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Correr na Cidade

Rumo ao Reccua Douro UT (Parte 2) - Como?

Fazer uma Ultra Maratona não é fácil… Mas treinar para uma é muito mais difícil, no próprio dia tudo se resume à prova e como estamos naquele dia, como está o nosso corpo, como estamos psicologicamente, para nós que tentamos fazer provas destas a tarefa mais difícil são os meses que antecedem este dia.

Nesta segunda parte, que intitulámos de “Como?”, falamos de como foi a preparação e o treino para este desafio de 80k no Reccua Douro Ultra Trail já no início do próximo mês de Outubro.

 

Para quem não leu a primeira parte fica o acesso direto

 

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  Foto retirada do página de facebook do Douro Ultra Trail

 

 Por: Rui Pinto

 

As passadas duas semanas, passaram mesmo a correr! Foi completamente impossível dar-vos conta da preparação para a grande desafio do Réccua Douro Ultra Trail, no próximo dia 3 de outubro, facto pelo qual expressamos aqui o nosso pedido de desculpas. No meu caso – e tendo originado eu esta situação – por motivos profissionais, uma vez que estive grandemente envolvido na organização da Corrida do Tejo, que se realizou no passado dia 13 de setembro, a disponibilidade, física, mental e outra… foram praticamente nulas.

 

Assumido o erro, aqui estamos nós, de novo, para partilhar convosco como vai a preparação  para o RDUT, o que temos feito e os medos que subsistem – ou foram vencidos!

 

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Piódão - Que saudades desta sensação

 

Por força do aumento da carga de trabalho que ocorreu nesta duas semanas que mediaram entre o primeiro post e este, apenas consegui correr a horas um pouco esquisitas para mim - em alguns casos, a altas horas da noite, e quando já só queria era descansar o esqueleto perto da minha mais-que-tudo. Ainda assim, conseguir cumprir cerca de 90% do plano de treino estabelecido e, gradualmente, fui reconquistando alguma da confiança perdida, acreditando, paulatinamente, que serei capaz de superar o desafio dos 80 k do Réccua Douro Ultra Trail.

 

Tenho-me sentido mais forte nos treinos, mais rápido, mais eficiente a correr, a recuperar do esforço muito melhor e mais depressa que antes. Tudo isto são bons indicadores, e transmitem um ‘boost’ de confiança para o que aí vem.

 

Ainda relativamente a treinos, no sábado passado, tivemos oportunidade de fazer o último treino longo, na companhia do nosso querido amigo – e mentor - Tiago Portugal, pela dura Serra de Sintra, para sentirmos um gostinho do que nos espera. Foram quase 34,5 km, em perto de 5 horas, com um desnível positivo de cerca de 1.650m. Estava calor e foi duro; mas foi muito bom! Depois daquele treino, fiquei mais confiante. Naturalmente, reservo uma enorme  - e muito aconselhada – dose de respeito pela Serra do Marão e pelas encostas do Doutro Vinhateiro, que são lindíssimas nas fotos, e que espero ter oportunidade de as desfrutar adequadamente, em vez de as amaldiçoar, durante o percurso.

 

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Manter o foco é fundamental

 

Ponto de situação: confiante q.b. e moderadamente respeitoso, relativamente ao percurso e à distância. O sábio Pedro Luís, numa das suas crónicas em que brilhantemente relatou a sua caminhada para ao MIUT, no passado mês de abril, e que podem ler aqui, mencionava que desafios destes encarram-se - e, no caso dele, superam-se - com uma grande dose de ‘humbição (humildade + ambição)’. Pois bem, é sempre bom ter este tipo de referências e é bastante gratificante ter a honra de aprender com eles.

 

Aliás, na nossa ‘crew’ no Correr na Cidade, somos uns privilegiados, relativamente a esta matéria, uma vez que temos diversos ultra maratonistas, com desafios de 3 dígitos superados, com marcas de enorme respeito: Pedro Luís, Stefan Pequito, Tiago Portugal, Luís Moura, apesar de serem de outro campeonato, relativamente aqui aos ‘rookies’, vocês são uns heróis e uns modelos, cujo exemplo tentamos humildemente seguir. Uma palavra de apreço também para os nossos ‘fellow mates’, ultra maratonistas com distâncias igualmente respeitosas, Nuno Malcata, Filipe Gil, Nuno Espadinha e Bo Irik, companheiros de corrida – e de luta! -, cujos laços de amizade se tornam virtualmente inquebráveis, fundidos nos quilómetros dos mais belos trilhos deste país. (Honrado por fazer parte desta equipa!)

 

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 Levar-vos-ei comigo, para o Douro. E serão também a minha força.

 

Esta semana, continuamos com os treinos específicos – rampas, circuitos de escadas e reforço muscular. Para a semana, haverá tempo para descansar e para o (agoniante) ‘tapering’.   

