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Correr na Cidade

Regressar ao local onde fui feliz

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Por Luís Moura:

 

No passado domingo foi dia de revisitar memórias.


Comecei a correr há 3 anos e 11 meses. E no domingo fui fazer uma das minhas primeiras provas "a sério" que já tinha feito quando tinha (apenas) 11 meses de corrida. E onde tudo era mais fácil de gerir...

Na altura estava a um mês da minha primeira maratona e estava com a motivação a 500%. Sentia que, a cada semana que passava, uma contínua evolução. Era uma sensação fantástica e que elevava a minha auto-estima.

No passado domingo foi dia de regresso. Existiram condições logísticas e de necessidade para isso. Se no ano passado passei o primeiro trimestre do ano a treinar quase 100% estrada para a meia-maratona da Ponte 25 de Abril, este ano estou a fazer mais força e alguns treinos rápidos.

 

No ano passado estava a meio da preparação para os 100 quilómetros de São Mamede, e sem grandes treinos de cardio, foi interessante ir testar a máquina numa prova rápida de 15km como é as Lezírias.

 

Ontem e hoje
Em 2012 fiz 1h22m, muito perto do meu limite de esforço na altura.


Para 2015 o treino foi muito diferente. A capacidade de andar rápido é outra e a capacidade de sofrer está em valores muito mais altos. Ao mesmo tempo que corro mais longe e mais rápido, vejo como interessante regressar a sítios onde já estive e revivê-los com alguma nostalgia essas experiências.

Com um misto de altas e baixas expectativas, preparei a semana para ir à prova. Altas expectativas pois estou sempre a testar o meu limite e a tentar descobrir até onde ele vai. Baixas expectativas pois não estava "minimamente" preparado para correr 15km com o "pé a fundo".

A preparação dos últimos dois meses não foi nesse sentido, por isso sabia que poderia existir alguns problemas em forçar um ritmo mais alto. Mas uma das coisas que aprendi nestes quase quatro anos de corridas, foi a de não criar expectativas muito altas, assim consigo gerir bem quando não as alcanço. Não me deixo ir abaixo facilmente nem fico desanimado. Rock on!!!

 
Fui eu e o João Figueiredo a representar o Correr na Cidade, e mal chegamos a Vila Franca de Xira vi logo que alguns detalhes não iriam correr bem. Para não variar, estava muito calor no fim-de-semana desta prova. Isso e uma baixa concentração de humidade.

Meu objetivo principal era o de descer dos 60min/1hora na prova. Secundário, andar muito depressa (para o meu ritmo naturalmente ). O meu melhor tempo aos 15km até agora era 1:01:50 (na Meia-Maratona dos Descobrimentos em dezembro passado) e ia ser interessante ver se conseguia retirar pelo menos 1 minuto a esse tempo, sem treinar alcatrão especificamente.


Tiro de partida
Depois de deixar o João ir no seu ritmo, ao fim de 100 ou 200m de prova tentei começar a acelerar um pouco para ultrapassar toda a gente que tinha partido à nossa frente. Um aparte: continuo sem perceber a necessidade primária que muita gente tem de sair na frente da corrida para passados 100 m de prova irem ao ritmo de 6 minutos ao quilómetro... desculpem,  mas não entendo.


Os primeiros 3km foram abaixo dos 4/km. Normal nestas provas. Depois da ponte foquei 3 ou 4 atletas com ritmo similar ao meu e rolei até ao km7 entre os 4:02 e os 4:10. Este ritmo começou a fazer impacto na minha respiração. Estava muito calor e nitidamente não tinha o meu corpo hidratado no ponto que era necessário. Comecei a sofrer bastante. Pensei para mim mesmo, ali no meio do estradão, que o dia estava destinado a falhar. Mas tentei manter o ritmo.


Passei os  5km com 20 segundos acima do meu melhor tempo (19:48). Normal para prova de 15km, visto que os 5km mais rápidos foram numa secção muito mais rápida.


