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Correr na Cidade

Race Report MEO Urban Trail: Yes, I'm back!

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Por Luis Moura:

 

Pelo segundo ano consecutivo ia percorrer a cidade de Lisboa num percurso que conheço bastante bem devido aos treinos regulares que fazemos pelos locais onde a prova passa. Tudo começou com um festival de Fado...


Verão
Depois de ter tentado os 100km de São Mamede e ter ido aos 70km do OhMeuDeus no início de Junho, a minha motivação interna para a corrida diminuiu bastante. Comecei a treinar menos, muito menos e fui a poucas provas. Alguns convites para participar em provas curtas e ia mantendo o corpo a funcionar, mas a mente não estava aqui. E quando a mente não está presente, o corpo dificilmente vai atrás.
Inclusivamente numa das minhas provas favoritas de percorrer, os 50km nocturnos de Óbidos, cheguei ao abastecimento dos 20km e parei de correr. Já vinha há uns 4 ou 5km ora a passo ora a correr devagar.
Isto passou-se em algumas provas e treinos em Julho e Agosto.

No final de Agosto comecei a ir regularmente ao treinos dos esquilos, a "hora dos esquilos", às 6 da manha no Penedo em Monsanto.


Não recuperei todo o meu fulgor e vontade de palmilhar kms, mas já recomecei a querer correr e a querer sair de casa para treinar. Muitas semanas em Julho e Agosto nem 1 treino fazia...

 


MEO URBAN TRAIL
No ano passado realizei o MEO Ultra trail Lisboa uma semana antes da Serra D'Arga e o MUT Sintra 1 semana antes dos 82km da Arrábida. Serviram de teste ao cardio para essas 2 provas e correu bem.
Este ano devido à (muita) falta de treino durante o verão, estava bastante inquieto e apreensivo como iria o corpo reagir ao início de época.

Primeira semana de setembro, 10km Tagarro em 44min, na semana seguinte 10km da Corrida do Tejo em 42:50. Para mim estava a começar a entrar no ritmo. Estava a recomeçar a gostar de correr, de treinar, de puxar pelo corpo. A ida aos esquilos logo de manhã cedo ajudou imenso a retomar esta sensação de querer mais.


A expectativa estava muito elevada para o MEO de 2015. A organização mudou uma boa parte do percurso a partir quase do meio do mesmo e tentou corrigir alguns pormenores menos bons do ano passado.

 

Os elementos do CnC combinaram encontrar-se pelas 20h junto da saida do Metro do Terreiro do Paço e lá tentamos nós chegar lá a essa hora. Atravessar a ponte foi rápido, o pior foi tentar chegar perto do evento e estacionar, já que no mesmo dia da prova estava a decorrer um (vários ?!?) evento de Fado espalhados por uma área grande a partir da estação de Santa Apolónia até perto do Campo das Cebolas. Trânsito caótico, dificuldade em circular, estacionar e sair dali.  O resultado foi chegar junto dos outros elementos pelas 20:30. Tempo de tirar uma foto, ir ao WC rapidamente e aquecer um pouco para a partida.

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 (os elementos da crew antes da prova)

Uma vez que o tempo para aquecer era reduzido, teve que ser em modo Speedy Gonzales, o que para mim não foi nada bom e acho que contra-producente vistas bem as coisas à posteriori. Pelas 20:40 aproximei-me do curral de arranque da corrida e já lá se encontravam centenas dos atletas para a prova. Andei um bom tempo a fazer zigue-zague pelos diversos elementos a tentar chegar perto do pórtico da saída para perder o mínimo de tempo possível. Fiquei a cerca de 3 metros dele. Não foi mau, podia ter sido pior.

 

PROVA
Ao meu lado estavam vários elementos conhecidos de provas e treinos de alcatrão e trail. Se este ano não existiam muitos nomes sonantes do panorama desportivo português como no ano passado, o nível de competição estava bem mais alto, pois estavam mais atletas rápidos de pelotão no arranque da prova. Menos elite mas muito mais Speedy Gonzales. 15min de conversas com vários conhecidos, algumas fotos e lá fomos nós para um segundo ataque a esta cidade maravilhosa para a prática do "trail running" citadino.

