma regressão no tratamento na minha lesão. Claro que por culpa minha. Se estou a fazer tudo bem porque está a falhar a recuperação? Porque razão uma corrida de 4,5kms fez pior que a Marginal à Noite de 8km? Será que foi a corrida de 15 minutos na praia? Não é preciso ser-se muito inteligente, para ter a resposta. Se estou a fazer tudo bem, o que está a falhar? A única coisa que estou a fazer mal é: não parar totalmente enquanto reabilito. O máximo que estive sem correr (ou tentar correr) foram 2,5 semanas ou 3 – não consigo precisar -, o que para mim é muito, mas não é suficiente, parece, para esta lesão.


Por isso vou deixar de correr! Totalmente. Como sou uma pessoa de objetivos, passo a ter como regresso à corrida na Corrida do Tejo. É igualmente ridículo uma meta nesta altura, mas é assim que funciono. Espero chegar a essa altura e correr livremente. Sem dores. Coisa que já não me lembro como é.

 

Na passada sexta-feira depois do trabalho passei de carro por Monsanto. Eram cerca de 20h30m. O calor já estava a desaparecer mas ainda pairava no ar aquele “bafo” agradável de final de tarde de verão. O sol, cor de laranja, começava a pôr-se no horizonte O cheiro da terra quente e das árvores estavam no seu expoente máximo – que até no carro em movimento se faziam sentir. Fechei os olhos por momentos (não, não estava a conduzir) e lembrei-me dos treinos que lá fiz no verão passado por aquela hora. A sensação fantástica de correr, subir, descer entre risadas dos amigos. De correr com roupa leve e sentir a natureza em simbiose connosco. Algo que de gosto muito e de que tenho muitas saudades e que não vou poder fazer este ano. Mas para o voltar a repetir e não arranjar aqui uma lesão crónica, tenho de parar. Parar mesmo. Afastar-me da "tentação" de voltar a correr, tentar (o que não é fácil) abstrair-me das corridas que pululam à minha volta, e tentar atravessar com cabeça esta espécie de deserto sem treinos, sem corridas, sem correr.

Estou demasiado "envolvido" com esta lesão para dar conselhos a quem está a passar pelo mesmo, até porque cada caso é um caso. Contudo, se me perguntassem o que aconselho, a primeira coisa é: parem de correr JÁ !; e procurem um especialista. Sigam uma metodologia e não misturem várias. Escolham-na e sigam até ao fim. Se não resultar, então aí mudem para o próximo. 

 

Da minha parte é um "até já" nas corridas. Espero voltar mais forte lá para o fim do verão.