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Correr na Cidade

Quando é o próximo?

por Filipe Gil:

 

Agora sim, posso dizer que fiz uma prova de trail! A minha anterior experiência resumia-se a 15K de Casaínhos que serviram para me divertir (e lesionar), mas pouco mais que isso. Mas o Louzan Trail foi uma prova diferente. Porque requereu preparação prévia e sobretudo porque nunca tinha percorrido uma distância tão grande.

 

Confesso que esta prova serviu também para ganhar algum respeito por mim próprio como corredor. Não que tivesse feito um excelente tempo – não era esse o objetivo. Mas porque consegui perceber como reage o meu corpo,e sobretudo a minha mente, a 33K e como posso ainda evoluir apesar das minhas limitações do binómio idade/falta de tempo para treinar.

 

Mas faço aqui uma confissão (afinal um blog é uma versão moderna de um Diário). No final de 2013, a braços com uma fascite plantar, estive quase a desistir do Correr na Cidade. Não de treinar, mas de escrever no blogue, e de correr com uma t-shirt tão digna como esta. Isto porque não via melhorias nas corridas. Os outros membros da crew que levassem o nome a outro nível. Eu pensei ficar por ali.

 

O fato de ter uma profissão muito exigente e stressante e ter dois filhos pequenos, que merecem toda a minha atenção, não ajuda a preparar-me corretamente para provas. Por outro lado, o fato da minha mulher ter começado a correr ajudou muito a continuar. E é um verdadeiro privilégio estar ao lado de alguém que percebe o que é correr e que alinha nas aventuras, sejam de trail ou de estrada. Mas nessa altura estava desiludido comigo.

 

Pensava que devia ficar-me pelo jogging e deixar estas aventuras mais exigentes da corrida para o resto da crew. Mas, entretanto, a crew começa a crescer, mais elementos se juntaram, todos com níveis diferentes e com uma “gana” de fazer coisas giras. De repente criou-se uma enorme empatia entre todos, e o início da “família da corrida” como nos chamamos deu asas ao meu entusiasmo.

 

Mas faltava uma prova mais dura, para sofrer e perceber como iria reagir. Sei, de antemão, que será difícil atingir um nível interessante nos próximos anos, podia treinar mais, mas recuso-me a perder os melhores momentos dos meus filhos por causa das corridas. Mas, mesmo assim, com uma família de sangue que me apoia muito é possível passar tempo com a família da corrida e ir fazendo umas graçolas.

 

E o Louzan Trail foi isso mesmo o início de uma “graçola” mais exigente que quero repetir muitas vezes, e se possível melhorar o tempo na distância. Foi uma aprendizagem, sendo que a margem de progressão é enorme.

 

Nas semanas antes do Louzan não andei muito confiante. Andava cansado, stressado, cada vez que ia correr sentia-me incomodado com alguma dor ou com a falta de forma física. Nos dias anteriores ao Louzan decidi começar a mentalizar-me e a tratar do físico, sobretudo no que respeita à hidratação. Não me lembro de ter bebido tanta água nos últimos anos, mas ainda bem, porque o corpo reagiu excelentemente aos 33K. E, confesso que ainda tinha força para fazer mais 10K.

 

O início da prova foi normal. “Pézinho” na água e preocupação com a mulher que dali a minutos iria passar no mesmo local – ela fez a sua estreia nos trilhos nos trail curto de 17K.

Só pensava, “ela que molhe os pés e não tente saltar as pedras, que ainda se pode aleijar”. Enquanto pensava nisso, fazia o contrário e numas das passagens, enquanto tentava evitar a água, desequilibrei-me e bati com o joelho numa rocha. Pensei que a minha prova tinha acabado. Uma dor terrível que felizmente nunca mais voltou.

 

Segui com calma – aliás, esta foi a estratégia dos quatro que seguiram juntos: eu, Nuno Malcata, Nuno Espadinha e Bo Irik (organizadores de provas, a Bo é uma mulher!). Dali até ao primeiro abastecimento foi puro gozo. Depois comecei a acelerar. O Nuno Malcata avisava-me para ir com calma, mas sentia-me bem. Aliás, sentia-me bem à frente do grupo, era uma forma mental de mostrar a mim próprio que conseguia e que iria fazer os 33K e dar um grande beijo à minha mulher, ela não me saia da cabeça.