 

O início de prova até à bica é alucinante. Não para uma prova de alcatrão rápida, mas para um "trilho urbano" de quase 11km e 400D+. A mim deu 3:30/km de média e seguiam à minha frente uns 8/10 atletas quando atacámos a primeira subida. A calçada de Salvador Correia de Sá não é fácil de subir, mas também não é dificil. Problema é que como chegamos lá com apenas 1km de prova, o corpo ainda não estabilizou e encontrou o seu equilíbrio natural. Eu particularmente, comecei a sentir os quadrícipedes muito pesados, como se estivessem em ciclos de carga pesada e abrandei no resto da subida. Chegámos ao miradouro de Santa Catarina e já estavam a latejar. Mau indício para o resto da prova. Por esta altura já umas 20/25 pessoas tinham passado por mim. Na subida do resto do Elevador da Bica e na rua Rua da Rosa que atravessa o bairro alto quase todo, apanhei-me a tentar controlar o ritmo e deixar o corpo aquecer. Com isto, evidentemente, que o ritmo se ressentiu e fui sendo ultrapassado por mais pessoas, algumas conhecidas de outras andanças.


2km em 5:48/km, mais de 30 segundos acima do ano passado, o que seria quase uma constante nos marcos de cada km deste ano. Na descida do Elevador da Graça ainda acelerei um bocado, mas não me senti muito bem ainda. Consegui descer abaixo dos 4/km, mas muito longe dos 2:55/km do ano passado e perdi mais uns bons segundos aqui.


Quando estive a dar a volta aos Restauradores e a preparar a subida para o Torel, comecei a pensar se as pernas já estariam melhores e deixassem que a parte psicológica tomasse conta da corrida.
Mal comecei a subir o Elevador da Glória, tirei o "cavalinho da chuva". Dores enormes nos quadrícipedes e toca a abrandar o ritmo. Fiz as escadas até lá acima todas a passo e, nestas alturas, tudo o que é mau ou pode ser mau vem ao nosso pensamento.


Apanhei a Bernardete a tirar fotos à malta que ia a subir e, mais à frente, o Miguel estava a controlar e a ajudar as pessoas com incentivos que são sempre úteis e muitas vezes imprescindíveis.

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(Escadaria para o Torel )

Depois de beber água no Jardim do Torel, descemos ligeiramente pelas escadas e subimos pela Calçada do Moinho de Vento. Tantas vezes que já subi esta rua sempre a abrir e aqui novamente, a sofrer e a tentar colocar algum ritmo. A parte psicológica estava a ser muito afectada, pois o corpo nitidamente não queria ajudar. Tentava acelerar mas as pernas não respondiam. Pareciam que tinham tirado férias.

Depois de descermos rapidamente para o Martim Moniz, fizemos a aproximação para a "pior" subida de todas, os 3 lances de subida que vai do Intendente até ao Miradouro da Senhora do Monte, com a passagem pelas mundialmente famosas Escadas de Damasceno Monteiro.


Já fiz este percurso e estas escadas dezenas de vezes. Umas vezes mais rápido e outras menos rápido. Mas nunca tinha feito 100% do percurso a passo... não foi fácil aceitar e digerir a situação. Por esta altura aproxima-se de mim a terceira classificada feminina e que me acompanhou nos 2km seguintes.
Depois da subida completamente fora de tempo e ritmo que foi até ao topo da Senhora do Monte, algo mudou. Algo fez um click. E pensei para mim mesmo que raio se estava a passar ali. Tentei andar mais depressa, independentemente das dores que as pernas gritavam lá abaixo. Um pequeno "erro de casting" ditou que tivesse escolhido mal as sapatilhas.

As sapatilhas Puma que levei são excelentes para estas provas, mas com clima muito mais frio, pois elas aquecem imenso. Com o calor elevado que estava durante a prova, ainda nem a meio cheguei e já tinha os pés a ferver na planta devido à fricção. Mais um pormenor que me apanhou na curva e que temos que estar sempre atentos.