Para a semana, falar-vos-ei dos equipamento que levarei para os 80 km do Récua Douro Ultra Trail, da minha estratégia de prova e dos receios que ainda subsistem.

 

 

Por: João Gonçalves

 

A arte de multiplicar tempo…

 

Não sou nenhum atleta profissional, nem faço da corrida de profissão, dito isto tenho uma atividade profissional que me consome a maior parte do tempo útil do dia, tenho todas as tarefas normais de uma pessoa normal tratar da casa, fazer compras, dormir, etc, etc… tendo em conta que o dia não tem mais de 24 horas, encaixar o treino no meio da confusão de tarefas diárias, é preciso ter um pouco de alquimista do tempo para fazer o impossível - A arte de multiplicar tempo – Como fazer isto? Para mim a solução é simples, muito simples mesmo, mas muito amarga ao mesmo tempo.

 

Só não fazemos aquilo em que não acreditamos…

 

Existem várias maneiras de treinar, vários métodos, várias metodologias, não vou aqui dizer qual a melhor ou qual pior, o meu concelho é que escolham um método e o sigam até ao fim e no dia da prova, no dia do desafio final, acreditem no “treino”, acreditem no “plano” e principalmente acreditem em vocês próprios “Dei o meu melhor para estar aqui, portanto estou preparado e tenho tudo para chegar ao fim”... É nisto que vou pensar dia 3 de Outubro.

 

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 Treino de City Trail - Miradouro da Nossa Senhora do Monte, Liisboa

 

Antes da solução… O plano

 

Resumidamente, por semana o meu plano de treinos inclui, 5 dias dedicados à corrida com várias intensidades e formas, sejam elas através de treinos de rampas, escadas, treinos longos, treinos rápidos e mais intensos, treinos de recuperação, etc, ou seja incluem um leque variado de cenários e situações presentes na provas, para além disto, faço ainda 3 a 4 vezes por semana trabalho de ginásio para reforço muscular numa metodologia à la crossfit – sim para quem já fez as contas, há dias em que treino duas vezes, mas atenção, tento ser o mais disciplinado e “amigo” do meu corpo quanto possível, se num dia em que vou ter um treino de corrida mais intenso, tento não puxar tanto no ginásio de forma a respeitar de certa forma os períodos de descanso.

 

Em termos de descanso, faço dois dias de descanso total por semana, onde pura e simplesmente não faço corrida nem ginásio e incluo também no meu plano alguns treinos de recuperação ativa onde saio para correr a um ritmo muito suave ou uso a bicicleta para rolar um bocado minimizando assim o impacto se forma a recuperar a cadeia muscular da melhor forma, bem como tento fazer pelo menos uma vez por semana um tratamento muscular, para ajudar a repor a flexibilidade das fibras, retirar contractura ou algum outro foco de dor que apareceu em consequência do treino.

 

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  Plano de Treino do Dia - escrito no braço

 

Finalmente a solução

 

Como já escrevi acima, a solução é simples, mas amarga Porquê? Para fazer, mais de três centenas de quilómetros mensais, mais as restantes coisas que já fui referindo e tendo em conta que há coisas que um atleta amador não pode deixar de fazer, como trabalhar (como muita pena minha!!) a solução é roubar tempo a nós próprios, à nossa família e aos amigos. Este é o verdadeiro triângulo sofredor deste hobby que nos consome o corpo e a mente que, por vezes nos desfaz a alma em forma de gotas de água com sabor a sal, mas nos fortalece enquanto pessoas mais confiantes e preparadas.

 

Mas são estas pessoas com as quais ficamos em falta, pois é a elas que roubamos tempo e roubamos a nossa presença.

 

Quando saímos de casa de madrugada ainda com a lua acima do horizonte, alguém fica mais frio na cama, sem a nossa presençaQuando saímos de casa ao final do dia e regressamos já a horas tardias, alguém já jantou sozinho, sem a nossa presença… Quando os amigos nos convidam para ir ao cinema e dizemos que “Não” pois temos de treinar, são eles que ficam sem a nossa presença… Quando estamos a jantar um grupo de amigos e temos de abandonar o jantar a meio, pois no outro dia temos um treino longo e temos de acordar cedo, são eles que ficam sem a nossa presença… Quando a nossa família nos telefona a dizer “Já não te vemos há tanto tempo!” não é por nada… É só por sentirem a falta da nossa presença

 

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Treino em Sintra - Subida para o Castelo dos Mouros

 

Entendem o que quero dizer, no meio desta parafernália de planos, treinos, provas… os verdadeiros heróis não somos nós, são esta família, seja ela a família de sangue ou a família do coração, pois são eles que não nos têm por perto, mas mesmo assim nos dizem – Força! Vais ser capaz!!

 

O meu obrigado a todos estes meus heróis, é a eles que vou agradecer quando cruzar a meta.