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Correr na Cidade

Rumo à 1ª Maratona – A concretização

 

Por Nuno Malcata

 

Após a estreia internacional em Ayamonte, Espanha, com recorde pessoal na Meia Maratona, a 1 mês da Maratona de Sevilha, a preparação chegou ao topo com um treino series de 24x 400m, que considero ter sido o melhor treino do último ano, senti-me muito bem, com muita força, fazendo as series em ritmo progressivo e terminei a sentir que tinha dado tudo e com sucesso.

 

No dia seguinte num simples treino de 1 hora senti uma ligeira dor no joelho esquerdo, foi o início de um grande problema. Após o treino o joelho inflamou e a perna esquerda deixou de dobrar.

 

A praticamente a três semanas da Maratona, vi-me impossibilitado de terminar o plano de preparação da melhor forma, mesmo com medicação e tratamento local, a dor persistia.

 

Confesso que desanimei um bocado, após tanto trabalho realizado, via a estreia na Maratona colocada em causa, porque se é importante a concretização dos objetivos a que nos propomos, mais importante é a nossa integridade física.

 

Após nova avaliação da passada, embora seja neutro, o pouco de pronação que tenho, associado ao peso que coloco na frente do pé a correr, aliado à carga de treinos do plano de treinos, podia ser a razão da inflamação, pelo que a decisão foi fazer palmilhas especificas para evitar o peso excessivo no joelho. Com alguns treinos de adaptação, e palmilha corrigida, o joelho deu algumas tréguas na semana anterior à Maratona.

Decidido então ir a Sevilha sem expectativas, iria fazer o que fosse possível da prova, e caso o joelho deixa-se, terminar.

 

Partida para Sevilha na véspera da prova. Se o dia da estreia da Maratona ficará na minha memória, a véspera ficará tão ou mais marcada em mim do que o próprio dia. A minha Crew do Correr na Cidade fez-me uma surpresa e cada elemento da Running Family presenteou-me com uma mensagem de motivação que me encheu o coração e me fez esquecer qualquer receio que pudesse haver relativo ao joelho.

 

Efetuados todos os preparativos para a manhã do dia seguinte, faltou aquilo que qualquer atleta deveria fazer na véspera de uma Maratona: dormir convenientemente. Por mais que quisesse, a cabeça não parava, se dormi duas horas, foi muito.

 

Saí da cama era 06:30, para às 07:00 ter o pequeno-almoço tomado. O receio de comer algo que me caísse mal era tanto que pouco comi do pequeno-almoço do hotel, levei para Sevilha tudo o que me habituei nos meses de preparação e fiz um belo batido de banana, gengibre, aveia, linhaça, goji, canela, mel, pó de guaraná e bebida de aveia. 

 

 

Bem alimentado, vestido a rigor, parti com a minha mulher Joana para o local da partida. Escolhi um dos hotéis mais perto do Estádio Olímpico, pelo que foi só seguir os muitos atletas que se dirigiam para o local da partida. Chegando próximo do estádio o ambiente era vibrante, com os atletas a aquecer, alongar, muita animação entre participantes e apoiantes, uma verdadeira festa.

 

Feita a despedida à Joana, que partia para o Km15 para abastecimento personalizado, foi hora de me colocar na minha secção da partida. Ao avançar um pouco entre os atletas deu para perceber a quantidade enorme de caras conhecidas de atletas portugueses presentes, dá mesmo para sentir que estamos em casa.

 

Pouco antes de arrancar, primeira atrapalhação da prova, o raio do Mp3 não queria colaborar com os phones. Antes da prova uma das dúvidas que tive era se valeria a pena levar musica, ao longo da preparação desabituei-me de andar sempre com música, mas achei que para 4 horas de prova seria bom ter um ritmo no ouvido para algumas fases.

 

Início da Maratona, muitos sorrisos nos rostos, foi a imagem com que fiquei, uma imensidão de felicidade estampada nos rostos de quem inicia a concretização de um objetivo tão grande para muitos.

 

Comecei a prova muito trapalhão, a perceber o primeiro erro cometido, não ter levado qualquer bolsa para os géis, como fazia nos treinos longos. Arranquei com dois géis, para os cinco e 10Km, sem sítio para os colocar, levava-os nas mãos. Com a guerra inicial para por o Mp3 a trabalhar, três coisas para 2 mãos, uma verdadeira trapalhada.

 

Ao Km 2 desisti do Mp3, e foi o melhor que fiz, nem ia a disfrutar da prova e do ambiente fantástico e a passada trapalhona só me estava a prejudicar o joelho.

 

Acertei com um ritmo certinho e muito confortável, e entre atletas com ritmo mais rápido ou mais lento encontrei pequenos grupos onde dava para ir integrado.

 

Aos Km 10 ia com bom ritmo, mas desconfortável, o joelho estava estranho, o anti inflamatório estava a impedir que ele deixasse de dobrar, mas o que sentia no mesmo era muito desagradável. Para piorar, a bolha que fiz na adaptação das novas palmilhas começou a doer, mesmo protegida com penso próprio. Ao Km 12 pensei seriamente que ao Km 15 iria parar.

 

O Km 14 foi um km quase mágico, verdadeiramente emocional. Toda a prova tem um apoio brutal do muito público, mas neste km passamos entre uma multidão de pessoas que aplaudiam e apoiavam todos os atletas, e entre tanta emoção as dores do joelho e bolha simplesmente desapareceram.

