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Correr na Cidade

Crónica XI: Vamos lá a isto!

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Por Filipe Gil:

 

A semana de preparação começou bem. No dia da última crónica, fiz um treino de subidas e algumas descidas por Monsanto sem dores no joelho. Fiquei muito contente e com mais confiança no ultrapassar da lesão para o Piódão. Só preciso de me concentrar na gestão da corrida. As coisas estão a compor-se. E a moral a vir para cima. Lembram-se de vos ter dito que tinha um segredo para elevar a moral no que toca a corrida? Sim, a receita é simples, ver bons filmes de trail – mas bons, não aqueles que ao fim de 2 minutos começamos a ficar enjoados pela oscilação da câmera. E comigo resulta. 

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Sábado de manhã tudo a postos para o último longão antes do Piódão. O plano estava traçado, uns 20Km neste dia e depois uma ida ao treino "A Hora dos Esquilos" na quarta-feira, para descontrair.
Só que nem tudo correu como previsto. Ao fim de 10km de subidas e descidas o meu joelho disse que não corria mais. Uma dor aguda na parte lateral do joelho fazia-se sentir cada vez que eu descia algo mais técnico.

 

Apesar de estar a gostar do treino – em conjunto com o Rui Alves, Bo Irik, João Gonçalves e Nuno Malcata – quando a dor começou a incomodar mesmo, decidi vir para casa…a andar. Ainda tentei correr um pouco, mas há mínima descida a dor voltou. Azar do caraças, pensei.

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Decidi que seria melhor tentar recuperar o joelho nos últimos dias que faltavam do que dar cabo dele naquele treino. Custou-me muito vir para casa. E tudo me passou pela cabeça, naqueles 30 minutos a andar.

 

Vi pessoal da minha idade a jogar à bola, e pensei que o melhor que tinha a fazer era isso mesmo, juntar-me aos domingos a amigos com barrigas a fazerem pan dan com o esférico  e deixar a corrida. Pensei que me ando a  enganar que os meus  41 anos de idade já não servem para estas coisas. Enfim. A desmotivação voltou. E com uma lesão assim, não há vídeos de trail que nos arrebitem.

 

O resto do dia foi passado a fazer alongamentos, a colocar TransAct, a tentar levantar a moral. Tenho que agradecer a preocupação dos vários amigos que me ligaram a mandaram mensagens e a indicar truques para recuperar a tempo do Piódão (estão a ver a altimetria do percurso?).

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No domingo, com alguns elementos da crew no Trail de Almeirim e a Joana Malcata a representar-nos na Meia Maratona, decidi ir com a mulher e os putos dar apoio aos corredores da Meia que passavam junto a Algés. A vontade de estar a fazer aquela prova foi mesmo intensa.

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Um aparte: começar uma meia maratona às 10:30 em finais de março em Lisboa é estúpido! Tenho todo o respeito pela organização da prova, mas acho que eles, que na sua maioria são ex-corredores, deviam ter mais respeito pelos corredores mais amadores. A grande maioria não está bem preparada para fazer os 21kms confortávelmente, é um facto. Naquela corrida, sobretudo nesta, há muitos que se tentam superar, oferecer-lhes temperaturas mais elevadas (e o ano passado ainda esteve pior) é mau. Ainda por cima, este ano a tshirt oficial era preta - eu sei que ninguém obriga ninguém a vesti-la, mas todos sabemos que as coisas não funcionam assim, que todos a querem ter e a usam com o maior orgulho. Por isso, são pormenores a rever. É uma das mais pormissoras meias maratonas do mundo, e que pode ser a melhor do mundo, se a organização limar estes detalhes. Estou confiante que sim.

 

Depois do incentivo da Meia, fui descansar. Nesse dia e no dia seguinte e no outro, ontem, a seguir foram passados sem dores, sem quaisquer sinais de problemas no joelho, etc. Decidi que ao invés de ir à Hora do Esquilo irei fazer um treino ligeiro ao longo do rio.

 

Mas estou a ganhar confiança. É certo que o ciclo de treinos foi mais ou menos interrompido nestas últimas semanas, é certo que a incerteza da dor do joelho me atormeta, mas estou a ficar excitado com o aproximar da prova. Estou a ficar entusiasmado por ir ultrapassar barreiras que nunca passei.

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Dou por mim, nestes dias, a passar a mão pela barba - que não corto desde que comecei a preparação no início de dezembro (mas vou aparando para não parecer um sem abrigo) por essa razão mesmo: lembrar-me todos os dias quando me olho ao espelho do prova do Piódão. Dou por mim a pensar nas horas que os meus amigos de crew e de fora da crew perderam em treinar comigo em vez de irem correr seguindo apenas os seus planos. E penso que a minha forma de lhes agradecer é dar tudo por tudo no sábado. Não vou aqui nomeá-los, porque eles sabem quem são.

Penso no desafio aceite pelo Filipe Semedo, responsável da marca Puma em Portugal, em ter tido a loucura de apoiar um tipo que corre muito pouco e que de performance tem também muito pouco, mas mesmo assim decidiu confiar-lhe material para testar e usar ao longo destes meses de treino. Lá está, são as pessoas que fazem as marcas e não o contrário. 

 

Penso na ajuda da minha mãe e dos meus sogros que ficaram a "aturar" os dois petizes enquanto a minha mulher trabalhava e eu ia correr três ou mais horas seguidas para Sintra e Monsanto. E penso sobretudo nos sorrisos dos meus dois filhos e da minha mulher. São os sorrisos mais bonitos do mundo. E é neles que vou pensar quando a prova do Piódão começar a custar e quando passar por aqueles momentos mais difíceis que todos os corredores passam em provas longas.

São eles que, apesar de nesse dia estar a um par de centena de quilómetros de distância, me irão acompanhar no desconhecido dos 50 quilómetros por descidas e subidas. E isso dá-me muita força. Afasta quaisquer pensamentos de lesões, e enche-me o peito de calor e coragem para fazer a prova com força e confiança.

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Estou confiante, excitado, com pressa de correr aqueles 50 mil metros. O caminho e a preparação está feito, agora é disfrutar a prova e tornar-me um ultra maratonista. 

 

Na próxima semana conto-vos como correu.