Ao km 8 e 9, comecei a vacilar... imenso. Sentia muita dificuldade em respirar normalmente. O corpo não estava bem. Olhei para o relógio e depois de um calculo rápido ainda pensei "dá para bater os 10km se te deixares de choramingar e fazeres o que vieste cá fazer... Bora!!!". E consegui manter os 4:16 e os 4:18 nesses dois últimos km antes dos 10. As pernas pareciam chumbo. Não por estar em baixo de forma, mas a respiração estava uma lástima.


Deu 40:59 ao 10km, exatamente o meu melhor tempo até agora !!! Bolas, parecia bruxaria... Abrandei imenso nos 200 m seguintes, tinha o coração aos gritos dentro do peito e a respiração muito acima do que é recomendado. O corpo nesse dia não estava a responder como normalmente, estava num esforço para o qual não estava treinado e fazia questão em dizer-me isso. Deixei-me ir abaixo um pouco e tentei rolar um pouco para recuperar a parte cardio-respiratória. Deu 4:32 nesse km. Parece pouca descida de velocidade, mas o facto é que quando vamos em esforço, nota-se muito of facto de descer dos 4:10 para os 4:30. E continuei a rolar a pensar que não dava para mais.

 

Entretanto, começou a acontecer uma coisa que ultimamente não me acontece. Comecei a ser passado por alguns elementos que já tinha ultrapassado nos últimos 3/4km. Estavam a manter o ritmo e a minha descida fez com que eles recuperassem. Há muito tempo que não me acontecia esta situação. Por norma agora consigo manter bem o ritmo e "normalmente" é sempre a subir devagarinho ao longo dos km's...


E muita coisa nos passa pela cabeça nestas altura, e uma deles que era o constante: "deixa-te de cenas e vai devagarinho para eu descansar". Dizia a cabeça... e o corpo. Mas resisti. Lutei. Mandei o "diabo vermelho" dar uma volta "ao bilhar grande".


Apanhei o comboio de três atletas que passaram por mim e tentei puxar um pouco. Desci novamente o ritmo e a respiração de principiante recomeçou. Já não fazia uma prova neste registo ofegante há muito tempo. Custou tanto... Parecia por uns instantes que tinha regressado a 2012 e a fazer uma gestão de esforço de principiante.


4:22 a seguir e 4:40 na subida da ponte, onde normalmente passaria sem sentir a subida mas aquele não era dia... só queria chegar ao fim... estava farto de sofrer.


4:01 ao km 14 e 4:13 antes da meta. Já não tinha mais forças. O cérebro não estava presente, estaria por acaso numa praia qualquer a pensar no fresco da água fria e o corpo estava cansado. Forcei um pouco no fim mas sem andar no limite.

 

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"Mehhh"
Cortei a meta com 1:04:30. 1:02:46 aos 15 quilómetros (foram 15,4km no meu GPS).

Sentimento de treino conseguido. Sentimento de prova oficial muito mal planeada e terminada cerca de 1min acima do meu record aos 15km e a quase 3 minutos do meu objetivo. Nem fiquei contente nem triste. Assumir que era mais um treino para um objetivo maior e fui comer laranjas e bananas.

 

Encontrei o Carlos Moura que está a iniciar-se nas corridas e ainda tem uma margem de progressão enorme (deu-me "uma barba" de +/- 2min para quem corre há pouco mais de um ano) e esperei pelo João Figueiredo que chegou cerca de 10 ou 11min depois, tronco despido e cheio de calor. Pudera, o homem treina de t-shirt no inverno, é natural que numa corrida com este calor corria nú se pudesse!

Esta prova é um misto de sentimentos. Sentimento de dever cumprido enquanto treino mas muito curto enquanto prova. Mas fui feliz na mesma, como há fui há três anos atrás, mas de uma maneira muito, muito diferente...

 

Siga para a próxima !


Quanto à prova em si, organização muito simples, gua em dois sítios e no final as habituais banquinhas com fruta. Simples, direto e barato. Se calhar é por causa disso que ainda continua a ser uma prova com tantos inscritos.

Bom descanso para quem correu este fim-de-semana e bons treinos.

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