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Correr na Cidade

Correr: Carrossel de emoções

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 Por Tiago Portugal

 

Gosto de correr. Acima de tudo adoro correr em trilhos. Treino para que cada quilómetro que percorra se torne um pouco mais fácil e consiga ir a cada dia um pouco mais longe e preferencialmente mais rápido. Este conjunto de situações levou-me a participar em várias provas, intituladas de ultras, ou seja acima da distância da maratona. Provas fisicamente e mentalmente exigentes em que atingimos estados de euforia e extrema alegria, onde chegamos aos pontos mais altos, literalmente. Uma jornada na natureza ao longo de cumes, picos e vales onde descobrimos as profundezas daquilo de que somos verdadeiramente capazes. Um derradeiro teste à nossa resistência e resiliência onde não raro nos encontramos com o nosso lado mais negro. Temos que bater bem no fundo para conseguir reerguermo-nos e atingir os nossos objetivos.

 

Algures no meio desta montanha-russa de emoções existe uma fase, que pode durar alguns minutos como várias horas, em que correr se torna monótono e aborrecido. Não queremos mais estar ali. Correr ultramaratonas torna-se, e peço desculpa se ofender alguém, por vezes chato. Mas mesmo assim não desistimos, continuamos até ao fim, simplesmente porque têm que ser. Este sentimento não me ocorre só nas provas de trail ou ultras. Na única maratona que fiz, durante alguns kms já estava farto daquilo, simplesmente queria era que a prova acabasse. Acontece-me o mesmo em alguns treinos em que digo para mim próprio que já chega. A diversão acabou há uns quilómetros, está na hora de ir para casa.

 

Escrevo-vos este texto porque este mês já me chateei enquanto corria em 2 ocasiões, uma delas este último fim-de-semana. Acertei o despertador para bem cedo, a um sábado ainda por cima, arranjei o material todo e parti rumo à Serra de Sintra para um treino de 20km. Não me apetecia mesmo nadinha e só a muito custo saí de casa. Os primeiros 10km passaram a voar mas a partir de determinado momento deixei de ter prazer em estar ali. O meu cérebro tomou conta da ocorrência e só me mandava de volta para o carro. As pernas já não obedeciam e o prazer de correr foi substituído por aborrecimento. Tentei confortar-me com algumas palavras e pensamentos mas nada resultou. Fartei-me, já chegava. Só de pensar que ainda tinha de ir a correr para o carro começaram a doer-me todos os músculos. Com muito esforço e sem vontade mentalizei-me que ainda tinha que correr mais 5 km até finalmente chegar ao carro.

 

Só após um reconfortante banho e ter saído de casa para ir almoçar e que (re)comecei a sentir-me novamente feliz. Com a brisa a bater-me na face senti-me realizado pelo meu feito e pelo facto de ainda não ser hora de almoço e eu já ter corrido 15km em sintra. Afinal quantos podem dizer o mesmo do que eu?

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Cada vez mais acho que as ultramaratonas são uma metáfora para muitos acontecimentos do dia-a-dia e que aprendemos muito nas ultras para enfrentar os desafios do quotidiano. Quantas vezes não somos confrontados com momentos menos bons e temos que continuar ou não queremos estar a fazer determinada coisa ou tarefa e mesmo assim temos que a realizar até ao fim? Nessas alturas temos que apertar o cinto, engolir em seco e seguir em frente. A alegria do dever cumprido surgirá só depois.

 

Run Happy!!!