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(a sair do Panteão)


Yes, i'm back
Fiz a descida da Calçada da Senhora do Monte em passo rápido, quase sempre entre os 3:10 e os 3:40/km. Depois virar à esquerda e atacar a subida do caracol. Ainda senti alguma dificuldade aqui mas cerrei os dentes e tentei subir sem parar de correr, como já fiz dezenas e dezenas de vezes em treino. Quase...quase que consegui até ao topo, faltando o último lance que foi feito em passos rápidos. Aqui já me sentia bem melhor! Saí rápido do caracol e ataquei o troço que ia pela Rua da Verónica até ao Panteão. Por esta altura conseguia manter um ritmo médio ligeiramente abaixo dos 5/km, mas ainda continuava acima do que podia fazer, ainda continuava acima do que conseguia fazer.


E nestes km passei alguns atletas que já estavam a ficar sem "gás" nas pernas e aqui passou-me o Serrano que já vinha com quase 100km nas últimas 48h. Sempre no seu ritmo de falso lento e lá foi ele.
Depois vieram os últimos 2 km. No primeiro Km, o sobe e desce quase constante por escadas e declives para depois termos a última recta onde com a energia que me sobrava a rodos por não ter andado no ritmo que seria expectável, ainda consegui fazer a bom ritmo, passando a segunda classificada feminina a cerca de 400m da meta. Deu para fazer quase 500m a média de 3:20/km, o que diz bem da energia que estava disponível e que não foi utilizada nas subidas...


Cortei a meta com pouco mais de 1:30min acima do que fiz no ano passado e com duas sensações completamente diferentes.
A primeira a confirmar que a minha forma está muito abaixo da que tinha no mesmo período no ano passado. Por diversos motivos, mas a falta de treino e a vontade de correr é um buraco enorme.


A segunda é que, pelo menos, já consigo correr minimamente após 3 semanas de treino.
No final um 62 lugar da geral (face ao 25º do ano passado) com média de 4:45/km. Queria que fosse uma boa prova, mas acabou por ser um excelente treino sem ter pernas para cumprir o que estava previsto.

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(depois de todos chegarem com Jorge Azevedo) 


Organização
Relativamente ao evento, acho que este ano subiu um pouco na qualidade geral face ao ano anterior.
A experiência dos envolvidos com algumas melhorias em alguns pontos fizeram diferença. O traçado deste ano foi um pouco mais rápido e menos maçador que no ano passado sem aquelas voltas extras em Alfama no final.
Aconteceu um grave problema que foi a falta do segundo abastecimento junto ao Panteão para os primeiros classificados. O camião que ia com as águas ficou preso no trânsito estúpido e caótico de sábado devido aos diversos eventos que estavam a acontecer naquela região da cidade e só chegou quando o primeiro terço dos participantes já tinham passado. Não é de todo uma responsabilidade completa dos organizadores, mas de certo que vão aprender com o que aconteceu este ano e vão tomar as devidas providências para que estes imprevistos não se repitam e tornar a qualidade do evento ainda mais alta.

Um agradecimento enorme para todo o staff que esteve ao longo da prova, a maior parte deles conhecidos de provas e sempre sorridentes e a dar palavras de conforto.

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(staff antes do evento)


No final enquanto esperava pela Liliana, pelos restantes elementos da crew  e por amigos da corrida que sabia que estavam ali, apercebi-me que este ano faltava alguém da organização logo após o pórtico da chegada para "empurrar" quem ia chegando para fora daquela zona em direcção à saída para receber a água e a maçã de oferta.
Assim estavam quase sempre 20/30 pessoas completamente paradas na conversa no meio da zona de chegada sem permitir que quem estivesse do lado de fora do separador tirar fotos ou controlar quem ia chegando. Achei, pessoalmente, uma falta de respeito enorme para com as outras pessoas e com quem ia chegando e levava com um muro de gente parada à sua frente. Cada um deverá meter a mão na consciência naquilo que faz.


De resto adorei a experiencia visto que é uma situação que me sinto bem, fazer corridas nocturnas pelo meio das cidades. Acho que tem outra envolvência e uma química muito especial.

 

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(Vencedores desta edição com Tiago Lousa no centro em destaque)

 

Estou em pulgas para ir dia 24 Outubro novamente correr em Sintra e ver o que nos reservam este ano :)

Bons treinos e boas corridas para todos!

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