Estava preocupado mas confiante que ela gostasse. Lá na frente (uns 3 a 4 metros à frente da crew) pensei em tudo. No trabalho, nos meus filhos, na minha mãe, no meu pai. Foram bons momentos. Quanto mais me abstraía da corrida e da respiração, apesar de atento ao caminho, mais depressa andava. Estranho, mas verdadeiro.

 

Até que chegamos a uma subida, feita a caminhar, e uma grande reta onde começou a chover copiosamente. A Bo e o Nuno Malcata começaram a correr mais à séria e eu e o Nuno Espadinha (que começava a sentir algum cansaço) começámos a ficar para trás. Pensei que seria o início de um martírio, isto quando estávamos a metade da metade da prova. No segundo abastecimento, reencontramo-nos, eles esperaram por nós, e aí recompus-me.

 

Atacamos a subida do Trevim, o pico mais alto com 1200 metros de altitude, e ganhei uma força fantástica. Senti-me mesmo bem nestes trilhos técnicos, ou, caminhos de cabras da montanha, se preferirem. Uma vez lá em cima, em mais um abastecimento de sólidos, bebi Coca-Cola, comi sal, amendoins, gomas, bebi água, comi marmelada e seguimos, sem antes vestir o corta-vento porque o vento estava terrível. E aí  ficámos tristes. Muito!

 

Porque ficamos a saber que o Stefan Pequito tinha feito uma entorse e desistindo. Ele que estava a apostar ficar nos primeiros 20 lugares, ele que tão bem representa o logótipo do Correr na Cidade, tinha-se lesionado. Tristes, como escrevi, mas com mais responsabilidade de fazer os km’s que o Stefan não conseguiu fazer. Perguntamos também se o Pedro Tomás Luiz, o nosso grande anfitrião, estava bem. E estava. A pensar neles os dois e nos restantes membros da crew que por uma razão ou outra, não nos puderam acompanhar, seguimos confiantes.

 

Depois da grande subida começámos a descer, e a temperatura a subir sendo que mais à frente, enquanto uns iam aos WC’s improvisados, outros voltavam a colocar o corta-vento na mochila e a voltar a ingerir sólidos.

 

E aí começou a segunda parte da prova. A minha preocupação era saber como estava a minha mulher no trail curto. Cerca de 1h30 depois do ponto mais alto recebi um SMS a indicar que tinha chegado (ela mais a Joana e a Ana) e que estavam bem e tinha gostado (Ufa!). A partir daí descansei e soltei-me um pouco mais, mas fomos sempre em grupo, umas vez o Nuno Malcata à frente, outras a Bo. Mas o Nuno Espadinha não estava a reagir bem ao esforço e estava a ficar com dificuldades. Percebemos, eu, o Nuno Malcata e a Bo, que talvez se ele fosse sozinho que desistisse. E não quisemos que isso acontecesse. Continuámos com ele.

 

Sabemos que a corrida é mesmo assim, temos dias maus e bons, e nunca sabemos quando esse dia mau não nos calha a nós. Assim, continuamos juntos, a incentivarmo-nos. O nosso objetivo era experimentar o trail, fazer os 33K juntos, não estar em competição.

 

Um trail de 33K que nos demorou 7 horas a fazer tem muito que contar. Dava quase um livro. Mas ao longo desta semana iremos ter mais textos aqui no blogue sobre o Louzan Trail, não me vou alongar mais no meu relato. Em resumo: fiquei com muita vontade de fazer mais trails; gostava daqui a um ano fazer uma ultra maratona não muito longa em trail (ou seja, mais de 42K, pode ser 45K, por exemplo).

 

 

Os meus ténis Adidas Supernova Riot 5 mostraram-se perfeitos para as condições de piso molhado e lama. A mochila da Berg esteve à altura e o restante equipamento, meias e pernetes compressores da Compressport e tshirt e Calções da Kalenji, também. Quando hoje olho para as fotos pareço equipado em demasia, gostava de ter ido com menos coisas. Mas confesso que estas foram as condições ideais para esta prova. Numa próxima irei repensar a “indumentária” e talvez ir com outros calções, mais curtos, e sem os pernetes de compressão (irão na mochila)

 

Sinceramente, fiquei a adorar trailar mais“à séria”, num trail técnico, como este da Louzan que foi tão bem organizado. O fim-de-semana com a crew foi fantástico. E fizemos uma promessa: para o ano iremos fazer os possíveis para voltar. Até lá venham mais trails e mais corridas. E mais Chanfana, mas só a feita pela mãe do Pedro..

 

 

p.s.  Um agradecimento especial aos país do Pedro Tomás Luiz que nos receberam com grande hospitalidade.

 

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