 

Pouco antes do Km15 procuro no meio da multidão a minha cara-metade e lá a encontro. Deixo o Mp3 e phones e agarro em mais 2 géis para os km 15 e 20. Neste momento passa o pacer para as 4h de prova e como estava com ritmo certinho tento ir no grupo que o acompanha.

 

Entre o Km 15 e a Meia Maratona foi uma das melhores fases da prova, sentia-me bem, e a disfrutar em pleno do trabalho feito na preparação. A felicidade era tanta que ao Km 16 ligo para a Joana para lhe dizer o que não tive tempo no abastecimento, e ao Km 20 até liguei para a minha Mãe que acompanhava como podia a prova via internet.

 

 

Cruzei o portal da Meia Maratona com um sorriso bruto, um pouco abaixo das 2h de prova, leve e com ganas para fazer uma segunda parte tão boa ou melhor que a primeira.

 

Perto do Km 23, voltam as dores na bolha do pé, dores muito agudas que faziam cada passada ser agoniante. É nestes momentos que a abstração ao sofrimento é importante e a preparação dura torna-nos mais fortes nestes momentos difíceis. Todo o ambiente e motivação dada por colegas atletas ou público é também fundamental para ultrapassar estes obstáculos ao longo do percurso.

 

 

Ao Km 25 recebi o segundo abastecimento personalizado pelo GFD, géis, água e incentivo que deram mais um boost de energia. Concluí também que a bolha deve ter rebentado porque as dores sumiram de novo e a boa disposição voltou.

 

Pouco antes do Km 30 senti a primeira sensação de verdadeiro cansaço, o ritmo naturalmente baixou uns segundos, nada de preocupante.

Sendo a estreia na Maratona desconhecia a confusão que se gera em cada zona de abastecimentos, a cada 2,5Km há bancadas com copos com água e em alguns com bebidas açucaradas. Dado o meu ritmo lento, com o passar dos km cada abastecimento se torna mais caótico, com milhares de copos espalhados pelo chão e cada vez mais atletas a parar abruptamente em vez de agarrarem nos copos e seguirem para não atrapalhar.

 

No abastecimento do Km 27,5 comecei a ter sérias dificuldades em passar pela zona de abastecimento e tive de fazer uma travagem brusca porque um atleta parou de repente à minha frente, foi como se me tivessem dado uma martelada no joelho. Este foi o meu “Homem da Marreta”, já me tinham avisado que ele deveria aparecer, nunca achei que fosse um colega atleta.

 

 

 

 

Nos abastecimentos do Km 30 e 32,5 nem me aproximei das mesas, mas a dificuldade de encontrar um caminho limpo era tanta que nem fugindo das mesas era possível correr sem o risco de escorregar no mar de copos espalhados pelo chão.

 

Com o gel consumido ao Km 30, sem beber agua no abastecimento respetivo, ao Km 31 tive de recorrer a um casal espanhol que gentilmente me cedeu uma garrafa de água que me soube pela vida e me acompanhou até perto do Km 35, obrigado a eles que abdicaram da sua água e do bebé que com eles estava. 

 

Infelizmente o pior da Maratona começou ao Km 33. Depois da paragem abrupta aos 27,5Km, e das zonas de abastecimento dos 30Km e 32,5Km, o joelho começou a deixar de dobrar e as dores começaram a ser muito complicadas de gerir.

 

Gerindo da forma que podia as dores, baixando o ritmo cerca de 30s em relação ao ritmo dos primeiros 28Km, cheguei ao Km 35, onde sabia que estaria a Margarida que me acompanharia nos últimos Kms da prova. Nesta fase muito complicada, fui buscar forças a todo o incentivo que recebi e lembrei-me muito dos companheiros de treino do GFD, do apoio de amigos e família e muito nos companheiros de Crew que em Portugal estavam a participar na Corrida da Árvore, mas estiveram sempre comigo.

 

 

Embora o apoio da Margarida tenha sido fundamental para não parar logo ao Km 35, o empedrado das ruas tornaram cada passada insuportável, o joelho deixou de dobrar quase completamente e cada passada traduzia-se numa dor enorme. Com o Km 37 chegou a decisão mais difícil, parei, avaliei o joelho e não dava para correr mais.

 

Na entrada no estádio Olímpico, decido tentar correr um pouco. No túnel de acesso abortei a tentativa, mas assim que pisei a pista arranquei com o passo possível de corrida.

 

Sabia que a Joana estava nas bancadas, perto da meta, tentei encontrá-la na reta da meta entre o público que aplaudia entusiasticamente os atletas que chegavam. Entre alegria, frustração, emoção e felicidade cruzei a meta, era Maratonista!

 

 

 

Correr em grupo

 

E ontem às 20h30m no local combinado, e enquanto o Benfica jogava, cerca de 27 pessoas juntaram-se para correr. Foi o 2ª treino aberto de 2014 do Correr na Cidade.

 

Mas também podia escrever que foi um grupo de pessoas apaixonadas pela corrida que se juntou para correr, tão simples como isso. E foi muito agradável. Deu tempo para falar, para tirar algumas dúvidas sobre corrida, da meia maratona que aí vem, dos melhores tempos e dos maiores receios na corrida. A crew dividiu-se e não deixou os corredores sozinhos, dos mais lentos aos mais rápidos.Foi bom.

 

Os treinos abertos voltam na 2ª quinta feira de abril, mais concretamente no dia 10 de abril. Aqui publicamos as fotos feitas pelo Nuno Malcata que embora a recuperar de uma lesão no joelho, não parou quieto, sempre de um lado para o outro com a sua bicicleta para captar estes momentos. Mais fotos do treino de ontem aqui.