GTA15: reflexão final
Momentos de convívio...
Por Bo Irik:
A alegria e dor vivida durante uma prova de quatro dias e cem quilómetros em equipa é de facto desafiante de transcrever em palavras. Tentei fazê-lo em dois, os primeiros dois dias e os últimos dois, em termos de percurso / organização, desempenho, alimentação e calçado / material. Gostaríamos também de partilhar algumas considerações gerais acerca da Peneda-Gerês Trail Adventure, na nossa (minha) opinião.
Acerca da questão das equipas, achei o conceito fantástico. De facto, na minha vivência, o trail running é uma modalidade de união e entre-ajuda, diferenciando-se assim da corrida de estrada. Uma prova por equipas vem reforçar esta ideia. Segundo a organização, uma das ideias por detrás deste conceito é a segurança, pois a prova passou por zonas perigosas, tal como puderam ver nalgumas imagens, e fazendo-a em equipa torna-a muito mais segura, tanto em caso de acidente, como para evitar acidentes.
Zonas perigosas, quase impossíveis de fazer a solo...
Desta forma, a organização impôs um limite máximo de 60 segundos entre a passagem dos diferentes elementos de uma equipa nos pontos de controlo. Gostei muito desta ideia mas, na prática, na minha opinião houve poucos pontos de controlo e caso as equipas se separassem, como vi acontecer nalguns casos, haveria atletas a fazer a prova sozinhos. Assim, embora tivesse adorado a ideia das equipas, a falta de rigidez no cumprimento do regulamento resultou em participantes a solo (note que o GTA poderia ser realizado a solo apenas por atletas detentores de 3 pontos ITRA numa única prova, após 1 de Janeiro de 2013, ou mediante apresentação de curriculum aceite pela organização).
Vi algumas equipas a separar-se. Algumas de boa vontade por todos os elementos, outros nem por isso. Na verdade, ao passar tanto tempo na serra juntos, tantas horas, e sabendo que nem tudo será um mar de rosas, a escolha da equipa deve ser feita de forma muito cuidada. Felizmente, posso dizer que, no nosso caso, isso aconteceu. Escolhemos três elementos que, embora tivessem ritmos e capacidades distintos, se dão bem e complementam-se. O importante mesmo é motivar-nos mutuamente nos momentos mais difíceis e ajudar a cada um a atenuar as suas fraquezas e enaltecer capacidades.
A envolvência das comunidades locais - abastecimento em Cabril
Em relação à organização deste grande evento gostaria de partilhar os pontos positivos e alguns a melhorar, que é interessante tanto para a organização como para (futuros) participantes.
Pontos positivos:
- Convívio: o convívio entre atletas e entre estes e a organização nesta prova foi brutal. Acredito que houve vários fatores que contribuíram para tal. Primeiro, o facto de ter poucos participantes, cria um ambiente mais íntimo. Segundo, o facto de ter várias etapas faz-nos cruzar com as mesmas pessoas vários dias. Nós conhecemos por exemplo duas equipas, a do “Alexandre e Filipe” (nunca sabíamos quem era quem) e a do Ricardo, Cláudia e Fátima, porque tinham um ritmo parecido ao nosso e partilhamos uns belos kms juntos. É claro que também dentro de cada equipa há convívio, pois a maioria das equipas veio em modo “Road Trip”, partilhando, para além da corrida, também, o alojamento, viagem e refeições. Por fim, a Pasta Party depois de cada etapa tornou-se um ponto de encontro pós prova para reabastecer e socializar.
- Vertente internacional: achei muito interessante conhecer pessoas de outros países que partilham a mesma paixão pelos trilhos. É giro para partilhar experiências, planear desafios internacionais, conhecer novas marcas, etc. Descobri, por exemplo, que em Singapura há muito pouco espaço para praticar Trail e que, assim, torna-se difícil fazer treinos longos sem andar às voltas. Sim, houve um singapuriano, o San Siong, que veio de propósito a Portugal para o PGTA!
A beleza da Serra
- Paisagem: não tenho palavras para descrever tamanha beleza E dureza. Serra do Gerês é um paraíso de trail!
- Partida / Meta: esta zona tem um encanto diferente das partidas / metas habituais. Primeiro por ser no centro da Vila do Gerês e, também, porque a organização a deu um toque especial: uma passadeira vermelha, música emocionante e um apresentador para animar ainda mais estes momentos marcantes de uma prova.
- Equipas: conforme já indiquei, adoro a ideia da prova ser por equipas, por motivos de segurança e união, mas a organização poderia ser mais rigorosa na implementação do regulamento.
Sentimo-nos pequeninos perante a imponente natureza
Pontos a melhorar:
- Acesso à informação: durante as semanas antes de prova, para além do regulamento, ainda não tínhamos acesso à informação detalhada sobre os percursos (i.e. altimetria e abastecimentos). A organização alegou que nos enviou a informação por email, mas nenhum elemento havia recebido algo, nem outras pessoas. No dia da entrega dos dorsais, houve gente a tirar fotos à uma folha A4 na parede onde contava a altimetria. Nós, entretanto, conseguimos colocar os ficheiros GPX recebidos no Google Maps e dessa forma decifrar os abastecimentos… Sinceramente até gostei de ter corrido sem saber ao certo a localização dos abastecimentos e a altimetria, foi um desafio extra : )
- Massagens: chegar às 18h00 depois de uma prova de 35km e ter que esperar duas horas para uma massagem e ainda ter que pagar por ela para mim é inadmissível. Até nas provas de 20 e tal kms costumam ter massagens. Numa prova por etapas com uma dureza destas e ainda por cima com relativamente poucos atletas, sinceramente estava a contar com uma massagem de 10 minutinhos no final.
Partida numa aldeia diferente da Vila do Gerês, no segundo dia, permitindo conhecer uma zona diferente da Serra
Posto isto e tendo em conta o que escrevi em posts anteriores, é óbvio que o balanço final é MUITO positivo. Já disse e volto a repetir: já marquei as datas do GTA16 na agenda. Será uma prova prioritária perante todas as outras. É a mais desafiante, a mais dura, a mais bela, a mais unida e a com mais amizade. É a melhor!
Vamos?