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Correr na Cidade

Documentário Transvulcania 2013

Coloco aqui um documentário sobre a edição deste ano (2013) da Transvulcania, ultra maratona realizada em La Palma, mas Canárias (Esp). Documentário que podem ver aqui o no canal Correr Na Cidade na Meo (531228). Ah, só mais uma nota, as inscrições para a edição de 2014 (de Ultra, Maratona e Meia Maratona), a 10 de maio, já estão abertas. Aqui neste site.

Race Report - V Trilhos de Casainhos: “Muito duro. Que bom!”

Por Filipe Gil

 

Estava entusiasmado para esta prova, o V Trilhos de Casainhos (15K), mas o dia anterior fez-me temer o pior. Não, não estava lesionado ou doente, mas tive duas festas de aniversário e comi muito, muito mesmo. Bebi sumos, colas, comi mousse de chocolate e a deliciosa tarte de amêndoa feita pela minha mulher e umas 10 chamuças semi picantes. O ideal para que no dia seguinte, face a um esforço fora do normal, o meu corpo pudesse reagir de forma estranha. Por isso mesmo, quando me levantei no domingo, ainda “satisfeito” e de barriga cheia com a contenda do dia anterior mal fui capaz de ingerir mais de uma torrada com doce.Saí de casa, onde todos ficaram a dormir, e fui ter como o Pedro, Stefan e Tiago a meio caminho. E daí partimos – apenas num carro – para Casainhos.

 

Confesso que nesta altura estava meio alienado, apesar da excitação dos dias anteriores pensava que ia encontrar muitos “caminhos de cabras” e uma grande subida e pouco mais. Puro engano.Dos quatro o Tiago era o mais entusiasmado (algo que me valeu muito durante a prova, e que aqui agradeço publicamente). Mal chegámos, vestimos as novas t-shirts do Correr Na Cidade Running Crew, desta vez em azul, e fomos buscar os dorsais, falamos com alguns conhecidos, entre os quais o amigo Bruno Claro do Correr Lisboa. Em menos de nada estávamos a sair do campo de futebol do Sporting Clube de Casaínhos rumo aos montes - nesta altura já tinha percebido que seriam mais de que um.

 

Os primeiros metros, na vila de Casainhos foram passados a falar com o Tiago. Nessa altura o Stefan e o Pedro já tinham zarpado e foram com a frente da corrida. Depois, passado nem 1 quilómetro, num terreno perfeitamente normal, plano, onde ervas e pedras se entrelaçavam, tive o meu batismo de trail: fui ao chão! Escorreguei e acabei na horizontal. Nada de especial, nem sequer um arranhão. Mas lembrei-me imediatamente da grande sensatez em não ter levado o iPhone e sim um telemóvel antigo e mais robusto, pela queda que tive era certo que o tivesse partido. Mas engraçado foi a reação das pessoas que estavam junto a mim a tentarem ajudar e a perguntar se estava bem.

 

De fato, o trail na questão de entre ajuda, é muito diferente das corridas em estrada. Reposto o orgulho e novamente na vertical segui o caminho até à primeira subida. E que subida para começar, subi, subi, subi, andei, tentei correr - juro que tentei, mas não consegui. O Tiago bem puxou por mim mas a respiração devia estar perto dos 190 batimentos por minuto ou mais e pouco mais conseguia que andar apressadamente. Geralmente, em estrada consigo recuperar das subidas quando regresso a terreno plano. No trail tenho que aprender a recuperar ainda na subida.Depois veio a primeira grande descida, que foi um prazer.

 

É mesmo bom descer. Apesar de escorregar aqui e ali, desci a uma velocidade razoável para um estreante destas andanças. Por mais vídeos que se vejam no You Tube só mesmo a experiência nos ensina a descer com mais velocidade no trail, espero para a próxima ser mais rápido. Os ténis que calcei, os Skechers GoBionic Trail, portavam-se bem, apenas o fato de serem minimalistas fizeram sentir algumas pedras como se estivesse descalço, o que me incomodou, mas, por outro lado, a sua leveza e rápida secagem após pisar alguma poça de água ajudaram na experiência do trail. Contudo, para início acho que devia ter levado algo com mais protecção. Este GoBionic Trail são para gente mais habituada a trilhos e não para estreantes.

casainhos2Os corredores passaram no meio destas ruínas. 

Mais à frente, ao KM 5, penso, demos de caras com um palácio em ruínas, fantástico. Passamos dentro dele, num caminho estreito e cheio de arbustos. Aqui tomei nota de, para a próxima, ir com meias compressoras ou com calças de corrida. Resultado, uns arranhões para mais tarde recordar. Mas se o problema fosse todo esse, o problema, ou um deles, veio logo a seguir: a subida ao marco geodésico de Cabeço de Montachique. E que subida!

