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Correr na Cidade

Corri a minha primeira meia maratona


Por Natália Costa:

 

Faz este mês precisamente um ano que eu me iniciei nestas andanças da corrida. E nada melhor do que celebrá-lo com a proeza de fazer uma Meia Maratona. Não tinha sequer definido esse projeto para este ano, porque não tinha tido a oportunidade de treinar acima dos dos 10 Km.Pensava sempre que era algo que ficaria para mais tarde...

 

Há duas semanas atrás eu, a Ana Morais e a Joana Malcata, todas membros da Correr na Cidade Running Crew, decidimos que nos íamos estrear na Meia. Assim, na semana anterior à corrida, fizemos um treino de 15 Km, a ver como nos saíamos, visto que tanto eu como a Ana, nunca tínhamos corrido tanto. Fomos a um ritmo baixinho, cerca de 7 minutos por Km, sempre na conversa e lá nos saímos bem no treino. Mas uma coisa é correr 15 Km, outra é 21 Km. Ok, são só mais 6.... MAIS 6?? É muito diferente, há que concordar!

 

Mas quase sem dar por isso, lá estava eu no domingo com o dorsal da Meia Maratona de Lisboa ao peito a atravessar a ponte 25 de Abril. Enquanto corria na Ponte 25 de abril e via aquela vista magnifica ia pensando: “Mas como, como é que eu vou correr 21 Km? Eu nunca corri mais que 15...” E assim foi!Estava um calor imenso, e eu normalmente só treino à noite, logo iria-me custar ainda mais. 


A minha Meia dividiu-se em dois tempos, até aos 16 Km, e após os 16 Km.

 

Até aos 16 Km, tudo muito bem! Estava um ambiente espectacular, as pessoas todas animadas, eu e as minha meninas na conversa e bem dispostas. Como temos os nossos nomes estampados nas t-shirt´s, era normal gritarem por nós. Passamos pelo João Campos que também nos deu força, e pelo Tarzan Voador, que corria descalço, e ainda pelos outros membros da Crew, todos eles já fazendo o regresso do Cais do Sodré. Entretanto a nossa Joana começou a ficar mais em baixo por causa do calor e foi obrigada a abrandar o ritmo, e eu e a Ana seguimos.

 

Entretanto passamos a meta da Meia (nos Jerónimos), e já havia alguns corredores a terminarem. Eu olhava para a expressão dos rostos dos que iam que nem cavalos de corrida para a meta, e era engraçado ver como alguns iam como se não fosse nada, mas outros estavam com ar de quem ia falecer a qualquer instante. Mas enfim, eu ainda tinha que ir a Algés e voltar.

 

 

E é aqui que se dá a viragem. O meu marido tinha-me avisado “Olha, depois de veres os outros a passar a meta vai-te custar, porque estes já estão a acabar e tua ainda tens mais 5 Km...”. E não é que ele tinha razão? Não só de ver os outros a acabar mas também ao pensar que nunca tinha corrido mais de 15Km e a partir dali era tudo novo para mim.

 

Ia com estes meus pensamentos e ouço: “Natááália”, era o meu marido. “Mamãããã” o meu filho mais velho. Ao vê-los ganhei logo outra força. Endireitei-me, respirei fundo e coloquei um sorriso. No próximo Km só pensaria neles e como era bom tê-los ali.... Mas entretanto fui outra vez abaixo, é que nunca mais dava a volta no Dafundo para vir para trás, e os meus joelhos e gémeos estavam a doer muito....aí valeu-me a companheira de corrida que dizia, “Vá Natália, já falta pouco, não podemos desistir! Hoje sou eu a puxar por ti!”. Sim, porque normalmente sou eu que ando sempre aos gritos com ela nos treinos para fazermos melhores tempo, tipo regime militar.


 

E lá demos a volta, agora já faltava pouco. Entretanto vemos a nossa Joana, que se dirigia para o Dafundo, e foi um alivio ver que ela continuava na corrida para terminar a Meia. Voltámos a passar pelos meus Homens, mais um grito de alento e lá me enchi de ganas! Já faltava tão pouco, estava quase,  quase a ser Meia Maratonista! Bolas isso é muita fruta, pelo menos para mim.

 

E assim, passado duas horas e meia de ter iniciado esta odisseia, com esta mescla de sentimentos, passei a meta! UAU, consegui!

Devo confessar que a primeira chamada que fiz foi para os meus pais, que estavam doentes de preocupação: “ Mãe, só para te dizer que já acabei e não morri! Estou cansada, mas estou bem!”.Próximo objetivo? Fazer mais Meias Maratonas e melhorar o meu tempo. 


Mas uma coisa eu percebi, não há impossíveis! É tudo uma questão de cabeça.

 

Ter um Pai corredor...

Talvez a mais marcante história de amor no mundo da corrida, está patente na família Hoyt. Esta é a história de um pai e de um filho (nascido com uma paralisia cerebral) que contra tudo o que era expectável, demonstraram que quando há amor a imaginação é o limite. Juntos  correram entre muitas outras corridas, cerca de 70 maratonas, das quais 30 de Boston e 6 Ironmans, conseguem imaginar? Se tiverem curiosidade podem ver video "Journey of life together" que resume um pouco das suas histórias.

 

Ter crescido a ver o meu pai a correr, sempre foi para mim motivo de grande inspiração, não que isso tenha servido de muito, dado que depois de em miúdo ter corrido algumas provas o meu regresso à corrida só se dá em 2011.

 

Assim, resumir o percurso desportivo do meu pai, é regressar à sua infância, época em que tinha de fazer 6km de Trail Running em pleno coração da Serra da Lousã, simplesmente para poder ir à escola, que ficava na aldeia mais próxima. A propósito disto um dia perguntei “mas porque raio iam a correr?” e a resposta foi “porque eramos miúdos e dava um gozo enorme descer a encosta numa pirisga até os sapatos ganharem lume”. Soa a familiar?

 

Junto com Trail Running,  não nos podemos esquecer da moda minimalista/barefoot muito em voga nos anos 50, onde era comum ver os miúdos usarem sapatilhas com drop 0mm, sendo que o meu pai muito trendy não fugiu à moda,

 

Na prática, o seu percurso no atletismo deverá ter começado por volta dos 28 anos, onde em conjunto com um grupo de amigos fundaram uma Running Crew (sim naquela altura já existiam running crews). 10 amigos, diferentes ritmos, diferentes idades e todos naquele estilo inconfundível, de camisola de alça igual, calção curto e meia branca, mas que religiosamente treinavam juntos terças, quintas e competiam ao Domingo (e tudo sem a necessidade de criar eventos no FB).

 


Naquela altura, as corridas eram na sua esmagadora maioria gratuitas, organizadas por clubes de bairro ou associações desportivas e onde todos os atletas recebiam uma camisola e uma medalha. A grande distinção eram os primeiros classificados que tinham direito a taças e para um número determinado de atletas um ambicionado medalhão (alguém ainda sabe o que é um medalhão?).

 

Tempos? sim eram todos muito competitivos lutavam por sair da frente da corrida, geriam o ritmo pelos seus old school relógios Casios que entre outras proezas tinham a fantástica capacidade de cronometro. (1:24 foi o tempo da primeira meia maratona do meu pai… o meu record atual está em 1:43…)

 

Agora com 66 anos, é o meu orgulho e inspiração, pois além da idade e da barriga que já pesam ainda tem a força, a resiliência e a sabedoria para entre outras coisas  dar bigode a corredores com metade da idade dele.

Feliz dia do Pai… Pai! hoje quando chegar do trabalho querem adivinha o que vou fazer com ele??? :)