 

Bem tentei correr atrás do Tiago, mas nada. A paisagem é linda por ali, mas estava tão cansado e tão concentrado que nem sequer aproveitei estar numa altitude tão fora do normal do dia-a-dia. Bebi um pouco do Isostar que levei num cinto da Salomon. Demorei uns 2 minutos a colocar a garrafa no local, tal era o cansaço. Mas depois veio uma excelente descida.Daqui até ao km 12 as coisas correrem normalmente, tive que andar aqui e ali, pisei lama acolá. Todavia senti uma sensação estranha, pela primeira vez desde que corro: no final das descidas mais íngremes, quando o ritmo cardíaco voltava um pouco mais ao normal, senti-me cansado e tive de parar umas quantas vezes, quando o normal seria, depois de uma descida, começar a correr mais rapidamente, com o ritmo cardíaco estabilizado.

 

O meu corpo não estava nada habituado a estas andanças. E foi a partir daqui que, apesar do incentivo do Tiago, ganhei mais respeito à prova e ao trail. Não, amigos, isto não se faz com uma perna às costas. Isto é duro, mas ao mesmo tempo transcendente e muito bom.

20131110-235354.jpgParte final de uma grande, grande subida de 700 metros.

Mais à frente e depois de umas grandes descidas, em que praticamente senti que pouco toquei com os pés no chão, apanhamos uma subida muito íngreme de cerca de 700 metros com 70% de inclinação. E aí as coisas separaram os homens dos meninos. Subi sempre, nunca parei, mas senti os gémeos prestes a rebentar e por uma ou duas passadas senti as pernas a desfalecer. Percebi que fiz mal em n\ao ter levado as meias compressoras, aqui teriam ajudado certamente.

 

Continuei a subir com dificuldade e fiquei ainda mais abatido quando o corredor da frente se vira e senta-se no chão, desistindo por momentos da “pancada” dada pelo percurso. Quanto a mim a fadiga era tal que cheguei a colocar as mãos no chão para ajudar na caminhada - foi nesta fase que me senti um verdadeiro Anton Kupricka de trazer por casa. E, ao mesmo tempo percebi a elevada preparação física que os ultra mountain runners têm. Respect!

 20131110-235330.jpg
Foto tirada pelo Bruno Claro (Correr Lisboa) que ainda tinha fôlego para tal

Uma vez chegados ao cimo esperava-nos um abastecimento de água. Sublinho aqui a excelência da organização. Uma prova de 7€ (sem almoço) com todas as condições. O caminho muito bem marcado, abastecimentos de água e um abastecimento de laranjas foram mais que suficientes. Para além da simpatia de todos os que indicavam o caminho.

Dá vontade de repetir a prova só pela organização do Sporting Clube de Casainhos.Uma vez no topo da última subida digna desse nome (houve outra mais à frente mas que não ficou, certamente, na memória dos corredores como a que acabei de descrever, e que podem ver na foto) rumámos em direcção à meta. Aí tanto eu como o Tiago aceleramos porque arranjamos um objetivo de última hora: acabar antes das 2 horas. Exato leram bem, 2 horas!!! Para perceberem a dificuldade do percurso, e do trail running em geral, pensem no tempo que gastam, em estrada, a correr 15K e depois comparem com o tempo que se faz nos trilhos - estou agora a escrever para aqueles que em breve irão fazer o seu primeiro trilho.E lá conseguimos chegar antes das 2 horas onde já nos esperavam o Stefan e o Pedro de cerveja na mão. Em suma, foi fantástico. Aconselho a todos experimentarem um trail (comecem por um de pouca distância como este).

1467260_194136304107425_517098954_nMeta. Finalmente!

É uma experiência completamente diferente de correr na estrada. É outra coisa, apesar de ser corrida também. Quanto a mim, apesar de estar com umas mazelas, sobretudo no pé direito, vou agora voltar à estrada a pensar já quando irei voltar à próxima prova de trail. Ainda não sei quando será, mas não será daqui a muito tempo. O bichinho do trail ficou!

O que aprendi neste primeiro trail:

#Ténis minimalistas só ao fim de umas provas de trail. No início convém levar algo com mais protecção.#Levar meias compressoras, os gémeos agradecem (muito) e as pernas que passam por diversos arbustos também.#Não levar telemóveis ou outros aparelhos que se possam partir com as quedas (isto não inclui relógios GPS). É preferível levar um telemóvel velho com boa bateria (até porque se podem perder ou aleijar e terem de comunicar com alguém).- Levar boné ou Buff por causa do suor.#Treinar subidas, muitas vezes, antes de ir para uma prova desta natureza.

fotografia 4Da esquerda para a direita Tiago, eu, Stefan e Pedro, os corredores do Correr na Cidade Running Crew que participaram neste trail